Este projeto de extensão visa promover a conscientização e o desenvolvimento de práticas sustentáveis na infraestrutura rural do Projeto de Assentamento Boa União, localizado na cidade de Unaí – MG. Com foco em comunidades rurais carentes, o projeto utilizará o bambu como material construtivo. Reconhecido por suas propriedades sustentáveis e versatilidade, o bambu é um recurso natural abundante, de boa resistência mecânica e de baixo custo e será utilizado para oferecer soluções construtivas que atendam às necessidades de instalações rurais dessa comunidade. Além disso, o projeto visa implementar práticas ecológicas que reduzam o impacto ambiental causado por materiais construtivos convencionais, promover a valorização do espaço comunitário, proporcionar ambientes funcionais e fomentar a autoestima e a autonomia dos produtores rurais. Serão ofertadas oficinas na própria comunidade, onde serão abordadas as seguinte tématicas: criação de espaços de diálogo onde os produtores rurais possam compartilhar suas experiências e desafios; práticas em bioconstruções e manejo do bambu, capacitando a comunidade local com habilidades técnicas e conhecimento sobre práticas sustentáveis; incentivo para elaboração de projetos coletivos que atendam às necessidades específicas da comunidade e criação de ambientes não somente físicos mas que também tenham cunho sociocultural.

Bambu, assentamento rural, bioconstruções

O bambu, por ser um material natural, abundante e renovável, oferece uma alternativa eficiente aos materiais de construção convencionais, como o concreto e o aço, que são mais caros e têm maior impacto ambiental. Além disso, o bambu possui uma boa resistência mecânica, flexibilidade e durabilidade, características ideais para construções em comunidades rurais. Uma das principais vantagens do uso do bambu em comunidades rurais é seu baixo custo. Como o bambu pode ser cultivado localmente, ele reduz a necessidade de transporte e os custos associados à compra de materiais industrializados. Isso torna a construção mais acessível para populações de baixa renda. Outra vantagem importante é a rapidez de crescimento do bambu, o que permite uma renovação rápida dos estoques de matéria-prima, garantindo a sustentabilidade da construção a longo prazo. As técnicas de bioconstrução permite a sua utilização em pequenas construções, como cercas e galpões, quanto em projetos mais complexos, como casas e centros comunitários, podendo ser utilizado em combinação com outros materiais naturais, como a terra e a palha, reforçando o caráter ecológico das construções. No aspecto ambiental, o uso do bambu em construções reduz significativamente o impacto ecológico, uma vez que sua produção gera menos emissões de carbono e consome menos energia do que a fabricação de materiais convencionais. Além disso, as construções em bambu são adequadas para o clima de muitas regiões rurais, proporcionando conforto térmico e melhorando a qualidade de vida dos moradores.

A condição dos assentados da reforma agrária no Brasil é marcada por desafios significativos, incluindo acesso limitado a recursos, infraestrutura precária e a necessidade de práticas sustentáveis que garantam a subsistência e a dignidade das comunidades rurais (CAMPOS, 2020; OLIVEIRA, 2021). Nesse contexto, a universidade desempenha um papel fundamental ao promover ações de extensão que integram ensino, pesquisa e prática comunitária (FREIRE, 2022). Com isso, este projeto de extensão visa não apenas a conscientização sobre a importância da sustentabilidade, mas também o desenvolvimento de práticas construtivas inovadoras utilizando o bambu, um material acessível e ecológico (SILVA, 2019). Por meio de oficinas e espaços de diálogo, busca-se capacitar os assentados, valorizando seus conhecimentos e fomentando a autonomia e a criação de ambientes que atendam tanto às suas necessidades físicas quanto socioculturais (PEREIRA, 2023). Assim, a iniciativa se propõe a transformar desafios em oportunidades de aprendizado e colaboração, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida na comunidade.

O projeto tem como objetivo promover a conscientização e o desenvolvimento de práticas construtivas sustentáveis em bambu na infraestrutura rural do Projeto de Assentamento Boa União, localizado na cidade de Unaí – MG. Os objetivos específicos são: - Oferecer oficinas práticas de manejo e construção com bambu para os moradores do assentamento; - Implementar práticas de construção que utilizem recursos naturais renováveis e que contribuam para a redução do impacto ambiental na comunidade; - Estabelecer um intercâmbio de saberes entre a comunidade acadêmica e a comunidade rural do assentamento Boa União; - Identificar problemas, compartilhar soluções e gerar impacto positivo no cotidiano dos assentados; - Incentivar a participação ativa de estudantes e professores da UFVJM nas atividades de extensão alinhando a formação acadêmica com as necessidades da população local; - Fomentar a autonomia dos assentados por meio da valorização do conhecimento local; - Promover o diálogo, a cooperação e o desenvolvimento de projetos coletivos que atendam às necessidades específicas da comunidade

- Realizar pelo menos 2 encontros entre a comunidade acadêmica e os assentados para identificar as necessidades construtivas da comunidade; - Oferecer ao menos 6 oficinas práticas de manejo e técnicas construtivas com bambu; - Produzir, ao final das oficinas, pelo menos uma estrutura sustentável construída com bambu na comunidade; - Realizar a confecção de mudas de bambu de espécies apropriadas à construção civil e distribuí-las na comunidade; - Envolver os discentes dos diferentes cursos do Instituto de Ciências Agrárias - UFVJM nas ações realizadas no assentamento; - Divulgação dos resultados em simpósios e congressos.

