O aumento da expectativa de vida e a prevalência de doenças crônicas não transmissíveis – especialmente câncer e doenças neurodegenerativas – geram uma demanda crescente por Cuidados Paliativos (CP) em todos os pontos de atenção à saúde. Esta modalidade terapêutica visa melhorar a qualidade de vida de pacientes com doenças que ameaçam a continuidade da vida, atuando preferencialmente junto ao trinômio paciente-profissional-familiar.

Cuidados Paliativos; Morte; Dignidade; Atenção em Saúde

Os CP buscam a prevenção e o alívio eficaz dos sofrimentos físicos, psicossociais e espirituais (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2002) por meio do atendimento humanizado e interdisciplinar. Nesse contexto, a integração das diversas áreas da saúde é fundamental para um cuidado holístico, abrangendo as diferentes dimensões do sofrimento humano (WHO, 2002). Por meio de uma comunicação assertiva, os profissionais atuam junto aos pacientes e seus familiares (trinômio), buscando alternativas e adequações que visam minimizar sintomas e prolongar sua sobrevida, com qualidade e dignidade (Santos et al., 2019). Este projeto de extensão multidisciplinar de cuidados paliativos no Hospital Nossa Senhora da Saúde (HNSS), em Diamantina – Minas Gerais ambiciona atender às necessidades das pessoas internadas no HNSS, com diagnósticos de doenças avançadas e sem perspectiva de cura (e também de suas famílias), proporcionando alívio impecável do sofrimento e melhorando a sua qualidade de vida. Busca, ainda, desmistificar o Cuidado Paliativo junto à comunidade e proporcionar ações voltadas para a saúde mental dos profissionais envolvidos. Muitas doenças graves e que ameçam a continuidade da vida apresentam manifestações orais que afetam a qualidade de vida dos pacientes (MACHADO et al., 2018), demandando pela atuação direta da odontologia junto ao paciente: condições como xerostomia e dor oral podem comprometer alimentação e bem-estar, demandando manejo específico (Herzberg et al., 2018). Já a enfermagem é central na identificação de alterações clínicas e no suporte emocional, administrando medicamentos e orientando famílias para o processo de finitude (Araújo et al., 2020; Silva et al., 2021), além de prover cuidados relacionados à higiene do paciente. A fisioterapia contribui ao proporcionar conforto e melhorar a qualidade de vida do paciente, utilizando técnicas de alívio da dor e exercícios respiratórios, respeitando as limitações dos pacientes (Pires et al., 2017), tendo a medicina o papel de coordenação desses cuidados, ajustando o plano terapêutico conforme a evolução da doença (Kübler, 2018). Não se pode deixar de lembrar que a nutrição também é crucial na manutenção da saúde da pessoa em CP. Uma dieta adequada pode aliviar sintomas e melhorar a disposição, além de evitar a desnutrição, muito comum em doenças avançadas (BULLO et al., 2018; GOMES et al., 2018).

Os Cuidados Paliativos oferecem uma perspectiva diferenciada da prática clínica tradicional, focada apenas na doença e no saber do profissional. Prevê uma atuação conjunta com o paciente e seus familiares, para o manejo impecável do seu sofrimento - definido por Sanders (1952) como alívio da dor total, abrangendo aspectos espirituais, físicos, sociais e psicológicos relativos aos processo de adoecimento e terminalidade. Nesse contexto, visa auxiliar discentes e profissionais de saúde a conduzirem situações complexas e emocionalmente desafiadoras, como o cuidado de pacientes em fim de vida, de forma embasada e segura, em diferentes pontos de atenção à saúde, seja no ambiente hospitalar e ou na atenção básica. Por prever uma atuação em área ainda incipiente na Instituição de Saúde, e em toda a Rede, poderá impactar diretamente na qualidade de sobrevida dos pacientes, proporcionando conforto e alívio impecável dos sintomas, contribuindo também para a capacitação e a sensibilização acerca dos Cuidados Paliativos.

