Nas relações entre o ser humano e a natureza existe uma preocupação principal com a conservação de recursos naturais e a adoção de práticas sustentáveis por todos os componentes da sociedade (QUIRINO, 2015). Diante disto, o conhecimento das comunidades tr

conhecimento tradicional, etnozootecnia, tradição

Nas relações entre o ser humano e a natureza existe uma preocupação principal com a conservação de recursos naturais e a adoção de práticas sustentáveis por todos os componentes da sociedade (QUIRINO, 2015). Diante disto, o conhecimento das comunidades tradicionais/populares apresenta laços específicos-culturais, além de socialmente fortalecidos ao longo de gerações, como uma passagem para manter as interrelações de interdependência com o ambiente (CARVALHO, 2006; GOMES, et al., 2017). Geralmente as famílias rurais são agentes de preservação dos recursos naturais, ou não, esse processo é oriundo das bagagens de saberes existente entre as gerações, e estas podem ser positivas ou negativas. Dentro da pecuária familiar, importantes tradições envolvem a reprodução de memórias e laços simbólicos que representam práticas e racionalidades de trabalho e manejo, outras acabam trazendo dificuldades em relação ao sistema de produção atual da pecuária leiteira que estão orientadas para as demandas do mercado, cada vez mais complexas. Neste projeto, foca-se nas famílias rurais, assentadas de reforma agrária, que se dedicam a produção leiteira no cerrado, em especial, na região Noroeste do estado de Minas Gerais. Devido as características dos entrevistados, sua bagagem cultural e de experiências que possuem, o trabalho tem um potencial de inovação na etnozootecnia, dada a relação existente entre os animais e as pessoas, os animais e o dia a dia no meio rural e os animais como uma forma de reprodução economia da propriedade.

De acordo com os objetivos da Política de Extensão da UFVJM: Gerais: • Ampliar e aprofundar as relações entre a UFVJM e outros setores da sociedade, em especial a dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, objetivando contribuir com as alternativas de transformação da realidade, no sentido da melhoria das condições de vida e do fortalecimento da cidadania. Específicos: • Aprofundar a relação institucional entre a UFVJM e os diferentes setores da sociedade atendidos pelas ações de extensão; • Atuar em conjunto com as organizações da sociedade civil e do poder público que buscam soluções para demandas sociais, locais, regionais e nacionais; • Fomentar o estabelecimento de programas e projetos de extensão vinculados a realidade local, regional e nacional, reconhecendo como ações prioritárias os de caráter local e regional; • Estimular as atividades de extensão que impliquem em relações multi, inter ou transdisciplinares; • Incentivar a articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão universitária; • Contribuir para o aprimoramento das concepções e práticas curriculares, propondo a inserção das ações extensionistas como componente curricular e integralizadora da formação profissional e cidadã; • Priorizar ações de extensão que se coadunem com as diretrizes e os objetivos da extensão universitária expressas nesta política e nas quais haja a participação discente na execução. A presente proposta apresenta a seguinte problematização/justificativa: Stefanello e Nogueira (2012) argumentam que as populações tradicionais são definidas como aquelas que possuem conhecimento da natureza, se relacionando de forma íntima, em simbiose e dependência, conhecendo os segredos, suas propriedades e utilizando dos seus recursos para viver e transmitindo esses valores de geração em geração. Diante disto, se apresenta-se uma linha de trabalho promissora, com o objetivo de compreender e valorizar as questões sociais, econômicas e ambientais presentes nas sociedades que estão intrinsicamente em uma estreita relação de experiências com o meio natural. As famílias rurais, geralmente, possuem relação direta e diária com a natureza, o espaço social e cultural, em função de que o seu modo de vida está diretamente ligado com o trabalho relacionado com a água, a terra, e a fauna. Assim, se apresenta a Etnociência, que surgiu nos Estados Unidos, a partir de meados do século XX, sugerindo uma nova abordagem antropológica, para que as culturas deixassem de ser percebidas como conjuntos de artefatos e comportamentos e passassem a ser consideradas como sistemas de conhecimentos, ou seja, como as estruturas linguísticas (ALVES, PIRES; RIBEIRO, 2010). Desta maneira, entende-se que os saberes locais ou conhecimento tradicional como uma série de conhecimentos acumulados ao longo de gerações através de suas relações experienciadas. Sendo assim, é possível criar a hipótese que os saberes dessas populações, aliado aos conceitos de desenvolvimento sustentável, como observado por Modesto, Santana e Silva (2012), no qual apresentaram que as informações obtidas junto a essas populações é uma importante ferramenta para os estudos conservacionistas e podem auxiliar bastante nas informações sobre os ecossistemas e organismos interativos No entanto, considerando o valioso patrimônio ambiental e cultural existentes no Brasil, deve-se destacar o papel desta nova ciência, a etnozootecnia. Esta surgi como importante ferramenta para o entendimento destes valores, já que o resgate e a transmissão geracional de saberes em relação a produção e manejo com os animais são relevantes, pois as técnicas para a preparação de subprodutos (que podem variar entre horas trabalhadas até dias), assim como, o cuidado diário e os procedimentos com os animais que a antecedem, são ignorados, ou desconhecidos por grande parte da população, que não valorizam o preparo e trato tradicional ou não entendem a influência que estes possuem na preservação ambiental e qualidade do produto final. Destaca-se assim, corroborando com Donazzolo, Balem e Silveira (2012), que é possível afirmar que alguns sistemas de conhecimentos se perderam no tempo, no entanto, existe ainda resquícios entre o antigo e o moderno que se relacionam no cotidiano das famílias rurais. Para garantir a sanidade e saúde do animal e a qualidade de seus subprodutos, as famílias que trabalham com a pecuária leiteira precisam trabalhar o desenvolvimento sustentável da pecuária leiteira e o bem-estar do gado. Assim sendo, a ciência etnozootecnia denomina-se como um campo de cruzamento de saberes, onde a relação da criação animal dentro das sociedades humanas, sua história, mudanças, suas interações entre homem, animal e meio se fazem importantes parâmetros culturais para o desenvolvimento social, econômico e ambiental (LAURANS, 1977).

