O conhecimento da biologia do corpo humano influencia diretamente na formação da integridade pessoal, da autovalorização e da postura a si próprio, contribuindo para a compreensão da saúde e dos valores pessoais e sociais relacionados a sexualidade human

Extensão, integração, cultura, quebra de paradigmas, estruturas corpóreas, animal, humano, ensino médio, escola agrícola e escola profissionalizante

Ao longo das mais diversas atividades realizadas pelos homens no dia a dia, diversas estruturas anatômicas corporais estão se movimentando e em harmonia. Entretanto, é sabido que as pessoas, na grande maioria das vezes, não conhecem as estruturas anatômicas mais simples que constituem o seu corpo. Nesse sentido, este projeto de extensão visa fornecer conhecimento das estruturas corpóreas dos animais e correlacioná-las com a do humano, através de apresentações/palestras remotas, utilizando material anatômico animal e digital, e de materiais didáticos que serão apresentados nas escolas (1) do ensino médio (1.1) urbano e (1.2) rural (agrícola) e (2) profissionalizantes (CEPASA - Centro Polivalente de Atividades Sociais Culturais e Ambientais). Para a realização dessas palestras serão utilizados materiais anatômicos oriundos do Laboratório de Anatomia Animal do Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucurí (UFVJM) de Unaí, como ossos, esqueletos, articulações, peças anatômicas taxidermizadas, embriões, fetos e órgãos, dos animais domésticos, bem como modelos didáticos. Interessante frisar que essas apresentações priorizarão a utilização de nomenclaturas básicas, visando abordar como exemplo: os nomes dos ossos (como, escápula, úmero, enfim), articulações (do ombro, do cotovelo, da mão), bem como de relacionar as estruturas corpóreas dos animais ao humano. Espera-se com esta ação: (1) promover a aproximação entre a sociedade e a ciência, (2) aumentar o entendimento das pessoas em relação as estruturas do seu próprio corpo, (3) melhorar a relação homem-animal e (4) despertar as vocações de alunos das escolas para aos cursos de graduação que têm sua base na anatomia.