Objetivo Geral Criar o Programa de Assistência em Cuidados Paliativos, com enfoque multidisciplinar, e envolvendo discentes, docentes e profissionais - de odontologia, enfermagem, fisioterapia, nutrição e medicina - visando à adequação e realização de atendimentos clínicos para as pessoas internadas, com doença grave, progressiva e que ameaça a continuidade de sua vida, focando o alívio impecável dos sintomas e suporte emocional. Objetivos Específicos - Desenvolver ações voltadas para os cuidados paliativos em ambiente hospitalar, a partir da interação teórico-prática, como instrumento de formação complementar dos alunos de graduação; - Incentivar a integração entre os docentes, discentes e profissionais de saúde em atividades práticas e teóricas, objetivando desenvolver a sensibilidade e o profissionalismo para lidar com as doenças que ameaçam a vida e os processos de terminalidade/finitude/morte/luto, - Organizar palestras e workshops ministrados por especialistas na área, docentes e discentes, abordando os cuidados paliativos e sua importância para a saúde coletiva, para maior disseminação de conhecimento junto à comunidade acadêmica e a externa; - Incentivar a produção de artigos científicos e projetos de pesquisa e extensão sobre o tema, com apresentação em congressos e eventos científicos, ampliando o impacto social e o conhecimento sobre os desafios e facilidades da implementação dos cuidados paliativos nos serviços de saúde; - Elaborar conteúdos didáticos e dinâmicos com disseminação de informações - nas redes sociais, como o Instagram da Liga de Cuidados Paliativos (Lacup-UFVJM) – visando ao conhecimento e à sensibilização sobre os cuidados paliativos junto à população.

- Elaboração de Protocolos para o estabelecimento de rotinas de cuidados paliativos contínua no Hospital Nossa Senhora da Saúde (Kübler, 2018). - Melhoria na qualidade de sobrevida dos pacientes através de cuidados paliativos multidisciplinares, por meio de protocolos e atenção individualizada de cada pessoa em CP internada no HNSS (WHO, 2002). - Desmistificar o uso de opioides para o controle da dor junto aos pacientes, familiares e profissionais prescritores. - Reduzir a taxa de incidência de infecções orais e sistêmicas com assistência individualizada aos pacientes internados no HNSS (Herzberg et al., 2018). - Diminuir o tempo de internação com controle adequado de sintomas e orientações seguras para a desospitalização (Santos et al., 2019). - Adequar, sensibilizar e orientar sobre a racionalização do uso de antibióticos, medicações e procedimentos demasiadamente invasivos para as pessoas (Pereira & Melo, 2021), especialmente aquelas em processo ativo de morte.

Constitui foco do Projeto a realização de atendimentos clínicos para as pessoas internadas, com doença grave, progressiva e que ameaça a continuidade de sua vida, focando o alívio dos sintomas e suporte emocional. Inicialmente, as ações específicas referentes a cada área de saúde seguirão o "Manual de Cuidados Paliativos" da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), atendendo às adequações dialogadas com a equipe, frente às necessidades dos pacientes e o contexto hospitalar. No entanto, está prevista a elaboração conjunta do Protocolo de Cuidados Paliativos do HNSS, vez que a padronização das intervenções será fundamental para garantir a qualidade e consistência do atendimento, além de facilitar o treinamento dos profissionais que atuam no setor. Atuarão no Projeto os alunos membros da Liga Multidisciplinar de Cuidados Paliativos da UFVJM (Lacup), e também discentes voluntários que assim desejarem. Prevê-se uma equipe composta por 15 discentes do 4° ao 8° período, sendo três de cada área envolvida: odontologia, enfermagem, fisioterapia, nutrição e medicina, vez que segundo Kurogi (2022), a multidisciplinaridade é essencial para atender de forma abrangente e eficaz às necessidades dos pacientes em Cuidados Paliativos, proporcionando uma troca de saberes e uma atuação coordenada, de forma individualizada. Todos os discentes serão supervisionados por profissionais da área de Cuidados Paliativos do Hospital Nossa Senhora da Saúde, em Diamantina. Para as atividades de promoção de conforto, por área de atuação, junto ao paciente estão previstas: - Odontologia: Prevenção e no tratamento de complicações orais comuns em pessoas com doenças graves e que ameaçam a vida, como xerostomia, infecções bucais e lesões. Herzberg et al. (2018) ressalta a importância dos cuidados odontológicos para a qualidade de vida dos pacientes em cuidados paliativos. - Enfermagem: Avaliação para controle da dor, administração de medicamentos e monitoramento contínuo do estado clínico dos pacientes. o acompanhamento emocional dos pacientes e suas famílias também é uma função crucial (Araújo et al., 2020). - Fisioterapia: Técnicas de mobilização e exercícios respiratórios visam proporcionar conforto e manter a funcionalidade dos pacientes, como sugerido por Pires et al. (2017). - Medicina: Os médicos serão responsáveis pela coordenação dos cuidados, ajustando os protocolos terapêuticos conforme a evolução do paciente (Kübler, 2018). - Nutrição: Elaboração e orientações relacionadas à dieta dos pacientes, considerando a necessidade nutriciona, estado em que se encontra, doenças de bases etc. Estudos mostram que intervenções nutricionais personalizadas são essenciais para atender às necessidades específicas dos pacientes, contribuindo para a recuperação e o bem-estar geral (BULLO et al., 2018). A previsão inicial é atender cerca de 300 pacientes por ano, priorizando aqueles com doenças que ameaçam a continuidade da vida. As atividades voltadas para a capacitação dos discentes participantes e profissionais do serviço incluem: - Palestras e seminários: realizados regularmente, esses eventos têm como objetivo aprimorar o conhecimento sobre os Cuidados Paliativos, abordando temas como manejo da dor, suporte emocional e ética. - Supervisão em campo: Os discentes serão supervisionados de perto por profissionais de saúde do hospital, que fornecerão feedback constante, e pelo docente responsável. - Grupos de discussão: Regularmente os envolvidos no projeto de extensão participarão de discussões em grupo sobre os casos clínicos, dificuldades encontradas e soluções possíveis, promovendo o desenvolvimento do pensamento crítico. Importante mencionar que discentes, profissionais de saúde e docentes supervisores, serão incentivados a produzir artigos científicos, resumos e apresentações para congressos com base nas experiências vividas durante as atividades práticas. Além disso, o projeto utilizará redes sociais, especialmente o Instagram da Lacup, para divulgar metas e resultados alcançados objetivando, assim, conscientizar a comunidade externa sobre a importância e finalidade dos Cuidados Paliativos. O seu monitoramento será contínuo, avaliando os seguintes indicadores: - Indicadores clínicos: Controle dos sintomas, melhoria na qualidade de vida, redução do tempo de internação e diminuição no uso de medicamentos como antibióticos e analgésicos e ou aumento no uso de opioides; - Satisfação dos pacientes e familiares: Avaliada por questionários periódicos, inclusive após a sua alta hospitalar. - Produção científica: Quantidade de publicações e apresentações realizadas em eventos acadêmicos.