Geral: Resgate dos conhecimentos tradicionais e sua relação com a cultura dos povos, em especial, as famílias rurais. Específico: Analisar a percepção e a compreensão das famílias rurais pecuaristas sobre os conceitos etnozootecnicos no âmbito social, econômico e ambiental no município de Unaí em Minas Gerais.

Fortalecer a ciência da Etnozootecnia junto aos discentes Fortalecer o interesse dos discentes no âmbito da Extensão Rural Resgate e empoderamento dos conhecimentos tradicionais Fortalecer a relação do bem estar animal na vida da sociedade

Serão realizados questionários, por meio de um roteiro semiestruturado, com entrevistados, representantes de famílias alocadas em assentamentos rurais, que possuem sua propriedade localizada no vão do município de Unaí em Minas Gerais, produtores de leite, para registrar a relevância de conhecimentos culturais básicos associando-os ao desenvolvimento social, econômico e ambiental. Após as entrevistas, os dados coletados serão organizados em uma planilha utilizando o programa Microsoft Excel, para análise estatística descritiva dos resultados, através de análise cluster de acordo com Malhotra (2006), utilizando o método hierárquico. Em relação ao modelo utilizado, adotará o modelo Ward, que tem se revelado eficiente, sendo o modelo mais utilizado nos métodos hierárquicos. Segundo Malhotra (2006), a análise de agrupamento ou análise de clusters, é uma técnica usada para classificar objetos ou casos em grupos relativamente homogêneos chamados de agrupamentos ou conglomerados. Assim, os objetos em cada agrupamento tendem a ser semelhantes entre si, mas diferentes de objetos em outros agrupamentos. As visitas no assentamento, serão realizadas de forma ética e dialogada, utilizando as metodologias participativas de extensão rural – MEXPAR, descrita abaixo segundo Ruas, 2006.: “O MEXPAR para o desenvolvimento sustentável é uma ferramenta que contribui para a ruptura do modelo tecnicista da grande maioria dos extensionistas, atuando através da insistência técnica. O MEXPAR apresenta de forma objetiva e didática uma estratégia de trabalho emancipadora que possibilita efetivamente, com a sua aplicação, o protagonismo dos agricultores e agricultoras no processo de desenvolvimento.Esta metodologia foi reelaborada a partir de uma concepção educativa que considera extensionistas e agricultores protagonistas de uma ação transformadora, na qual os extensionistas assumem o papel de mediadores do processo de mudança, e as agricultoras e agricultores familiares o de sujeitos do seu próprio desenvolvimento.“ Ainda de acordo com Ruas (2006), esta metodologia utiliza como referencial teórico, as relações educativas estabelecidas no processo de produção do conhecimento, agregando os princípios teóricos da Epistemiologia Genética de Jean Piaget. Segundo o mesmo autor, essa metodologia tem como principal objetivo propiciar aos extensionistas a vivência de um processo metodológico, fundamentado nos princípios da participação, da dialogicidade e troca de saberes, do planejamento participativo e da gestão social, capaz de orientar a sua prática junto aos agricultores familiares e outros atores sociais na implementação de estratégias de desenvolvimento rural sustentável.

