Visitante
FermentAção: biotecnologia para inclusão e emancipação feminina
Sobre a Proposta
Tipo de Edital: Pibex
Situação: Aprovado
Dados do Coordenador
ana paula de figueiredo conte vanzéla
2023101202337168
departamento de farmácia-bioquímica
Caracterização da Ação
ciências biológicas
educação
trabalho
emprego e renda
municipal
no auge da bio: traduzindo biotecnologia em transformação social
Não
Membros
leida calegário de oliveira
Vice-coordenador(a)
ana carolina ferreira maia
Voluntário(a)
maria amélia vieira toledo sampaio
Voluntário(a)
aline moreira cunha monteiro
Voluntário(a)
vítor rodrigues neri
Voluntário(a)
daniele sabrina de fátima
Voluntário(a)
andre soares de oliveira
Voluntário(a)
paola aparecida alves ferreira
Voluntário(a)
nathalia silva malveira
Bolsista
nathalia cristina barbosa nogueira
Voluntário(a)
adler henrique de paula barroso
Voluntário(a)
ana lívia da cunha de andrade
Voluntário(a)
ana luiza cardoso rocha
Voluntário(a)
camilla vitoria dos santos
Voluntário(a)
dálida aparecida pinto
Voluntário(a)
fernanda ursino da cruz
Voluntário(a)
franciele salvador
Voluntário(a)
gabrielly sthefany tavares
Voluntário(a)
gisele almeida gonçalves
Voluntário(a)
glaciane simões de oliveira
Voluntário(a)
iara aparecida prates gonçalves
Voluntário(a)
isaquilene mendes de macedo
Voluntário(a)
joão gabriel de souza perdigão
Voluntário(a)
jordana cotta parma
Voluntário(a)
jordania thaís da conceição
Voluntário(a)
ketlen martins de matos
Voluntário(a)
khenety khevely fabiano
Voluntário(a)
lariene pires de souza rocha santos
Voluntário(a)
larissa ferreira motta
Voluntário(a)
luana esteves sena
Voluntário(a)
luma duarte felix
Voluntário(a)
marcela mariane veloso rocha marinho
Voluntário(a)
maria eduarda oliveira santos
Voluntário(a)
maria patricia anselmo
Voluntário(a)
mateus costa viana
Voluntário(a)
mírian da conceição dória
Voluntário(a)
natália mara vieira
Voluntário(a)
nayara do carmo ferreira
Voluntário(a)
priscila núbia rafael souza
Voluntário(a)
stéfanny luane soares sousa
Voluntário(a)
suedali villas boas coelho barata
Voluntário(a)
ana luiza borges pimenta
Voluntário(a)
brenda costa gomes
Voluntário(a)
emanuelle neves sobral
Voluntário(a)
ester damaris silva
Voluntário(a)
gabrielle xayene costa
Voluntário(a)
gabrielly da silva vieira
Voluntário(a)
hailla beatriz coelho viana
Voluntário(a)
hélen luanny silva sousa
Voluntário(a)
iany pinheiro de sousa
Voluntário(a)
iasmin pereira dos santos
Voluntário(a)
isis silva rodrigues
Voluntário(a)
joyce camila silva
Voluntário(a)
larissa thainá silveira lopes
Voluntário(a)
marco antonio moreira alves da rocha
Voluntário(a)
maria de lurdes pereira mendes
Voluntário(a)
maria eduarda leite santos
Voluntário(a)
maria luiza ferreira de jesus
Voluntário(a)
mylene cristine fernandes lima
Voluntário(a)
pedro ezequiel dos reis gonçalves
Voluntário(a)
roberta castro guedes
Voluntário(a)
rafael conte vanzela
Voluntário(a)
hailla beatriz coelho viana
Voluntário(a)
anthonny didier braga lopes
Voluntário(a)
carolayne soares azevedo
Voluntário(a)
hyagor amador dos santos
Voluntário(a)
jamily julia soares
Voluntário(a)
larissa lima pimenta
Voluntário(a)
leticia silva araujo
Voluntário(a)
maiara de fatima vieira
Voluntário(a)
marianny gomes oliveira
Voluntário(a)
sabrina guedes de sousa
Voluntário(a)
sofia santos bonfim
Voluntário(a)
larissa thainá silveira lopes
Voluntário(a)
A violência doméstica foi agravada pela crise econômica e sanitária resultante da pandemia recente, mas está histórica e culturalmente alicerçada no machismo estrutural, demandando ações de contraposição à dominação e posse da mulher como objeto, bem como de sua exploração e limitação como indivíduo. Um dos graves problemas da vulnerabilidade da mulher, das crianças e adolescentes se instala no trato cotidiano em que a violência, apesar de ilegal, torna-se rotineiramente vivida e aceita quase como um pacto de silêncio, mantido pelo medo e pela desconfiança no sistema, um ciclo difícil de quebrar, especialmente quando a vítima é dependente do agressor. Estes aspectos perpetuam situações de opressão, das quais, infelizmente e muitas vezes, o resultado final é o feminicídio. Por outro lado, as mulheres, especialmente as que se encontram em vulnerabilidade econômica, frequentemente acumulam o cuidado dos filhos e da casa, precisando escolher entre poucas oportunidades de trabalho e a jornada doméstica, o que dificulta sua emancipação emocional, financeira e intelectual. Vítimas da violência doméstica dependentes do companheiro e mães solo têm estas perspectivas ainda mais reduzidas. Outro fator que dificulta a inserção no mundo do trabalho é a baixa instrumentalização e formação profissional, sendo que diferenças de oportunidades para aquisição de capital cultural ao longo da vida contribuem para manter o ciclo da pobreza e dependência. Portanto, é preciso encontrar formas viáveis para inclusão, superação de vulnerabilidades e emancipação das situações de opressão e violência. As ações devem agregar processos de capacitação e iniciativas para conscientizar sobre o valor da educação como critério de emancipação, as quais devem atingir o próprio ambiente familiar, onde diversas mulheres se encontram restritas. É papel da universidade extrapolar seus muros e agir conjuntamente com os grupos sociais para transformação da sociedade, para enfrentamento ao preconceito e redução das desigualdades, o que passa pela valorização de todos os indivíduos, pelo reconhecimento da igualdade