Visitante
Viva aos Santos Reis!! Viva à Sopa!!
Sobre a Proposta
Tipo de Edital: Procarte
Situação: Aprovado
Dados do Coordenador
humberto catuzzo
20211022021323141
faculdade interdisciplinar em humanidades
Caracterização da Ação
ciências humanas
cultura
cultura
patrimônio cultural, histórico, natural e imaterial
local
geo-vale: extensão, ensino, pesquisa
Sim
Membros
leticia carolina teixeira padua
Vice-coordenador(a)
vitoria azevedo da fonseca
Voluntário(a)
magali do socorro dias
Bolsista
O Projeto "Viva aos Santos Reis!! Viva à Sopa!!" que ora apresentamos nasce vinculado ao Programa de Extensão "Geo-Vale - extensão, ensino, pesquisa" e ao Projeto "Sopa de Memórias", fruto de uma parceria da UFVJM com a Prefeitura Municipal de Diamantina.
Folia de Reis, Comunidade, Tradição
24 de Dezembro, 23:45. M. desce a rua alegre, cavaquinho na mão. Ao seu lado, suas irmãs com dois violões e o pai, com a sanfona. Na primeira esquina encontram J. que vem com as crianças, dois triângulos e uma meia lua. Da rua perpendicular vêem Dona S. saltitante na companhia de B. V. e G. Pouco a pouco, de todos os lados vão chegando os foliões e os instrumentos – pandeiro, ukulele, caixas, zabumbas. T. o mestre-tirador já está no aguardo de todos, no adro da Igreja. Todos estão vestidos de calças pretas, jaleco azul e vermelho para os homens, blusa polo azul e lenço vermelho do pescoço para as mulheres. A emoção é latente! Quase um ano de espera, alguns meses de ensaio e é chegada a hora de se iniciar o encontro das famílias, dos amigos, da Folia com sua Comunidade e com sua fé! Exatamente a meia noite – Tum, Tum, Tá, Tá, Tá – o mestre, como um maestro, inicia a sua orquestra e, logo a seguir, inicia-se o coral “Lá do lado do oriente é chegada uma Folia...é chegada uma Folia” e, então a profecia especial reservada apenas para este momento, aos pés do presépio. Deste dia até o final de janeiro, cada casa da comunidade da Sopa e seus arredores, terá a oportunidade de receber a Folia! Em cada casa uma ansiedade, um preparo – quitandas, vinho, café, biscoitos - tudo para receber a Folia! Porta fechada, luz da varanda acesa, a Folia inicia profecia na rua, o dono da casa abre a porta no momento certo e recebe as bênçãos que os foliões vêm trazer! Primeiro entra a bandeira, a seguir o mestre-tirador e sua segunda voz. Não importa o tamanho da casa, sempre há espaço para cada um dos vinte e cinco integrantes, que se posicionam também do modo como o maestro organizou para que a música soe bem e a profecia chegue ao distinto homenageado. As Respostas, que se assemelham a um coral, respondem em jogral, em frente o Tirador, atrás delas, os violões e a sanfona formam um semi-círculo, em seguida os pandeiros, meia-luas e triângulos, que as crianças também podem manejar. Lá no fundo, a zabumba determina a cadência. E, ainda, atrás, as pessoas que gostam se seguir a Folia! Este breve relato é, certamente, pequeno para descrever a emoção, a organização, a expectativa e tudo o que envolve o início da Folia dos Santos Reis de Santa Rita de Cássia da Sopa. Esta tradição das Folias de Reis é tão relevante para o mineiro, que foi reconhecida em 2017 como Patrimônio Imaterial Cultural de Minas Gerais pelo IEPHA, e a Folia que ora descrevemos foi registrada neste Instituto sob o número 318 (IEPHA, 2020a). Mas para a Comunidade de Sopa, pequeno distrito do município de Diamantina, com 540 habitantes (IBGE, 2010), a Folia é uma expiração, inspiração, um orgulho, uma alegria, enfim, uma tradição. Atuando nesta Comunidade há cerca de um ano, com o Projeto Sopa de Memórias, que visa levantar, registrar e valorizar as tradições e percepções da Comunidade de Sopa, e acompanhando o grupo de foliões da Folia dos Santos Reis de Santa Rita de Cássia da Sopa, desde seus ensaios em novembro de 2019, até o final do giro (visitas) em janeiro do corrente ano, é que nasceu a vontade de atuar realizando um sonho antigo da Comunidade: colaborar para divulgar a Folia, tanto com o objetivo de valorizar suas tradições e autoestima, como para realizar registros de usa história para passar às gerações vindouras. Assim é que planejamos junto com o grupo de foliões e com a Comunidade de Sopa, criar um documentário (uma versão piloto já foi realizada - FONSECA, 2020), um livro fotográfico, assim como realizar uma oficina online.