ARAÚJO, M. M. T. de et al. Percepções de enfermeiros sobre cuidados paliativos e o cuidado ao paciente em fim de vida. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 73, n. 1, 2020. CARVALHO, R. T.; PARSONS, H. A. Manual de Cuidados Paliativos ANCP. Academia Nacional de Cuidados Paliativos, São Paulo, 2012. Disponível em: https://www.paliativo.org.br/manual-cp/. Acesso em: 10 out. 2024. HERZBERG, M. C.; MEYER, M. W.; LEÓN, R. Oral health and the impact on quality of life of patients under palliative care. Journal of Palliative Care, v. 34, n. 1, p. 98-106, 2018. KÜBLER, A. Desenvolvimento de cuidados paliativos e desafios contemporâneos. Revista Brasileira de Terapias Intensivas, São Paulo, v. 30, n. 2, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbt/a/hGtCDkY79h9bmsxVPVfwk3z. Acesso em: 10 out. 2024. KUROGI, M. N. A implementação dos cuidados paliativos no Brasil e a importância da educação permanente. Revista de Saúde Coletiva, v. 32, n. 4, p. 828-834, 2022. PIRES, D.; GONÇALVES, L. H. T.; BERTOLDI, L. Aplicação da fisioterapia em cuidados paliativos: desafios e possibilidades. Revista Brasileira de Fisioterapia, v. 21, n. 3, p. 297-305, 2017. SANTOS, M. A.; ALMEIDA, L. S.; SOUZA, V. F. Cuidados paliativos e a importância da equipe interdisciplinar. Revista Brasileira de Saúde Hospitalar, v. 6, n. 1, p. 45-53, 2019. SILVA, J. M.; NUNES, R. G.; COSTA, D. R. O papel do enfermeiro no preparo familiar para o processo de terminalidade. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 74, n. 2, p. 252-259, 2021. WORLD HEALTH ORGANIZATION. National cancer control programmes: policies and managerial guidelines. 2. ed. Geneva: WHO, 2002. BULLO, V.; RIBEIRO, S. M.; OLIVEIRA, M. S.; et al. Nutrição em cuidados paliativos: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Nutrição Clínica, v. 33, n. 4, p. 201-210, 2018. GOMES, F.; RIBEIRO, S.; OLIVEIRA, M.; et al. The role of nutrition in palliative care. European Journal of Clinical Nutrition, v. 72, n. 5, p. 759-765, 2018. MACHADO, R. A. et al. "O papel da odontologia nos cuidados paliativos: abordagens e implicações clínicas." Revista Brasileira de Odontologia, vol. 75, no. 2, 2018, pp. 132-138. KELLEY, M. L.; McGOWAN, C. Challenges in the delivery of palliative care. Current Opinion in Supportive and Palliative Care, v. 10, n. 2, p. 204-210, 2016. REGO, S.; ALMEIDA, R.; et al. Barriers to interdisciplinary collaboration in palliative care. Palliative Medicine, v. 32, n. 2, p. 331-336, 2018. HUDSON, P.; MCKEOWN, M.; et al. Family caregiving in palliative care: A systematic review of the literature. Palliative Medicine, v. 31, n. 9, p. 883-896, 2017.