Alves, A.G.C., Pires, D.A.F., Ribeiro, M.N., 2009. Conhecimento local e produção animal: uma perspectiva baseada na etnozootecnia. Arch. Zootec. 59, 45–56. 16 350 https://doi.org/10.21071/az.v59i232.4906 Carvalho, L.M.M., 2006. Estudos de etnobotânica e botânica económica no Alentejo. Dissertação (Mestrado em Biologia - Sistemática e Morfologia). Universidade de 363 Coimbra, Portugal Donazzolo, J.; Balem, T. A.; Silveira, P.R., 2012. Conhecimento tradicional: base para o desenho de sistemas agroflorestais. Ext. Rural 19, 29–54. Gomes, G.C., Medeiros, C.A.B., Gomes, J.C.C., Barbieri, R.L., 2017. A crise paradigmática nas ciências de identificação de plantas e a valorização da etnobotânica. Rev. Agrogeoambiental , 115–125. https://doi.org/10.18406/2316-1817v9n12017896 Laurans, R., 1977. L’ethnozootechnie aux confins des sciences de l’homme, de l’écologie et des techniques de l’élevage. Ethnozootechnie 20, 5–12 Malhotra, N., 2011. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada., 6th ed. Bookman, Porto Alegre. Modesto, M. A.; Santana, C. G.; Silva, C.J., 2012. O saber local no cenário da conservação ambiental, in: I Seminário Nacional e VI Regional do GEOPLAN - Grupo de Pesquisa Em Geoecologia e Planejamento Territorial, 2012, São Cristóvão. Anais... Conflitos Ambientais e Territoriais: Pesca e Petróleo No Litoral Brasileiro. Sao Cristovao. Quirino, G. da S., 2015. Saber científico e etnoconhecimento: é bom pra quê? Ciência Educ. 21, 273–283. https://doi.org/10.1590/1516-731320150020002 Ruas, Elma Dias et al. Metodologia participativa de extensão rural para o desenvolvimento sustentável – MEXPAR. Belo Horizonte, março 2006. 134 p. Stefanello, A.G.F; Nogueira, C.B.C., 2012. Direitos Étnicos e Culturais na proteção dos Conhecimentos Tradicionais associados à biodiversidade brasileira., in: XXI Congresso Nacional do CONPEDI/UFF, 1., 2012. Florianópolis. Anais... Florianópolis: FUNJAB. 425 Florianópolis, pp. 236–259.

O Bolsista e os voluntários irão participar de todas as atividades previstas no projeto, sendo atores importantes no processo de relação com o publico alvo.

A Etnozootecnia, é uma etnociencia relativamente nova, e de extrema relevancia para nossa região, e os dados obtidos poderão ser muito importantes para valorizar o conhecimento tradicional e geracional das populações rurais do Cerrado Mineiro.