de direitos e oportunidades e pelo respeito à autonomia feminina e ao seu direito de produzir. A autonomia passa também pela independência financeira, sem a qual, as mulheres muitas vezes se submetem à situações de violência. Deste modo, a capacitação para a iniciativa no mundo do trabalho e para gerar sua própria fonte de renda é uma estratégia eficaz para enfrentamento da situação de vulnerabilidade. A biotecnologia tem muito a contribuir neste sentido, pois é uma área aplicada da ciência em diversos aspectos sociais e econômicos. Embora seja atualmente muito discutido o seu papel na produção de vacinas e medicamentos, a contribuição para a produção de alimentos é ancestral, tendo acompanhado a humanidade desde os princípios das civilizações. É possível que as pessoas se apropriem deste conhecimento para gerar produtos fermentados de qualidade, que possam ser comercializados, gerando uma fonte de renda e uma alternativa de trabalho. Assim, a FermentAção é uma ação pensada para fermentar o conhecimento de forma aplicada para capacitar mulheres em situação de vulnerabilidade, a fim de que possam produzir alimentos ou outros produtos utilizando princípios biotecnológicos, fazendo crescer suas oportunidades. Além disto, pretende aproximar ciência e educação pelo envolvimento dos jovens e das crianças nos aspectos científicos da produção destes fermentados.
Biotecnologia; Fermentação; Popularização da ciência; Renda; Emancipação feminina; Produção; Educação
A violência contra a mulher tem aumentado nos últimos tempos, gerando um retrocesso das visões sobre o feminino, seu papel social e seu direito como indivíduo. Esta violência foi agravada pelas questões sanitárias e econômicas que atingiram o mundo durante a crise pandêmica, prejudicando a geração de renda, as oportunidades de trabalho e criando situações mais conflituosas no ambiente familiar. Porém, é preciso compreender que a situação trazida a tona e revelada nas repercussões midiáticas não é nova na sociedade brasileira. Está instalada de forma estrutural e, dentre as diversas formas de violência que se expressam, algumas são mais explícitas, outras mais sutis e disfarçadas, outras, ainda, estão arraigadas como pilares da sociedade machista, afetando direitos básicos como a liberdade de escolha, a integridade física, o respeito, a educação e até mesmo a decisão de querer trabalhar! Estes limites - perpassando um olhar através da visão de Bell Hooks - precisam ser transgredidos e superados. Qualquer mulher que viva em uma sociedade estruturada por pilares da cultura colonialista, racista e patriarcal já experimentou tal realidade, mas, neste ciclo vicioso, as mulheres em situação de vulnerabilidade são mais atingidas, tendo dificuldade de encontrar trabalho e de conciliar a educação e proteção de seus filhos. Uma situação que requer ação efetiva da sociedade para minimizar as desigualdades, gerar oportunidade de renda e de trabalho que possam ser conciliados e adequados às suas necessidades, já que muitas destas mulheres não puderam ter acesso à capacitação profissional e ficaram por muito tempo fora do mundo do trabalho, ou têm dificuldade de conciliar a jornada em um turno comercial distante de casa. A biotecnologia tem muito a contribuir neste sentido, pois é uma área da ciência aplicada em diversos aspectos. Embora seja atualmente muito discutido o seu papel na produção de vacinas e medicamentos, sua contribuição para a produção de alimentos é ancestral, tendo acompanhado a humanidade desde os primórdios das civilizações, inclusive em seu processo de sedentarização. Os princípios que balizam a obtenção de produtos fermentados são anteriores ao surgimento do pensamento científico, pois muitos, como fermentados lácteos ou cárneos, bebidas como o vinho, a cerveja, os queijos e até mesmo a fermentação do pão foram produzidos de forma artesanal desde tempos milenares, alguns datando de antes de 5.000 a.C. Somente muito tempo depois, com a compreensão dos princípios microbiológicos e do processo de fermentação, é que os aspectos científicos da produção biotecnológica de alimentos foram elucidados. Inclusive, foi o interesse pela fermentação que impulsionou os estudos de Pasteur sobre seus aspectos microbiológicos. Assim, a biotecnologia é um conhecimento humano, um saber que essencialmente derivou do ambiente popular nas primeiras civilizações, de suas necessidades de produzir alimentos mais duráveis, de melhor conservação e sabor. Esses alimentos passaram a ser produzidos artesanalmente e, segundo o saber de cada família, tornaram-se parte de sua cultura e modo de vida, sendo transmitidos de geração em geração o seu processo produtivo e as "sementes" capazes de produzi-los, ou seja, os micro-organismos que dão origem a cada novo lote de produto. Embora sem conhecimento dos princípios científicos envolvidos, este saber perpetuou-se durante milênios e deu origem aos conhecimentos sobre microbiologia e fermentação que impulsionaram as grandes produções industriais do século XX, incluindo vinagre, ácidos orgânicos e, mais tarde, de medicamentos como a penicilina. É possível que as pessoas se apropriem deste conhecimento para gerar produtos fermentados de qualidade, que possam ser comercializados, gerando uma fonte de renda e uma alternativa de trabalho. Assim, a FermentAção é uma ação pensada para fermentar o conhecimento de forma aplicada, para capacitar mulheres em situação de vulnerabilidade, a fim de que possam