Detalhes da proposta

Mapeamento e registro memorial de benzedeiras e uso de plantas medicinais por idosas residentes na região no Jequitinhonha”,

Sobre a Proposta

Tipo de Edital: Procarte

Situação: Aprovado


Dados do Coordenador

    Nome do Coordenador

    josiane moreira da costa

    Número de inscrição:

    202520220254481564

    Unidade de lotação:

    departamento de farmácia-bioquímica

Caracterização da Ação

    Área do Conhecimento:

    linguística, letras e artes

    Área temática principal:

    cultura

    Área temática secundária:

    cultura

    Linha de extensão:

    artes visuais

    Abrangência:

    regional

    Vinculado a programa de extensão:

    encontro de saberes: construindo pontes e ações entre os saberes de matrizes indígenas, afrodescendentes e populares com a produção do conhecimento científico

    Gera propriedade intelectual:

    Sim

Membros

maria eduarda silva Bolsista

paula cristina silva Vice-coordenador(a)

josé cláudio luiz nobre Voluntário(a)

andré rodrigo rech Voluntário(a)

kelly cristina kato Voluntário(a)

eduardo de jesus oliveira Voluntário(a)

juliana couto nascimento Voluntário(a)

Resumo

A presente proposta possui o objetivo de desenvolver um material artístico e técnico sobre as práticas de benzeduras e uso de plantas medicinais por mulheres do Vale do Jequitinhonha. O que se pretende, dessa forma, é realizar um mapeamento de benzedeiras e outras mulheres que utilizam as plantas medicinais como uma forma de transmitir cuidado, cultura, arte e história. O processo de construção do material visual, no formato de catálogo, consistirá nas seguintes fases: 1) Mobilização de atores sociais que possuem inserção em comunidades quilombolas do alto do Jequitinhonha, 3) Realização de abordagens às mulheres e respectivas comunidades, no intuito de apresentar o projeto, 4) Realização de entrevistas com o intuito de documentar a experiência vivida por cada entrevistada, e que aborde o encontro com a prática de benzeduras e uso de plantas medicinais, o exercício da prática e a transmissão da habilidade, 4) Realização de registro fotográfico das participantes, 5) Realização da análise do material e organização do material coletado, além de realização de registro sobre informações científicas que envolvem o processo histórico e informações técnicas sobre o as plantas medicinais envolvidas nos relatos. O que se pretende, dessa forma, é a elaboração de um material que proporcione um encontro entre a cultura de benzeduras, uso de plantas e a universidade. Espera-se que o produto seja imbuído de uma linguagem acessível e capaz de proporcionar o encontro entre a universidade e sociedade, contribuindo para a preservação da história.


Palavras-chave

Plantas Medicinais, Cultura Popular, Patrimônio Imaterial


Introdução

As rezadeiras, conhecidas como benzedeiras, estão presentes na história de Minas Gerais desde seus primórdios, existindo muitos relatos sobre o uso das benzeções no tratamento da população. O ofício de curar pela fé ultrapassou o tempo e persiste em pontos isolados da cidade. Os praticantes desse saber ainda atuante em Belo Horizonte são herdeiros de uma tradição que liga o presente ao passado local. São guardiões de uma manifestação cultural que se perpetuou desde épocas remotas. Ressalta-se que as benzeduras se concretizam como uma prática sincrética de religiões de matrizes africanas, católicas e indígenas. Em geral, as práticas das benzeduras incorporam o uso de chás, plantas e unguentos com ervas locais, geralmente cultivadas e colhidas por essas pessoas. Essas mulheres apresentam-se como um marco de resistência temporal à todo o processo de atravessamento trazido pela colonização, seguido da industrialização/modernização das práticas médicas e uso abusivo de tecnologias digitais. Nas comunidades quilombolas, as pessoas com habilidades de benzer são reconhecidas como sábias e geralmente são muito respeitadas, sendo a prática de benzer passada entre diferentes gerações. O que se tem, desse modo, são práticas que ainda sobrevivem, apesar de historicamente estarem cada vez mais escassas, pois, aos poucos, o ofício de benzer vai deixando de existir por razões culturais e de valores, como a crença cada vez maior na ciência médica. Também destaca-se o uso de chás à partir de plantas medicinais como uma prática disseminada na população. Essa é vista como uma forma de incorporação de aspectos ancestrais que é mais facilmente aceita na contexto social do mundo moderno. Apesar de bem difundida, a prática de uso de chás atualmente é bastante contestada pela medicina moderna, tornando-se muitas vezes um ponto de conflito para aqueles que utilizam essa prática no sentido de” preservar hábitos históricos e familiares ou enxergar essa prática ou “se render ao cumprimento da prescrição advinda da medicina moderna”. Dessa forma, entende-se que “re”conhecer as práticas das benzeduras e realizar o registro de um patrimônio imaterial contribuirá para uma ressignificação e autoidentificação social dessa práticas. A produção de um material artístico visual pode contribuir para “dar voz” aos excluídos, proporcionar entendimento e reconhecimento de uma prática cultural ainda cercada de preconceitos, promover intercâmbios e troca de saberes, além de sensibilizar o universo acadêmico sobre a necessidade de incorporação de aspectos sócio-culturais na forma de ser universidade.