Segundo Costa et al. (2020), experiências práticas em ambientes de cuidado permitem que os estudantes desenvolvam competências essenciais e compreendam melhor as nuances do atendimento aos pacientes em fim de vida, preparando-os para os desafios dessa área de atuação. Nesse contexto, a inserção de discentes no setor de Cuidados Paliativos constitui oportunidade de integração entre a teoria e a prática clínica, enriquecendo o aprendizado e contribuindo para a formação de profissionais capacitados para atuar em situações de finitude/terminalidade, desenvolvendo habilidades técnicas, emocionais e éticas, essenciais na abordagem de pacientes com doenças graves que ameaçam a vida. A supervisão dos acadêmicos será contínua, contando com docentes e profissionais da área, visando à realização das atividades com responsabilidade e dentro dos objetivos do projeto. A supervisão direta durante os atendimentos clínicos permitirá que os discentes recebam feedback sobre suas ações, contribuindo para o aprimoramento de suas habilidades. Reuniões periódicas serão organizadas para discutir avanços e dificuldades, oferecendo um espaço de reflexão sobre as experiências vividas. Além disso, pretende-se aprimorar e avaliar as habilidades técnicas, atitudinais e interpessoais, uma vez ser este a finitude e atuação em CP temas bastante desafiadores. O Projeto incluirá, ainda, pesquisas de satisfação junto às pessoas atendidas e supervisores para ajustar e melhorar a assistência prestada e, consequentemente, a aprendizagem. Em resumo, a participação dos discentes no Projeto “Rede de Assistência Paliativa Hospitalar” é transformadora, proporcionando aprendizado prático e o desenvolvimento de habilidades essenciais para um cuidado focado no paciente e em sua família, de forma multidisciplinar e integral - qualidades estas indispensáveis na atuação profissional na área da saúde na contemporaneidade.

O Projeto de Extensão “Rede de Assistência Paliativa Hospitalar aos Pacientes Internados no Hospital Nossa Senhora da Saúde em Diamantina/MG” contará com importantes parcerias que fortalecerão a sua implementação e o seu impacto na Rede de Atenção à Saúde. A principal parceria será com o Hospital Nossa Senhora da Saúde de Diamantina, onde todas as atividades práticas do projeto serão realizadas. O hospital oferece o ambiente clínico adequado para que os alunos da área da saúde possam aplicar os conhecimentos teóricos em situações reais de cuidados paliativos, contribuindo tanto para a formação acadêmica quanto para a melhoria do cuidado aos pacientes. A LACUP (Liga de Cuidados Paliativos), que sugeriu e elaborou esta proposta, terá um papel central, coordenando as atividades acadêmicas e assistenciais no âmbito dos cuidados paliativos. A Liga Acadêmica poderá contribuir por meio de sua expertise para que os envolvidos possam compreender e atuar na perspectiva dos cuidados paliativos de forma efetiva, integrando conhecimentos advindos das diferentes as áreas da saúde para uma abordagem multidisciplinar. Nesse contexto, a proposta apresentada, e as parcerias estabelecidas, enriquecerá tanto o projeto de cuidados paliativos quanto o de saúde bucal, promovendo uma assistência mais completa e inovadora aos pacientes hospitalizados, com atenção integral às suas necessidades, inclusive no que se refere à saúde bucal. Além disso, constitui oportunidade de se aprimorar e integrar o conhecimento das áreas envolvidas, trazendo o paciente para o centro do cuidado, vez que somente dessa maneira a qualidade do atendimento prestado poderá ser alcançad