produzir alimentos com princípios biotecnológicos e fazer crescer suas oportunidades. A inserção da biotecnologia no ambiente doméstico destas mulheres e seus filhos também apresenta um outro significado. É a popularização de uma área da ciência que a maioria das pessoas, até mesmo estudantes de graduação, consideram restrita aos círculos da elite científica de pesquisadores em grandes universidades ou companhias. E, de fato, a exclusão da população nesta área da ciência é tão latente, que o acesso às tecnologias moleculares em saúde são proibitivas para quem não pode pagar, como os diagnósticos por meio de painéis para investigação de variantes de tumor ou de doenças raras herdadas, que possibilitariam direcionar o tratamento, melhorando a qualidade de vida do indivíduo afetado e do seu círculo familiar, mas, que no entanto custam alguns milhares de reais. Sem falar nos caríssimos medicamentos de base molecular, cujas ampolas custam mais de R$ 200 mil reais por dose, ou outro já noticiado como o medicamento mais caro do mundo com seu valor de R$ 12 milhões de reais. Como falar de biotecnologia tendo esta realidade excludente como pano de fundo? Mas, o pior é a visão disseminada da ciência, especialmente da que se vincula a tecnologias moleculares, como atividade perigosa, capaz de formar mutantes e exercer controle mental, que tanto prejuízo causou nos últimos anos, resultando na rejeição de acesso à proteção da saúde até quando coberto pelo SUS. Isto se viu pela proporção significativa de pessoas que recusaram a vacinar-se por medo de que lhes seria implantando um chip de controle do DNA! Fake news e movimento anticiência são formas piores de exclusão porque implicam na limitação do acesso ao capital que de fato impulsiona as mudanças: o capital cultural. Em outra análise, nenhuma exclusão é tão prejudicial quanto aquela que despreza a capacidade de aprender e de aplicar, de enxergar realidades e construir soluções. Se as populações vulneráveis e excluídas historicamente forem consideradas incapazes de compreender e produzir tecnologia, ou se forem consideradas capazes de recebe-la apenas por meio de ações assistenciais ou puramente transmitidas, então perde-se a natureza da própria aplicação que começou com nossos ancestrais humanos, os quais desenvolveram processos biotecnológicos para suprir suas necessidades sem sequer compreender os fundamentos de microbiologia e bioquímica. A construção de biotecnologia a partir da realidade complexa do Vale do Jequitinhonha e sua população contribui para vencer tal paradigma. Pretende extrapolar uma educação puramente tecnicista, pela análise de realidades como pilares de construção de conhecimento significativo e socialmente relevante, o que na perspectiva pedagógica de Paulo Freire faz toda diferença para aprender. Até por experiência sabemos que contextualizar e dar sentido a conceitos novos, torna mais fácil a sua compreensão, ou mais ainda, sua aplicação, que é um aspecto inseparável da biotecnologia, considerando que tecno é - na raiz da palavra - sua base aplicada, unindo nestes aspectos a extensão e a pesquisa na busca de soluções, bem como o ensino e a extensão na geração de saberes significativos e articulados. Assim contextualizada e considerando que autonomia e desenvolvimento pessoal também passam pela independência financeira, sem a qual, as mulheres muitas vezes se submetem a situações de violência e os jovens deixam a escola, a proposta FermentAção, pretende aproximar educação, ciência e tecnologia. Pretende envolver mulheres em situação de vulnerabilidade, bem como jovens e crianças de seu convívio, para abordar e aplicar os aspectos científicos da produção de alimentos, unindo o interesse científico e a educação como caminho de realização pessoal no processo de geração de renda. Nesta ação, pretende-se organizar grupos de mulheres para discutir criação de oportunidades, para refletir o papel da mulher na sociedade, suas perspectivas de futuro e emancipação e formas pelas quais podem tornar realidade uma vida melhor. A partir destes grupos, serão conduzidos treinamentos para gerar uma biotecnologia na massa, ou seja, aplicada aos produtos cotidianos que possam gerar pão, pizzas, fermentados de frutas, queijos, iogurtes ou outros lácteos que possam ser introduzidos para uma alimentação mais saudável ou comercializável, trabalhando as técnicas de produção, mas também a questão da composição de custos, do marketing, da higiene, da inovação, as quais possam valorar seu produto e aumentar suas chances de inserção no mercado. Deste modo, a capacitação para a iniciativa no mundo do trabalho e para gerar sua própria fonte de renda é uma estratégia que se pretende aplicar ao enfrentamento da situação de vulnerabilidade e, juntamente, incluir crianças e jovens para participar das discussões sobre os conhecimentos aplicados, como ciências biológicas, microbiologia e transformações microbianas, o processo saúde/doença, imunidade, nutrição e valor da educação de forma prática, para gerar interesse pelos estudos e aproximá-los do ambiente universitário. A aproximação dos filhos nestas reflexões também pode gerar seu engajamento nas questões familiares, para sua conscientização sobre a situação econômica da família e leva-los à compreensão de que o estudo pode ser um meio de transformação e melhoria das oportunidades, gerando perspectiva mais concreta de seu protagonismo enquanto indivíduo e agente de mudança de sua própria vida.