Justificativa

O presente trabalho propõe, por meio da elaboração de um material artístico visual que proporcione um encontro e ressiginificação entre a cultura das benzedeiras e uso de chás, a universidade e a sociedade em geral. Destaca-se â importância de valorizar e destacar o protagonismo das mulheres envolvidas, considerando que muitas residem em comunidades quilombolas que vivenciam dificuldades no acesso à educação, saúde, saneamento assim como dificuldades na acessibilidade geográfica, caracterizando-se como uma das comunidades com menores índices de desenvolvimento humano da região do vale do Jequitinhonha. Pesquisas desenvolvidas em comunidades quilombolas no Vale do Jequitinhonha (SOARES, 2012; SIMÕES, 2024; GONÇALVES, 2016; LEUCHTENBERGER, 2016; COSTA, 2017; SANTOS, 2018; SILVA, 2020; FERRAZ, 2023) demonstram o apagamento histórico e a luta por acesso a direitos básicos, como a demarcação de terras e a permanência dos quilombolas em seus territórios, o acesso à saúde e à educação. Acredita-se que a partir do mapeamento de saberes e aspectos culturais – relacionados às práticas de benzeduras, das mulheres, atrizes sociais destes territórios, os resultados poderão contribuir para o estabelecimento estratégias de comunicação, incorporação e divulgação destes saberes, valorizando-os, contribuindo para mudanças nas percepções e comportamentos das pessoas do território em relação ao uso racional de medicamentos, gerando melhores resultados em saúde. O produto da presente proposta é um catálogo que comtempla fotografias e relatos das benzedeiras e mulheres que utilizam chás, além de um registro histórico e técnico sobre o uso das plantas. Por meio da arte, o que se propõe é um encontro efetivo entre o contexto do mundo real extra muros com as ciências biológicas, humanas e a sociedade, um encontro de saberes. Levando em consideração a diretriz Interação Dialógica presente na Política Nacional de Extensão, que trata da produção de conhecimento junto à sociedade, de forma a contribuir para a superação da desigualdade e da exclusão social, em busca de uma sociedade mais justa, ética e democrática, o processo de construção desse material artístico se dará de forma coletiva, permitindo articulação entre diferentes áreas de saber com a história das mulheres participantes. Ressalta-se que o produto contribui para o registro de um patrimônio imaterial, valorização da cultura afro e quilombola, além da valorização dos saberes e fazeres de mulheres residente em uma região de alta vulnerabilidade social. Também destaca-se que o uso da fotografia contribui para o acesso àqueles que não possuem habilidades de leitura, permitindo o reconhecimento visual da história.


Objetivos

Geral: Elaborar um material artístico visual que contenha o registro das benzedeiras e práticas de uso de chás a partir de plantas medicinais no alto do Jequitinhonha Objetivos específicos: Identificar algumas benzedeiras da região Realizar o registro fotográfico e por meio de gravação das benzedeiras e demais mulheres que utilizam chás de plantas medicinais Elaborar o material visual como forma de registrar o patrimônio imaterial de forma a contribuir para o fortalecimento dos saberes popular


Metas

Realizar identificação de benzedeiras na região do alto do Jequitinhonha em até 3 meses do início do projeto; Realizar entrevistas e registros fotográficos em até 7 meses do início do projeto; Realizar e organização do material em até 9 meses do início projeto, Finalizar o produto final (material artístico visual) em até 12 meses do início do projeto.


Metodologia

A metodologia para elaboração do material, envolve a articulação entre pesquisa-ensino-extensão, envolvendo as atividades de docentes de diferentes áreas do conhecimento – Ciências da Saúde e Humanidades - e seus discentes. Inspirada numa concepção freiriana e dialógica, ocorrerá nas seguintes fases: 1) Mobilização de atores sociais que possuem inserção em comunidades quilombolas do Alto do Jequitinhonha. 2) Realização de abordagens às mulheres e respectivas comunidades, no intuito de apresentar o projeto, 3) Realização de entrevistas com o intuito de documentar a experiência vivida por cada entrevistada, e que aborde o encontro com a prática de benzeduras e uso de plantas medicinais, o exercício da prática e a transmissão da habilidade, 4) Realização de registro fotográfico das participantes, 5) Realização da análise do material e organização do material coletado, além de realização de registro sobre informações científicas que envolvem o processo histórico e informações técnicas sobre o as plantas medicinais envolvidas nos relatos.