O entendimento genérico das estruturas corpóreas do homem e dos animais já pode ser considerada quase um tabu em nossa sociedade. Isso fica cada vez mais claro quando seres humanos fazem a abordagens do corpo, utilizando de termos inapropriados, (1) como nos animais, a (1.1) pata (referindo aos membros dos animais, entretanto pata é a fêmea do pato), e (2) nos humanos ao utilizar (2.1) "piu-piu" ou "pinto" mencionando-se ao pênis, (2.2)"cú" ao ânus, “periquita” a vulva. Neste último, é válido uma reflexão que a grande maioria confundem a vulva (genitália externa), com o vestíbulo da vagina (órgão comum do trato urinário e genital) e, até mesmo, vagina (órgão copulador feminino). Realidade está que vem para ratificar o desconhecimento das pessoas com estruturas do seu corpo, nesse caso específico aos órgãos genitais. O desconhecimento não fica apenas em terminologias, mas também no entendimento básico da organização corpórea, nas estruturas que compõem a cabeça, o pescoço, o tronco, os membros, bem como da relação dos órgãos e sua localização (anatomicamente, chamada de topografia) com as cavidades corpóreas (torácica, abdominal, pélvica e craniana). Por exemplo, caso realize uma pesquisa informal de qual órgão está localizado na cavidade craniana, com certeza a ampla maioria dos questionados responderia cérebro. Mas, anatomicamente, a cavidade craniana é ocupada pelo encéfalo e este é constituído de tronco encefálico, cerebelo e o cérebro (GETTY, 1986; GODINHO et al., 1987; DIDIO, 2002; DYCE et al., 2010; MACHADO, 2014; PRADA, 2014; KÖNIG, LIEBICH, 2016). De outro modo, o conhecimento da biologia do corpo humano influencia diretamente na formação da integridade pessoal, da autovalorização e da postura a si próprio, contribuindo para a compreensão da saúde e dos valores pessoais e sociais relacionados a sexualidade humana (BRASIL, 1996). Em questões terminológicas, Anatomia é uma palavra derivada do grego "annatomé", no qual "anna" significa partes, distributivo, e "tomé" corte, ou seja, dividir o corpo em partes (DIDIO, 2002); sendo que no caso do homem (anatomia humana) e animal (anatomia animal). Nesse contexto, pode-se dizer que explorar a Anatomia é um caminho para o conhecimento e compreensão funcional do corpo, independente da idade. Pois, o entendimento de como funciona o corpo, é uma forma essencial para promover a vida e cura dos males, intenção inicial no ato de cuidar do próximo (DANGELO, FATINI, 2007) e na relação homem-animal. Seguindo o raciocínio anterior, Angelo Ruffini (1864-1929) construiu uma frase, belíssima, que coloca frente-a-frente a estrutura normal e doente (patológica), quando disse “a forma é a imagem plástica da função” (RUFFINI, 1898; ECCLES, 1975). Em termos matemáticos, essa frase significa que a estrutura somado de arquitetura e função resultam na anatomia, em outras palavras, estrutura + arquitetura + função = anatomia. Agora vendo do lado científico da saúde, essa frase traz de forma clara que alterações na estrutura do órgão afetam a sua forma e consequentemente a sua função. Para imaginarmos na prática a frase de Angelo Ruffini, basta imaginar um determinado homem que frequenta diariamente um bar e faz a ingestão de bebida alcoólica constantemente ao longo da sua vida e em grande quantidade. É sabido que o álcool não deve percorrer a corrente sanguínea em grandes concentrações, para isso existe o fígado. Um órgão extremamente importante na nossa saúde corpórea que realiza diversas funções, mais de 500 (HOPKINS, 2020). Neste exemplo, o papel do fígado é metabolizar (quebrar) o álcool para que ele seja eliminado. Como a ingestão é grande e constante, o órgão começa a se sobrecarregar e lesionar, iniciando uma tentativa de regeneração de tecido hepático. Entretanto, a regeneração não acontece de forma organizada, como ocorreu no seu desenvolvimento no período embrionário e fetal. Isto acarreta uma alteração da estrutura, que logo altera a forma, até atingir a sua função, em síntese alterou a sua anatomia, por isso da fórmula “estrutura + arquitetura + função = anatomia”. Projetos semelhantes foram realizados pela Universidade São Paulo (USP), entretanto a exposição não vai até o público-alvo, pelo contrário o público-alvo vai até a exposição, que neste caso é um Museu, o Museu de Anatomia Veterinária (MAV). O projeto “Naturalistas Mirins”, iniciado em 2014 pela equipe do MAV da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, que buscava tornar o ensino não formal praticado em museus uma prática comum no meio ao público escolar. Nesta atividade, os alunos possuem a oportunidade de utilizar a estrutura para identificar animais, compreender as questões de conservação ambiental e desenvolver o raciocínio anatômico, tanto no corpo do animal como no próprio corpo humano (SILVA, 2018). Assim, o intuito deste trabalho é justamente despertar a curiosidade dessa sociedade, aqui representada pelos alunos de escolas (do ensino médio, urbana e rural -agrícola-, e profissionalizante), a anatomia, levando conhecimentos, raciocínios e experiências nas atividades extensionistas remotas (não presenciais), bem como, associar o conhecimento adquirido nas aulas de Biologia e Ciências à prática da Anatomia, integrando esses alunos as atividades didáticas de fácil compreensão e aprendizado relacionado à saúde. De outra forma, o projeto visa levar fundamentação acadêmica, de forma remota, para a quebra deste tabu do desconhecimento do corpo do homem e animal.