A educação e a ciência precisam estar unidas para gerar conhecimento válido e aplicável em prol da transformação social. Esta é uma afirmação que, apesar do caráter óbvio, precisa ser trazida novamente à tona diante das ideias anti-científicas que se instalaram perniciosamente na sociedade e que podem gerar grave retrocesso se não forem ativamente enfrentadas. Talvez seja inédita a magnitude do alcance da discussão científica dos últimos três anos, permeando redes sociais, mídias impressas e televisivas, rodas de conversa e o ambiente familiar. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência noticiou audiência pública organizada pela Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados, na qual especialistas apontaram que "embora a opinião popular seja favorável à ciência, muitos não sabem os seus conteúdos ou como seus resultados impactam diretamente em suas vidas" - Renato Janine Ribeiro, presidente da SBPC - ou que, apesar de 62% dos entrevistados declararem interesse em ciência, "Ninguém é capaz de citar um cientista, ou mesmo de compreender, do ponto de vista prático, os resultados da ciência para o desenvolvimento da sociedade, ou para a cura das pessoas. Não há uma clareza nesse sentido" - Maria Zaíra Turchi, diretora de Cooperação Institucional do CNPq (Bueno, 2021). É sintomático quando, à primeira vista, consideramos razoável que uma proporção de apenas 62% da população esteja interessada em ciência, deixando claro que nunca houve tanta necessidade de pautar discussões por critérios qualificadores e de clarear como soluções humanitárias, de saúde e desenvolvimento econômico e social estão intimamente ligados às ciências. A FermentAção aproxima ciência da vida cotidiana, enquanto ação que une reflexões sociais sobre os direitos da mulher, sobre sua qualidade de vida e de oportunidades, sobre a necessidade de realizar ações para vencer o ciclo de violência doméstica e abrir perspectivas de construir conhecimento aplicável, valorizando saberes populares ancestrais e unindo princípios técnico-científicos à discussão de aspectos educativos no ambiente familiar. A ação leva a universidade a agir fora de seus muros, em conjunto com a sociedade e para sua transformação. Esta é por si só, uma definição de seu caráter extensionista. FermentAção: biotecnologia para inclusão e emancipação feminina está em curso desde 2022 e uma de suas contribuições foi justamente abrir a discussão sobre a violência que se esconde nas sombras e delas se alimenta, justificada no cultural coletivo que decorre do contexto em que o homem foi colocado como centro, detentor do papel de mantenedor e autoridade familiar, de quem os demais dependem e a quem pertencem. Este foi o tema de palestra do projeto FermentAção realizada este ano (Carvalho, 2022). Um dos resultados interessantes, iniciado pelo movimento de tirar a violência das sombras, de debaixo dos tapetes, foi o questionamento de uma das participantes acerca de qual é o limite. Há resposta para isto? Na perspectiva do tema, o que se discutiu foi justamente que se o limite é o imposto pela sociedade machista, o que se tem de perspectiva é extrapolar e superar. Ou na visão de Bell Hooks, temos que aprender a transgredir para que a educação seja libertadora (Hooks, 1952). A abordagem educacional incluída também nesta proposta extrapola a apresentação de princípios prontos ou conceitos teóricos de forma tradicionalista e expositiva. Dialoga com os envolvidos a partir de suas próprias experiências de vida, resgatando conhecimentos familiares normalmente encontrados na cultura e nas tradições populares, que produziram ao longo do tempo o Kefir, o queijo, os iogurtes, o pão ou fermentados alcoólicos em seu processo artesanal. Este conhecimento e tradição são, por vezes, interrompidos na sua transmissão de geração para geração por questões que envolvem as crises familiares, muitas vezes oriundas da pobreza, da falta de oportunidade de trabalho, da necessidade de sair do campo e ocupar espaços urbanos sem infraestrutura, gerando ruptura cultural. Tendo como foco a mulher em situação de vulnerabilidade, é preciso dialogar e refletir sobre as possíveis reconstruções, retomadas e caminhos que ela pode definir para sua vida, vencendo a relação tóxica dos relacionamentos familiares para construir uma situação que valorize sua dignidade e liberdade. Em oficina realizada pela equipe do projeto FermentAção - ainda vinculado ao edital Pibex 001/2022 - as participantes - uma das quais grávida em idade muito jovem, outra tendo perdido a guarda do filho por ser jovem, ter deixado a escola e não possuir trabalho - deixaram explícitos sua dificuldade de conseguir trabalho, o desgosto pela escola, a rejeição social que sentem, mas, também, partilhando experiências e sonhos apontaram que gostariam de ter uma confeitaria, um supermercado ou uma cervejaria. Na própria análise do que seria viável, uma delas discutiu o valor daquilo que seria capaz de produzir com as próprias mãos, que "um supermercado já teria tudo pronto" e na confeitaria o trabalho dela teria mais valor. São questões que reforçaram o impacto deste projeto para as comunidades vulneráveis, especialmente, o quanto é real o fato de que muitas mulheres não têm como gerar a própria renda. A violência é tão grave e generalizada, que além de ser um problema de saúde pública reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (Dahlberg; Krug, 