O projeto de extensão será realizado no Projeto de Assentamento (PA) Boa União, localizado na cidade de Unaí/MG. O assentamento possui 4.010 hectares e abriga 100 famílias. Os encontros, oficinas e confecção da estrutura construtiva serão realizadas no Barracão Comunitário do assentamento. Para os encontros será utilizada a metodologia participativa, visando envolver ativamente os membros da comunidade no processo de planejamento, execução e avaliação do projeto. A metodologia participativa fortalece a interação entre pesquisadores e comunidades, promovendo um diálogo que valoriza o conhecimento local e contribui para a construção de soluções adaptadas às realidades específicas de cada assentamento (Dagnino, R.; 2006). Para as oficinas práticas de manejo e técnicas construtivas com bambu serão utilizadas colmos de bambu de espécie apropriada para construção civil (Dendrocalamus asper). Os colmos serão retirados das touceiras localizadas na Área de Bioconstrução Rural", localizada na Fazenda Experimental Santa Paula (FESP) do Instituto de Ciências Agrárias - UFVJM. Os colmos serão tratados com ácido bórico, aumentando assim a durabilidade e resistência a pragas e fungos. O uso do ácido bórico é favorável por ser menos tóxico em comparação com outros conservantes, como o cromato de cobre arseniato (CCA). Ele é considerado mais seguro para o meio ambiente e para a saúde humana, o que o torna uma opção viável para construções sustentáveis. Nas oficinas práticas serão abordados o plantio, colheita e tratamento de bambu, cortes e junções específicas para bambu. Serão utilizadas ferramentas elétricas e manuais de marcenaria do Laboratório de Projetos e Desenvolvimento de Protótipos do Instituto de Ciências Agrárias. - ICA/UFVJM. Ao final do projeto será confeccionado o relatório final e resumo e artigo para simpósios e congressos.

Campos, R. (2020). A condição dos assentados da reforma agrária no Brasil: desafios e oportunidades. Brasília: Editora Universidade de Brasília. Dagnino, R. (2006). Metodologias Participativas em Assentamentos Rurais: Reflexões e Experiências. In: A. D. De Oliveira, A. S. de Andrade, & G. L. de Almeida (Eds.), Agricultura Familiar e Desenvolvimento Sustentável (pp. 129-150). Brasília: Embrapa. Freire, P. (2022). Educação e extensão: A prática do conhecimento na comunidade. Belo Horizonte: Editora UFMG. Oliveira, J. (2021). Acesso a recursos e infraestrutura na reforma agrária brasileira. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. Pereira, A. (2023). Autonomia e saberes locais: O papel das práticas sustentáveis na comunidade rural. Rio de Janeiro: Editora FGV. Silva, M. (2019). Bambu como material construtivo: Sustentabilidade e inovação. Curitiba: Editora UFPR.

Os estudantes do ICA/UFVJM, participantes do projeto, poderão atuar como facilitadores nas oficina e encontros, ajudando a conduzir discussões, demonstrar técnicas de bioconstrução e manejo do bambu, e apoiar os membros da comunidade na prática de habilidades sustentáveis. Essas atividades poderão envolver diferentes áreas de conhecimento (engenharia agrícola e ambiental, agronomia e zootecnia), permitindo que os estudantes desenvolvam projetos interdisciplinares que beneficiem a comunidade. Ao se envolverem nas atividades práticas, os estudantes terão a oportunidade de aplicar seus conhecimentos teóricos, aprender com as experiências dos produtores rurais e entender melhor a realidade do campo. Além disso, os estudantes poderão participar da coleta e análise de dados sobre as condições atuais da infraestrutura rural e do impacto das práticas sustentáveis implementadas, contribuindo para a avaliação do projeto. Os estudantes ainda participarão da elaboração de relatórios e publicações sobre os resultados do projeto, o que servirá como experiência de pesquisa e formação acadêmica.

A proposta deste projeto de extensão almeja promover práticas sustentáveis que atendam às necessidades dos assentados da reforma agrária, enquanto capacita os participantes e integra o conhecimento acadêmico às realidades do campo. Ao reconhecer e integrar o conhecimento tradicional da comunidade com práticas sustentáveis, o projeto respeita e valoriza as experiências locais, garantindo que as soluções propostas sejam culturalmente adequadas e aceitas pela população. A utilização do bambu como material de construção sustentável representa uma abordagem inovadora que promove a redução do impacto ambiental associado a métodos construtivos tradicionais. Isso contribui para a conservação dos recursos naturais e para a promoção de um modelo de desenvolvimento que respeita o meio ambiente.