Objetivos gerais: Despertar o interesse pela anatomia, animal e humana, nas escolas (do ensino médio, tanto urbana como rural -agrícola-, e profissionalizante) de Unaí, através de palestras remotas, utilizando modelos didáticos e imagens anatômicas digitais, com o intuito de facilitar o processo de aprendizagem (educação) e compreensão das práticas realizadas no dia a dia dos humanos e animais (saúde). Objetivos específicos: 1. Organizar materiais (slides, vídeos e questionários informativos) para apresentar, de forma remota, as escolas parceiras ; 2. Nas apresentações remotas: a. Diferenciar as estruturas ósseas dos corpos dos animais e compará-las as estruturas homólogas nos humanos; b. Abordar os órgãos e sua localização nos animais, de forma genérica; c. Destacar a importância do entendimento do aparelho urogenital (dos órgãos urinários e dos órgãos genitais femininos e masculinos), importante para evitar a gravidez na juventude e capacitá-los frente as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs); d. Explicar tópicos relevantes dos demais sistemas e aparelhos nos animais e relacioná-los com doenças (patologias) nos humanos; e. Confrontar os termos populares utilizados para as estruturas corpóreas frente aos termos adequados anatomicamente; 3. Integrar discentes e docentes da universidade, com os discentes e docentes do ensino médio, tanto urbana como rural -agrícola-, e profissionalizante) 4. Aproximar os estudantes em potencial aos cursos relacionados a Anatomia, como Medicina, Enfermagem, Fisioterapia, Biotecnologia, Biologia, Medicina Veterinária, Zootecnia, entre outros.

Metas diretas Promover a aproximação entre a sociedade e a ciência, no que tange à anatomia, visando a quebra do tabu do desconhecimento do corpo do homem e, consequentemente, do animal. Metas indiretas (1) aumentar o entendimento das pessoas em relação as estruturas do seu próprio corpo; (2) melhorar a relação homem-animal; e (3) despertar as vocações de alunos das escolas para aos cursos de graduação que têm sua base na anatomia. Acreditamos que o despertar dessas vocações possa atingir 1/3 do público alvo de 600 pessoas, chegando a próximo de 200 estudantes.

Os docentes do Laboratório de Anatomia Animal - ICA-UFVJM-Unaí propõem em participar do projeto em escolas (do ensino médio, tanto urbana como rural -agrícola- e profissionalizante), com ações na forma remota que convidarão os alunos das escolas a entenderem sobre as estruturas corpóreas dos animais, propiciando uma reflexão destas no corpo humano, utilizando material anatômico e produzindo materiais didáticos, envolvendo o público com o conteúdo a ser explorado de maneira multidisciplinar. Serão selecionados 10 estudantes do curso de Medicina Veterinária e Zootecnia para compor a equipe de trabalho. Estes serão capacitados pelos docentes envolvidos, através de reuniões remotas planejadas, a fim de formar mediadores para as ações de extensão propostas nas escolas. Espera-se que os discentes da graduação interajam com os discentes das referidas escolas, divulgando o conhecimento de forma simplificada e objetiva, todavia com embasamento científico. Para este projeto, as Escolas parceiras fornecerão o e-mail dos alunos aos colaboradores, para que se possa criar turmas no Google Classroom. Essa turma facilitará a divulgação do conteúdo produzido pelos colaboradores e a interação entre os alunos das escolas parceiras. Nesta turma criada no Google Classroom, serão expostos os materiais como apresentações de slides gravadas pelos colaboradores, questionários e materiais didáticos que possam facilitar o entendimento dos alunos, de forma remota. Os temas das apresentações serão divididos entre os colaboradores em: 1) Introdução à anatomia; 2) Osteologia; 3) Artrologia; 4) Miologia; 5) Tegumento comum; 6) Aparelho cardiorrespiratório; 7) Aparelho digestório; 8) Aparelho uro-genital; 9) Sistema nervoso. Estes temas serão associados a questões sociais e culturais, visando despertar a curiosidade com o seu próprio corpo. As peças anatômicas serão legendadas para os discentes das escolas poderem se orientar com os materiais de apoio disponíveis sobre os temas. Ao final, será realizado um questionário com perguntas objetivas e simples sobre os assuntos que foram abordados durante a apresentação, bem como dos participantes da proposta como graduando e docentes. Também será realizado um breve jogo com os alunos para interação com as peças anatômicasdigitais, limitando a um quebra-cabeça, no qual os estudantes tentaram montar estruturas anatômicas do animal e do humano.