As Folias de Reis são uma manifestação ao mesmo tempo de fé, alegria, união, mas, sobretudo, da manutenção de uma tradição que se tornou Patrimônio Cultural Imaterial reconhecido e registrado pelo IEPHA – Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, tombado em 2017. (IEPHA, 2020b). De acordo com o IEPHA (2020b), as Folias de Reis podem ser assim definidas: "Geralmente, são formados por cantadores e tocadores, podendo apresentar personagens, como reis, palhaços e bastiões, que visitam casas de devotos distribuindo bênçãos e recolhendo donativos para variados fins. Apresentam características regionais e as indumentárias variam de grupo para grupo, podem ser encontrados foliões que utilizam trajes militares, vestes de palhaço, máscaras ou roupas comuns. Os instrumentos que conduzem os cantos são as violas, violão, cavaquinho, pandeiro, bumbos, sanfona e caixas. Possuem como principal elemento simbólico a bandeira e organizam-se a partir de ritos, como o giro ou jornada, encontros, festas e cumprimento de promessas." E a Folia da comunidade da Sopa, distrito que dista de Diamantina cerca de 14km, não é diferente. Ou é? As Folias de Reis podem caber em uma definição para seu tombamento, mas cada uma é, certamente única. Temos acompanhado a comunidade da Sopa, suas tradições e percepções e, dentre estas tradições a Folia dos Santos Reis de Santa Rita de Cássia da Sopa, que pela tradição oral já existe há mais de uma centena de anos (provavelmente ainda mais) certamente nos marcou. Consideramos aqui que é fundamental realizar registros à altura deste grupo e desta comunidade. Seu mestre, exerce o papel de um maestro de uma orquestra popular, seu grupo é composto de homens e mulheres, desde o início de sua existência – algo incomum em grupos de Folia. A maneira como o mestre é escolhido e como ele se torna guardião de segredos e profecias, as vestes, a duração da Folia por todo o mês de janeiro...estas são algumas das singularidades desta Folia que hora apresentamos. Cabe ainda destacar que o Plano Nacional de Cultura (PNC) objetiva orientar o desenvolvimento de projetos de cultura que garantam valorização, promoção e preservação da diversidade cultural que existe no Brasil. Assim como estão entre seus objetivos: "I - reconhecer e valorizar a diversidade cultural, étnica e regional brasileira; II - proteger e promover o patrimônio histórico e artístico, material e imaterial; III - valorizar e difundir as criações artísticas e os bens culturais; (...) X - reconhecer os saberes, conhecimentos e expressões tradicionais e os direitos de seus detentores;" (BRASIL, 2010) Na mesma linha da proposta do PNC, a política Cultural da UFVJM prevê como estratégias " "(...) Auxiliar na proteção e promoção da diversidade cultural, especialmente das regiões de abrangência da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri; (...) (...) Apoiar projetos que contemplem a preservação do patrimônio material e imaterial; (...) Apoiar e promover ações de mapeamento, documentação e divulgação da memória e das expressões artísticas e culturais dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri; (...) Propor oficinas e minicursos em conjunto com artistas locais e regionais para viabilizar possibilidades de troca de saberes entre os mestres da cultura popular e os acadêmicos;" (UFVJM, 2012) Assim, consideramos que esta proposta que ora apresentamos, que objetiva a valorização, apoio, documentação e troca de saberes com a Folia dos Santos Reis de Santa Rita de Cássia da Sopa é de grande relevância para a nossa Universidade, assim como para a Comunidade de Sopa e de Diamantina, já que valoriza e divulga um dos patrimônios imateriais e tradições mais enraizados e típicos de nossa região.
Objetivo Geral Conhecer, Documentar, apoiar e divulgar a Folia de Santos Reis de Santa Rita de Cássia da Sopa. Objetivos específicos 1- Criar um documentário sobre a Folia de Reis de Santa Rita de Cássia da Sopa; 2 - Criar um livro digital e impresso sobre a Folia de Reis de Santa Rita de Cássia da Sopa; 3 - Distribuir este livro impresso na Comunidade de Sopa; 4 - Propor oficinas de divulgação da Folia por plataforma online, divulgada em youtube.