2002) está inserido na nossa realidade, com efeitos que vão bem além das estatísticas (Dória, 2020). Nas rodas de conversa do projeto FermentAção, ficou muito claro que a violência a que a mulher e seus filhos estão submetidos decorre, frequentemente, de sua dependência econômica, da falta de oportunidade de trabalho e perspectiva de geração de renda. É o caso relatado pela jovem que perdeu a guarda do filho, tendo sido violado seu direito até mesmo de ver a criança aos finais de semana, apesar da determinação judicial. A justificativa é de que ela não tem trabalho e não fica em casa e que, assim que ela começar a manter a casa em ordem, a criança será levada para visitá-la. A confiança no sistema é tão pouca, que a jovem não acredita que deva recorrer à justiça para fazer valer a decisão judicial. Por outro lado, esta mesma jovem pensou que a primeira coisa que gostaria de ter é uma cervejaria. Ela não quer voltar à escola e relata não gostar de estudar. Mas, o próprio processo da fabricação da cerveja é oportunidade para estudar ciências naturais em seus aspectos aplicados: a química, os componentes de uma fórmula, as transformações da matéria-prima, o crescimento dos micro-organismos. E produzir cerveja é um conhecimento tão humano que cervejarias de 5.000 anos existiram no Egito antigo (Fioratti, 2021). Para vencer o ciclo, não basta fornecer fórmulas de produção, é necessário antes gerar reflexão sobre potencialidades do feminino e seu valor. A tomada de decisão para resgatar e ampliar os processos aplicáveis na produção de alimentos comercializáveis deve partir desta reflexão para a ação, a base que alicerça a fermentação do pensamento e da mudança de atitude, antes de fermentar a matéria-prima em si. Precisa desta forma, envolver todo o contexto familiar, abrindo participação para todos os membros do seu convívio, inclusive crianças e jovens, mas também os parceiros das mulheres que estiverem dispostos a dialogar. A partir das reflexões e perspectivas geradas, serão aprofundadas a formação para a produção, pelo resgate dos elementos do cotidiano e do histórico de vida das mulheres e seus grupos familiares. A ação continuará após definição do que desejam produzir, do que sabem produzir e agregando valor ao seu saber, pela capacitação com os princípios de fermentação para melhorar a qualidade, durabilidade, valor nutricional e procedimentos de higiene, administração de recursos, elaboração de preços, publicidade. O painel de produtos poderá ser ampliado pela formação de grupos de mulheres reunidas de uma mesma comunidade que se fortalecem pela troca de saberes, suporte emocional e amizade, contribuindo para experiências humanas significativas, transformadoras e para ações mais duradouras. Deste modo, serão aliadas a reflexão, a tomada de consciência para agir e a instrumentalização para gerar renda a partir da implementação de tecnologia de fermentação para produzir e comercializar alimentos. Por isto, a ação tem caráter educativo e para a geração de tecnologia de produção, unindo conhecimento de produção artesanal de alimentos aos princípios científicos que permitem valorizar o produto e melhorar sua possibilidade de comercialização, gerando alternativa de renda familiar. Assim, se insere nas áreas de Educação, trabalho e geração de renda. O projeto em andamento encontrou abrigo em uma comunidade carente de Diamantina, que lhe abriu as portas para uso da cozinha comunitária e da escolinha, como carinhosamente denominam o espaço de aprender das crianças. Entretanto, já de início esbarrou com a falta de água potável, enquanto o movimento da comunidade luta para estabelecer mais parcerias com a universidade e outros órgãos no sentido de instalar uma estação de tratamento de água. O desafio que se apresentou não é motivo para parar, mas, sim para pensar alternativas até que se efetive a geração de renda pela elaboração, resgate ou melhoria dos processos artesanais de produção. Os grupos vão sendo articulados para trabalhar aspectos científicos inerentes a cada produto, de forma condizente com o contexto, mas valorando o processo educativo informal e formal nas suas inter-relações e procurando aprofundar tais aspectos, já que aprender é também avançar, evoluir. Um avanço que engloba o prático, mas também o teórico, pois o pensamento científico se constrói com observações e interpretação de fatos e, desta forma, ações educativas também se inserem no contexto produtivo. Por esta razão, a inserção de crianças e jovens durante os momentos de fermentAção continuará sendo sempre bem acolhida para que possam opinar, discutir, duvidar e perguntar sobre as transformações que ocorrem e geram alimentos modificados. Isto é ciência em prática, é educação aplicada. Os membros da equipe proponente têm atuado como mediadores e continuarão sua ação, procurando inserir elementos da educação formal que levem a pensar sobre ciência, microbiologia, transformações químicas e biológicas, saúde, imunidade, vacinas, nutrição. Por isto espera-se também que a FermentAção contribua para modificar as perspectivas educacionais destes jovens e para melhorar suas possibilidades de acesso ao ambiente universitário. E finalmente, em consonância com os anseios das pessoas que encontramos, nos preparamos para contribuir na elaboração dos produtos e organização de um espaço de venda: a feirinha comunitária, um dos ideais desta comunidade.