DANGELO, J. G.; FATINI, C. A. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2007. 565p. DYCE, K.M.; SACK, W.O.; WENSING, C.J.G. Tratado de Anatomia Veterinária. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 834p. DIDIO, L.J.A. Tratado de Anatomia Sistêmica Aplicada. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2002. 288p. v.1. DIDIO, L.J.A. Tratado de Anatomia Sistêmica Aplicada. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2002. 948p. v.2. ECCLES, J. C. Letters from C. S. Sherrington, F. R. S., to Angelo Ruffini between 1896 and 1903. Notes and Records: the Royal Society of the History of Science, Tecnology and Medicine, v. 30, p. 69–82.1975. GETTY, R. Sisson/Grossman Anatomia dos Animais Domésticos. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1986. 1134p. v.1. GODINHO, H.P.; CARDOSO, F.M.; NASCIMENTO, J.F. Anatomia dos Ruminantes Domésticos. Belo Horizonte: Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, 1987. 420p. Hopkins, J. Liver: anatomy and functions. Disponível em: < https://www.hopkinsmedicine.org/health/conditions-and-diseases/liver-anatomy-and-functions#:~:text=More%20than%20500%20vital%20functions,certain%20proteins%20for%20blood%20plasma>. 2020. Acesso em: 21 de out. de 2020. MACHADO, A.; HAERTEL, L.M. Neuroanatomia Funcional. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2014. 344p. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais (PCN): ciências naturais / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. PRADA, I. Neuroanatomia Funcional em Medicina Veterinária com Correlações Clínicas. Jaboticabal: Terra Molhada, 2014. 586p. RUFFINI, A. On the minute anatomy of the neuromuscular spindles of the cat, and on their physiological significance. Journal of Physiology, v. 23, p. 191–208. 1898. SILVA, M.C. Museu de Anatomia Veterinária luta para retomar interação entre a Universidade e a rede pública escolar. Disponível em: < https://paineira.usp.br/aun/index.php/2018/05/03/museu-de-anatomia-veterinaria-luta-para-retomar-interacao-entre-a-universidade-e-a-rede-publica-escolar/ >. 2018. Acesso em 21 de outubro de 2020.

Os estudantes da graduação (aqui chamados de colaboradores) estão inseridos no projeto como difusores (propagadores) do conhecimento da academia (Universidade) para as Escolas, bem como através de mão de obra pensante e crítica. Uma vez que esses colaboradores participarão: (1) da organização das apresentações e vídeos a serem apresentadas para os estudantes das escolas parceiras, (2) dos conhecimentos, do nível de embasamento e raciocínios lógicos dos modelos anatômicas a serem apresentados ao público e (3) da confecção dos materiais didáticos a serem utilizados nas apresentações, como raciocínios de forma interdisciplinar e até legendas das estruturas. Para isso, será divulgado que o projeto encontra-se em estágio de seleção de voluntários, entre os cursos de Medicina Veterinária e Zootecnia do ICA-UFVJM-Unaí. A seleção será baseada na análise de dois critérios, (1) a entrevista oral, visando identificar o público que possui maior interesse, responsabilidade e disponibilidade de participar das atividades extensionistas, e (2) das notas obtidas nas disciplinas correlatas, Anatomia Animal I e II (para a Medicina Veterinária) e Anatomia Animal aplicada à Zootecnia (Zootecnia). As capacitações dos estudantes selecionados ocorrerão através de reuniões remotas quinzenais, de até 2 horas de duração, durante 4 meses que antecedem as práticas extensionistas, sendo que acontecerá 20 capacitações ao todo, equivalente a 40 horas. Nessas capacitações, os professores das disciplinas correlatas apresentarão a proposta submetida e discutirá, com os graduandos, as estratégias e materiais didáticos a serem preparados para apresentação e vídeos. Os membros da equipe executora (colaboradores e professores) avaliarão as ações realizadas por meio do preenchimento do formulário específico. A equipe se reunirá frequentemente de forma remota para a autoavaliação e definir o trajeto a ser tomado, de acordo com o delineamento da proposta. Os colaboradores serão treinados, sendo avaliados pela equipe proponente ao final do treinamento e durante as atividades de mediação.

A proposta é extremamente relevante, tanto no aspecto Universitário como para a Sociedade, e espera-se que a ação: (1) promova a aproximação entre a sociedade (representada pelos alunos das escolas) e a ciência, (2) aumentar o entendimento das pessoas em relação as estruturas do seu próprio corpo, (3) melhorar a relação homem-animal e (4) despertar as vocações de alunos do ensino básico e médio para as áreas correlatas a Anatomia.