As metas principais desta proposta que ora apresentamos são: 1 - Valorizar a Folia dos Santos Reis de Santa Rita de Cássia da Sopa, por meio da divulgação e registro, contribuindo para a autoestima de seus foliões e da Comunidade; 2 - Indicar as especificidades da Folia de Reis de Sopa, contribuindo, desta forma, para a passagem da tradição para as gerações vindouras, como é desejo dos foliões, assim como também contribuindo para os inventários culturais permanentemente realizados pela Casa da Cultura da Prefeitura Municipal de Diamantina e/ou o IEPHA. 3 - Difundir no ambiente Universitário a cultura da Folia de Reis, considerando ser um Patrimônio Imaterial de nosso Estado, além de uma importante, forte e enraizada tradição nos municípios e comunidades da região de atuação da UFVJM. 4 - Oferecer aos universitários que conhecem a tradição da Folia de Reis em seus próprios municípios de origem, um momento de rememoração e retorno às raízes. Em termos numéricos, as ambições destas metas atingirão: Os cerca de 25 a 30 foliões (o número flutua em função da participação das crianças, já que parte dos giros é feita a noite) serão atingidos diretamente, já que estão envolvidos nas oficinas e giros propostos na Universidade e na Escola Municipal da Sopa, assim como são co-partícipes do documentário e do livro aqui proposto. São eles os responsáveis pela manutenção viva da tradição. Os 540 habitantes do distrito de Sopa, distribuídos em 277 residências (IBGE, 2010), participam do documentário e do livro por meio de depoimentos, assim como também recebem o giro da Folia em suas casas e, portanto, consideram a Folia como um patrimônio da própria comunidade. Deste modo, a valorização da autoestima da Folia é, também, uma valorização da própria Comunidade. Pretende-se, também, que parte destas residências receba um dos livros impressos. Os 5248 estudantes, 736 servidores do campus Diamantina da UFVJM (UFVJM, 2020) serão atingidos de forma indireta e direta pela valorização do patrimônio cultural de nossa região, e pela oficina online.
Assentada na matriz fenomenológica de pensamento trabalhamos com a ideia de caminhos possíveis a trilhar. Como esta proposta se dá após um ano de atuação do Projeto Sopa de Memórias, uma parceria da UFVJM com a Prefeitura Municipal de Diamantina, algumas etapas deste caminho metodológico já foram alcançadas. O primeiro passo de uma ação fenomenológica está na conversa, na inserção do cotidiano, da experiência do ser-no-mundo. Entendemos que tudo que é, é situado. Ou seja, em relação com o mundo de sua experiência e vivência é que as coisas se dão. Assim, tornarmos nós mesmos parte desta experiência é também importante. Sobretudo em um ambiente de uma comunidade rural, como é o caso da Sopa, é importante que a comunidade entenda, aceite, se relacione e troque saberes e experiências com o pesquisador-extensionista-acadêmico. Assim, é desejável que procuremos pessoas na comunidade com quem conversar, livremente, a partir de uma “atitude fenomenológica”, como preconiza Husserl (2012) em que epoché, ou redução fenomenológica nos permitem (re)conhecer o outro sem pré-concepções, sem escolha prévia de pessoas ou temas, permitindo que as questões emerjam no próprio campo (no caso, a Sopa). Voltar ao lugar várias vezes, (re)conhecer, conversar, reconversar é fundante, já que a recorrência vai, vagarosamente transformando espaços em lugares, a identificação entre os sujeitos vai trazendo uma liberdade de experiência mais plena e fluida. Conversar é experimentar o mundo intersubjetivamente. Assim a “busca das coisas mesmas”, evocada pela fenomenologia como método/caminho, é a própria busca das essências antes das abstrações científicas, é buscar as perguntas, antes das respostas e hipóteses, é investigar o mundo por meio da experiência. “Por isso, as conversas em forma de diálogos livres, deixando as pessoas falarem livremente, é uma das formas de acessar o sentido original” (MARANDOLA JR, 2008, p. 123) No entanto, como dito, estas etapas já foram vencidas e estamos em atividade na comunidade em diversas frentes (re)conhecendo suas tradições, percepções e relações e sendo igualmente reconhecidos por ela. Ainda que vencida, é importante evidenciar esta etapa do método já que foi exatamente a partir dele que os próprios foliões da Sopa, em troca de experiência com os acadêmicos, manifestou vontades e demandas que podem aqui serem atendidas nas próximas etapas, quais sejam: - termonar o longo processo de decoupage e edição do documentario. Um piloto já foi feito e publicado no Youtube (FONSECA, 2020) - Para o documentário e também para o livro, realizar entrevistas gravadas em áudio e vídeo sobre a Folia (online), tanto com foliões quanto com pessoas da comunidade, que recebem a Folia em suas casas. Vamos compor, junto com a Folia, um livro que registre memórias, histórias, imagens, profecias, entrevistas e afins. Para isso fizemos encontros e reuniões no período presencial em que isso era possível e, para o envio dos rascunhos e bonecas, usaremos plataformas virtuais. Até compormos juntos um produto que seja considerado à altura da tradição da Folia dos Santos Reis de Santa Rita de Cássia da Sopa. Realizaremos uma oficina virtual para que os estudantes que não conhecem a tradição, assim como aqueles que tinham suas Folias em suas cidades de origem, possam se relacionar com o modo como essa rica tradição é mantida e recriada na Sopa, mostrando as batidas, a organização orquestral, o planejamento dos giros, os simbolismos empregados, entre outros aspectos.