A FermentAção tem por objetivo geral contribuir para que mulheres em situação de vulnerabilidade social se apoderem de perspectivas de emancipação, por meio da aplicação de tecnologia das fermentações na produção e melhoria de alimentos fermentados que possam ser implementados no seu cotidiano para geração de renda. Objetivos específicos 1 - Acessar por meio de interação com moradores conhecidos e liderança da Ocupação Vitória, mais mulheres em situação de vulnerabilidade social que desejem/ necessitem integrar a proposta de FermentAção e continuar acompanhando as que já se integraram ao projeto; 2 - Melhorar a definição dos dias e horários mais apropriados para viabilizar a participação das mulheres; 3 - Elaborar materiais de reflexão trazendo elementos da atuação transformadora das mulheres nas artes, na ciência, na educação, na política e no mundo do trabalho, abordando o protagonismo feminino e suas contribuições; 4 - Realizar troca de experiências de mulheres da comunidade que signifiquem exemplos de força e superação para as jovens; 5 - Realizar reuniões para pensar o valor do feminino, suas formas de expressão, sonhos e perspectivas de atuação; 6 - Realizar novas reuniões de resgate dos elementos da cultura de produção alimentar presentes no histórico de vida destas mulheres, manter os momentos de discussão de memórias familiares destes elementos no contexto familiar e suas possibilidades de resgate/ continuidade de produção; 7 - Verificar os processos produtivos/produtos que as mulheres definem como objeto da ação a fim de aprender com seus saberes para planejar a aplicação de conhecimentos de tecnologia da fermentação, para melhorar a produção, qualidade e valor de mercado; 8 - Elaborar e realizar os encontros de treinamento para desenvolvimento e implementação da produção com critérios de padronização da qualidade, higiene, definição de embalagens, logomarca, divulgação, elaboração de preços e formas de comercialização; 9 - Envolver crianças e jovens para acompanhar de forma segura os processos produtivos e as análises sensoriais dos produtos, oportunizando sua manifestação de conhecimento, dúvidas e a relação com conteúdos da educação escolar, inclusive de princípios matemáticos nos cálculos de custo e venda, quantidade de insumos adicionados na produção, princípios de microbiologia e transformação microbiana, relação entre micro-organismos benéficos e saúde versus infecção, nutrição, imunidade; 10 - Inserir discussões sobre ciência, educação superior e tipos de cursos, áreas do conhecimento e oportunidades de acesso, envolvendo estudantes universitários das disciplinas de biologia molecular aplicada e biotecnologia para analisar as oportunidades de atuação nestas áreas; 11 - Promover ações de publicidade do projeto, dos grupos produtores e auxiliar na divulgação dos produtos elaborados; 12 - Produzir material bibliográfico compilando os produtos, suas características e as experiências vividas na sua construção, para fins de registro e arquivo memorial dos grupos constituídos; 13 - Contribuir com a comunidade para organizar a feira de produtos e emancipar os grupos para que possam seguir com suas ações, prestando ações de formação sob demanda ou auxiliando na busca de treinamento formal.
Meta 1 - Ampliar o grupo de mulheres produtoras de alimentos utilizando tecnologia das fermentações para atingir ao menos 20 mulheres integrantes. O cumprimento da meta será acompanhado por meio do número de participantes engajadas nestes grupos, pelo tempo de sua permanência e pela quantidade de processos produtivos implementados. O impacto direto esperado do cumprimento desta meta é a articulação de grupo cooperativo para a reciprocidade e crescimento mútuo de 20 mulheres, gerando desenvolvimento pessoal e aumento da realização pessoal pela perspectiva de protagonizar a própria emancipação no mundo do trabalho. Meta 2 - Instrumentalizar as mulheres participantes sobre seus direitos sociais e a tomada de consciência sobre ações para libertação de situações de opressão e violência - atingir pelo menos 50 pessoas relacionadas à comunidade e núcleos familiares para melhoria da segurança e respeito aos direitos humanos a partir das mulheres participantes dos grupos constituídos. O cumprimento da meta será avaliado a partir da qualidade das discussões e pelas iniciativas apresentadas para vencer a situação de violência e pobreza, como denúncias de abuso, ações para melhoria no ambiente familiar, proteção aos direitos das crianças, engajamento na escola, busca por educação. Espera-se que o impacto direto desta meta resulte na melhoria das relações interpessoais em cerca de 10 núcleos familiares - considerando que várias participantes pertencem ao mesmo núcleo - bem como se estenda indiretamente para ações mais humanas em relação aos demais membros da comunidade, resultando em impacto indireto para ao menos 100 pessoas. Meta 3 - Instrumentalizar as mulheres participantes para gerar renda familiar a partir de suas ações produtivas - atingir pelo menos 10 núcleos familiares com a geração de renda. O cumprimento desta meta será mensurado pelo quantitativo de renda gerado a partir dos produtos comercializados e pela contribuição destes na alimentação familiar como meio de reduzir o gasto com alimentos industrializados caros e prejudiciais à saúde, pela aceitação progressiva destes produtos nos mercados ou pela população local e turistas, pela qualidade alcançada, pela emancipação destas mulheres na proposição de novos produtos e processos, na definição de custos e valores, proposição de ações de marketing, embalagem e iniciativas de cooperação e comercialização. O impacto direto esperado do cumprimento desta meta é incrementar a renda de ao menos 10 famílias, com impacto indireto de movimentar a comunidade, fazendo circular valores e produção de matérias-primas, aquisição de produtos da agricultura familiar e atrair compradores de fora. Deste modo, um impacto indireto deve atingir ao menos 200 pessoas, além de melhorar a visão da comunidade perante a opinião pública de Diamantina. Meta 4 - Fomentar o crescimento educacional e científico dos grupos envolvidos - atingir pelo menos 20 mulheres e seus núcleos familiares para a busca contínua de formação, cursos e treinamento, bem como para a aplicação na melhoria dos seus processos de produção. O cumprimento da meta será avaliado pelas iniciativas de treinamento/capacitação, ações educativas, reuniões, cursos