Referências Bibliográficas

COSTA, Tiago Geisler Moreira. A comunidade de Queimadas frente à expansão minerária no Alto Jequitinhonha: a defesa de um território. Dissertação (Mestrado Profissional em Sustentabilidade junto a Povos e Terras Tradicionais). Universidade de Brasília. Brasília. 2017. FERRAZ, Janaíne dos Anjos. A educação escolar quilombola e histórias “outras” no currículo de História da UFVJM. Trabalho de Conclusão de Curso. Graduação em Licenciatura em História. Faculdade Interdisciplinar em Humanidades. Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. 2023. FREIRE, Paulo e NOGUEIRA, Adriano. Que Fazer, teoria e prática em educação popular – Petrópolis: Ed. Vozes, 1989. FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? 7ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983. GONÇALVES, Waldicleide de França Santos. Comunidades quilombolas na Constituição Federal de 1988: desafios na construção de políticas públicas implementadoras de direitos fundamentais “multiculturais” - um estudo de caso em Serro/MG. Dissertação (Mestrado Profissional Interdisciplinar em Ciências Humanas). Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Diamantina. 2016. LEUCHTENBERGER, Ramoci. Representações sociais de mulheres quilombolas sobre gestação, parto e puerpério e suas práticas de cuidado em saúde reprodutiva. Dissertação (Mestrado Profissional em Sáude, Sociedade e Ambiente. Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Diamantina. 2016. SANTOS, Suelen Alves dos. Vozes em disputa: a educação escolar a partir da atuação do Conselho Municipal do Desenvolvimento Social das Comunidades Quilombolas de Serro/MG. Dissertação (Mestrado em Educação). Faculdade de Educação. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte. 2018. SILVA, Jairza Fernandes Rocha da. Deslocamentos identitários de gênero e raça de professoras negras na Educação Escolar Quilombola em Minas Gerais. Dissertação (Mestrado em Educação). Programa de Pós Graduação em Educação. Faculdade de Educação. Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 2018 SILVA, Paula Cristina. “Aqui é tudo uma família só”: maternidade e práticas culturais de um grupo de mulheres em uma comunidade quilombola no Alto Jequitinhonha. Tese (Doutorado em Educação). Faculdade de Educação. Universidade Federal de Minas Gerais. 2020. SIMÕES, Everton Machado. África banta na região de Diamantina: uma proposta de análise etimológica. Dissertação (Mestrado em Semiótica e Linguística Geral). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo. São Paulo. 2014. SOARES, Patricia Barros. Usos sociais da leitura e da escrita em uma comunidade quilombola – Alto Jequitinhonha/MG. Belo Horizonte, 2013. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Educação.


Inserção do estudante

Estudantes dos cursos de Biologia, História, Enfermagem, Farmácia, Pedagogia


Observações

O presente projeto de torna relevante ao valorizar a cultura popular, com ênfase â cultura dos povos originários e por valorizar as mulheres benzedeiras e ou raizeiras, advindas de um contexto histórico periférico e marginalizado, Além disso, a relevância desse projeto se traduz na produção de incômodo e movimento entre a universidade e comunidade. No campo da universidade, o projeto exigirá a articulação de diferentes áreas de saberes para, a partir dos objetivos traçados alcançarem o produto final da proposta. Isso exigirá o surgimento de inquietações encontros, desencontros e reencontros entre essas áreas, acreditando-se que o caminho percorrido levará â uma maior maturidade e experiência na construção da interdisciplinaridade. Em relação à dialogicidade comunidade e universidade, espera-se que esse encontro gere problematização e ressignificação, sendo que o produto final, como produção artística e cultural poderá atingir outros muros e contribuir para diferentes reflexões sobre a nossa "re"construção histórica de saberes, assim como adoção desses saberes no campo da universidade. Destaca-se ainda, que o material contemplará as informações culturais (coletadas por meio dos relatos) e científicas (produzidas pela universidade), proporcionando sendo uma forma de registrar, por meio artístico, os encontros, desencontros e reencontros, como já abordados anteriormente, entre ciência, cultura e arte.


Público-alvo

Descrição

O material final poderá ser disponibilizado em meio digital e ou ser impresso, de forma que atinja pessoas residentes em diferentes regiões do país com interesse na obra.

Descrição

Esse público se refere às mulheres cujas histórias serão compiladas e inseridas no produto final.

Municípios Atendidos

Município

Diamantina

Município

Gouveia

Parcerias

Participação da Instituição Parceira

A Casa do Elefante é reconhecida pr ser uma meio de mobilização e fortalecimento das comunidade quilombolas, sendo um parceiro que poderá contribuir na identificaçãod as benzedeiras e estabelecimento de um diálogo inicial.

Participação da Instituição Parceira

A secretaria Municipal de Saúde de Gouveia caracteriza-se como um parceiro inicial, que entende a importância do projeto e se propõe a contribuir na mobilização dos atores residentes na comunidade quilombola do Espinho.

Cronograma de Atividades

Periodicidade Anualmente
Descrição da Atividade

Identificação das mulheres participantes

Periodicidade Anualmente
Descrição da Atividade

Realização das entrevistas e registros fotográficos

Periodicidade Anualmente
Descrição da Atividade

Organização da material

Periodicidade Anualmente
Descrição da Atividade

Elaboração e entrega do produto final.