BRASIL. Plano Nacional de Cultura. Lei 12.343, de 02 de Dezembro de 2010. Acesso em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12343.htm>, em 22 de out. de 2020 CORRÊIA, Cristia Rosineire Gonçalves Lopes. Educação e Tradição. Educação em Foco. Juiz de Fora, v.16, n.2, p. 159-183, fev. 2012. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo 2010. Acesso em <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/diamantina/panorama>, em 23 de out. de 2020 FONSECA, Vitória Azevedo de. Folia de Sopa. Mini-documentário. Plataforma Youtube. Acesso em <https://www.youtube.com/watch?v=VG6wSfXc5L0&t=424s>, em 25 de out. de 2020. HUSSERL, Edmund. A crise das ciências européias e a fenomenologia transcendental. São Paulo: Ed. Gen Forense, 2012. IEPHA, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado de Minas Gerais. Folias de Minas. 2017. Acesso em <http://www.iepha.mg.gov.br/index.php/15-patrimonio-cultural-protegido/bens-registrados/225-folias-de-minas> em 23 de out. de 2020 IEPHA, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado de Minas Gerais. Lista de Folias Cadastradas. 2020. Acesso em <http://www.iepha.mg.gov.br/index.php/component/phocadownload/category/21-as-folias-de-minas?download=93:lista-de-folias-cadastrados>, em 23 de out. de 2020. MARANDOLA JR., Eduardo José. Mapeando “Londrinas”: imaginário e experiência urbana. Geografia, Rio Claro, v. 33, n.1, p.103-126, jan./abr. 2008. QEDU. Matrículas e Infraestrutura. 2020. Acesso em <https://www.qedu.org.br/escola/164760-em-de-sopa/censo-escolar>, em 26 de out. de 2020 UFVJM. Resolução CONSEPE 26, de 19 de out. de 2012. Acesso em <http://www.ufvjm.edu.br/formularios/cat_view/430-/479-/487-/350-.html?lang=pt_BR.utf8%2C+pt_BR.UT&start=10>, em 22 de out. de 2020 UFVJM em números. 2020, Acesso em <http://www.ufvjm.edu.br/numeros/index.php?option=com_content&view=article&id=12&Itemid=2>, em 22 de out. de 2020
O estudante é, antes, um membro da comunidade Universitária, mas também um membro da comunidade do município no qual estamos inseridos. Assim, é importante para a formação do estudante na área de humanidades, aprender a conhecer e reconhecer as tradições locais, o trato com comunidades e a maneira como estas tradições contribuem para a manutenção e valorização cultural, para a autoestima e até para os processos educativos, uma vez que a tradição é, também, um processo educativo (CORRÊIA, 2012). Por meio do conhecimento adquirido na UFVJM, o estudante pode contribuir com ações de educação patrimonial e com a composição e coleta das entrevistas, documentário e livro. O estudante será capacitado por meio de grupo de estudo já existente, no Grupo de Pesquisa Geografia Humanista, Arte e Psicologia Fenomenológica - GHuAPo, registrado pela UFVJM na CAPES, assim como acompanhando os docentes nas práticas e ações na comunidade. Deverá realizar entrevistas, gravações, edições, orçamentos, composição e divulgação de oficinas, cartazes, auxílio na documentação de pedidos à gestão universitária e fora dela, assim como estar em permanente contato com a Comunidade da Sopa e o grupo de Folia (ainda que virtual), já que assim exige o método fenomenológico, como descrito no item Metodologia.
A proposta é de fundamental importância no sentido de criar estratégias de valorização da cultural local, de divulgação de um patrimônio reconhecido e tombado, assim como também integrar a comunidade universitária às tradições locais, em um movimento duplo de apoio à manifestação cultural e de trazer para dentro dos nossos muros, essas tradições.
Público-alvo
Os cerca de 25 a 30 foliões (o número flutua em função da participação das crianças, já que parte dos giros é feita a noite) serão atingidos diretamente, já que estão envolvidos na proposição da oficina online, no documentário e fotolivro,
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Boneca do Livro
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