em que as mulheres se dispuserem a participar e pelos seus relatos de experiências acerca dos benefícios gerados em suas vidas, pelo grau de felicidade que relatarem a partir de suas iniciativas. O impacto desta meta deve resultar na capacitação de 20 mulheres para aplicar conhecimentos de mercado, economia familiar, organização de negócios e identificação de oportunidades de crescimento. O impacto indireto deve atingir ao menos cerca de 200 moradores, pela movimentação de recursos na comunidade, que poderá contribuir para a cozinha solidária que serve almoço diário. Meta 5 - Melhorar o rendimento escolar das crianças e jovens do núcleo familiar por meio da sua inserção no projeto - atingir pelo menos 10 jovens e crianças. O cumprimento da meta será avaliado a partir das experiências destes jovens e crianças sobre seu engajamento na realização de atividades escolares, o tempo dedicado ao estudo, o rendimento nas avaliações, retorno/continuidade dos estudos nos níveis seguintes e e seus relatos quanto à perspectiva de futuro, inclusive quanto ao ensino superior. O impacto esperado do cumprimento desta meta é melhorar o rendimento escolar, o interesse pelos estudos e a permanência na escola de ao menos 10 crianças e jovens. O impacto indireto deve atingir suas famílias futuras e os idosos, oportunizando maiores oportunidades de trabalho com melhores remunerações que lhes permitam investir na qualidade de vida de seus entes queridos. Meta 6 - Melhorar a qualidade alimentar e as condições de saúde dos grupos familiares envolvidos a partir das reflexões sobre qualidade nutricional, higiene, microbiologia, imunidade e saúde. O cumprimento da meta será avaliado a partir das experiências familiares quanto a alimentos saudáveis inseridos no cotidiano em substituição aos alimentos industrializados de pouco valor nutricional, quanto ao uso dos alimentos caseiros fermentados, quanto à introdução de procedimentos de conservação dos alimentos, tratamento da água e higienização de insumos no preparo. O impacto esperado da meta é que a inserção de alimentos saudáveis e hábitos de cuidado com a água, higiene e saúde reduza a ocorrência de morbidades como cáries, desnutrição, parasitoses, infecções, melhorando a qualidade de saúde e de vida de 50 pessoas ou mais de forma direta. Indiretamente, o impacto deve atingir a proteção e preservação dos recursos ambientais, o que é benéfico para toda a comunidade, devendo beneficiar quaisquer moradores locais ou até mesmo da cidade. Os impactos diretos estimados nas metas acima preveem um quantitativo de grupos (1) e sua ampliação quanto ao número de mulheres envolvidas (20), seus núcleos familiares (10 núcleos, 50 pessoas ou mais, considerando pela experiência adquirida que integrantes do projeto às vezes pertencem à mesma família), crianças e jovens (10 ou mais) totalizando ao menos 50 pessoas. Porém, os impactos indiretos podem atingir outros membros e núcleos familiares próximos, com relações de amizade ou parentesco, bem como a vizinhança e os bairros próximos ao envolvido na ação. Considerando que cada indivíduo possui um mínimo de 5 relacionamentos pessoais fora de seu núcleo familiar, as ações podem atingir ao menos 200 pessoas, além da clientela que for constituída como consumidores de produtos familiares. A divulgação destas ações pode conscientizar para a valorização da mulher, para seu respeito, para ressignificação do direito ao protagonismo da própria vida, para fomentar a iniciativa de emancipação em outras mulheres, um processo em cadeia que pode se estender muito além do mensurável. Assim como a fermentação bioquímica transforma a massa e a faz crescer, o projeto FermentAção pode conduzir transformações para muito além das estimativas acima.
Etapa 1 - Reuniões periódicas da equipe para elaborar material, discutir ações e planejar e analisar resultados contínuos das atividades dos grupos de FermentAção. A reunião será organizada pela coordenação e pela bolsista do projeto em caráter mensal e realizada de forma online ou presencial. Será enviado convite/link de participação a todos os membros indicando os assuntos que serão tratados. Os membros que estiverem mais diretamente envolvido nas ações previamente realizadas serão solicitados a contribuir com o relato de experiências, análise de resultados alcançados e reorganização quando houver necessidade. Indicador de meta: cumprimento da reunião, frequência dos membros da equipe, qualidade da discussão avaliada pelas decisões tomadas e ações planejadas. Etapa 2 - Elaboração de estratégias para engajamento e frequência das mulheres envolvidas nos grupos de produção de fermentados. As estratégias serão definidas de acordo com os resultados de frequência e participação que forem analisados nas reuniões periódicas da equipe. Sempre que necessário serão elaborados meios de divulgação e contato com o público alvo a fim de melhorar sua participação contínua na ações do projeto, tais como preparação de convites impressos ou divulgação via grupo de WhatsApp, aproximação e visitas no cotidiano, elaboração de rodas de conversa e atividades culturais que sejam atrativas ao público alvo. O público alvo participará destas estratégias como interlocutores dos demais membros da comunidade, visto que sua proximidade lhes permite uma abordagem e convite mais direto. Indicador de meta: quantitativo e frequência de mulheres engajadas. Etapa 3 - Reflexão sobre o papel feminino na sociedade e suas contribuições, com promoção de segurança e apoio mútuo A reflexão será organizada de forma contínua, por meio de conversas descontraídas e informais durante o início da reunião e em clima de acolhida. As participantes da ação participarão expressando-se livremente, à medida em que desejarem partilhar histórias e convidar outras mulheres que lhes sejam significativas a estar presentes, contribuindo com suas experiências. Terão a liberdade de convidar membros da comunidade e propor atividades dinâmicas, apresentações poéticas, texto, vida e obra de mulheres brasileiras, da região ou da própria comunidade de modo aberto à comunidade ou restrito ao grupo. A equipe proponente se engajará para providenciar os materiais necessários e a organização adequada do ambiente. Ninguém será induzido ou constrangido a falar, a menos que queira, sendo pactuado, desde o início o sigilo acerca das partilhas do grupo em atividades que forem de participação restrita. Indicador de meta: qualidade e abrangência da reflexão, ações tomadas para por fim à violência, para proteção das crianças e melhoria do ambiente familiar. Etapa 4 - Resgate de produtos fermentados a partir do histórico familiar Nas reuniões da etapa 3, sempre que necessário ou sob demanda das integrantes das ações serão revistos os produtos que foram delineados como de interesse para o desenvolvimento, especialmente quanto novas integrantes trouxerem suas experiências com produtos da história familiar e de seu cotidiano, caracterizando um desejo de contribuir. O grupo de participantes poderá avaliar a inserção de novo produto no portfólio que será a base dos produtos para comercialização, tendo em vista uma análise auxiliada pela equipe proponente quanto aos aspectos práticos, inclusive preço, disponibilidade de matéria-prima, especialmente da economia e agricultura familiar, apelo de venda e viabilidade de produção. Em seguida, a estudante bolsista e a equipe farão a análise do processo de obtenção a fim de verificar os processos fermentativos envolvidos, se existem registros dos micro-organismos produtores, se existem fontes para sua obtenção, forma de condução do processo e todos os aspectos técnico-científicos que podem auxiliar para implementar uma produção com qualidade e a custo viável, mantendo também a ética e as vias legais caso exista acesso ao patrimônio genético brasileiro ou conhecimento tradicional associado. Estas questões serão discutidas nas reuniões periódicas da equipe proponente, buscando uma análise profunda das implicações, técnicas, éticas e legais. Após a busca destes conhecimentos, o grupo deve reunir-se novamente com o público alvo, levando proposta de produção em linguagem clara e considerando as informações/orientações prestadas pelas mulheres que os propuseram, bem como os tipos de recursos disponíveis, custo e seu acesso. Indicador de meta: existência de produtos definidos para a etapa de desenvolvimento e processos elaborados. Material técnico construído a partir dos estudos realizados. As mulheres integrantes da ação deverão ter uma participação ativa e crítica na análise destes processos e deliberar juntamente com a equipe pela sua inserção e viabilidade de fabricação pelo grupo antes da sua integração ao portfólio de produtos. Etapa 5 - Desenvolvimento de processos e produtos. Nesta etapa, que permeará toda a ação, serão conduzidos encontros mensais, a fim de conduzir a padronização dos processos de obtenção, realizar o treinamento para manipulação segura dos alimentos, para higienização dos materiais, insumos e vestimenta adequada durante a produção, definir embalagens a partir de materiais recicláveis e de baixo custo, desenvolver a forma de marketing, precificação e inserção no mercado. As mulheres alvo da ação serão incentivadas a adquirir autonomia em toda a cadeia do processo, desde a elaboração e análise de custo das matérias-primas, conservação/seleção dos micro-organismos fermentadores, condução do processo fermentativo, embalagem, divulgação e venda. Ao longo de 12 meses de ação, espera-se que o grupo possa ir gradativamente adquirindo independência da equipe extensionista, tornando-se mais ativo na proposição e definição de novos produtos. Para isto, a equipe deverá ser assídua nas reuniões, bem como deverá buscar constante atualização acerca dos produtos, prestando orientação e auxiliando na busca de treinamento extra quando necessário. Indicador de meta: estabelecimento de processos produtivos, gerando produtos comercializáveis, inclusão de alimentos mais saudáveis na alimentação familiar, alcance da inserção dos produtos no mercado e renda gerada, iniciativas emancipadas de introdução de novos produtos, de busca por formação e implementação de novas ações de marketing e comercialização. Etapa 6 - Engajar crianças e jovens do convívio familiar. Os jovens e crianças serão sensibilizados por meio de uma busca ativa, feita especialmente pela estudante bolsista e outros colegas de graduação que serão convidados a participar das reuniões de desenvolvimento de produtos. O convite será preparado pelos próprios estudantes, na forma de material impresso acolhedor e divertido, que será entregue pelas suas mães no convívio familiar. Os membros que comparecerem serão ativamente engajados e poderão discutir o processo e as transformações que ocorrem. Para facilitar sua participação, a cada reunião de desenvolvimento, um experimento científico simples será conduzido no início, para ilustrar conteúdos de ciência e tecnologia das fermentações, a partir do qual será fomentada uma discussão e análise das causas para os resultados observados, bem como para saber como se aplica aos processos microbiológicos, de saúde, nutrição, produção. As crianças e os jovens serão estimulados a trazer perguntas sobre os conteúdos estudados na escola que se relacionem com os temas científicos, bem como sobre suas dúvidas, exemplos no cotidiano, seus usos e aplicações. Poderão trazer dúvidas sobre conteúdos escolares que requerem auxílio para aprendizado e a equipe se mobilizará segundo sua formação para contribuir. Indicador de meta: aumento do rendimento e da frequência escolar, participação nas reuniões da ação, contribuições nas discussões científicas e planejamento de estudo para ingresso em níveis posteriores de ensino, mensuráveis segundo relatos dos participantes, frequências nas reuniões e experiências relatadas pelas mães. Etapa 7 - Registro memorial da ação. Serão realizadas entrevistas com relatos de experiências das mulheres participantes e membros do seu convívio familiar, os quais serão registrados sem identificação pessoal, para preservação da privacidade e liberdade de expressão. Para fins de indicadores e acompanhamento das metas e objetivos, os relatos serão solicitados quanto ao impacto da ação na sua perspectiva de vida, no grau de satisfação pessoal/felicidade, na geração de renda, quanto ao convívio social e familiar, quanto ao bem estar emocional dos membros da família, qualidade nutricional, quanto à frequência e rendimento escolar dos jovens e crianças envolvidos na ação. Para produção de registro memorial, fotos do portfolio de produtos gerados, da equipe produtora das embalagens construídas e das iniciativas dos grupos de mulheres serão impressas em material bibliográfico para campanha e manutenção da ação, após a emancipação do grupo e prestação de contas à Proexc. Resumos e publicações extensionistas serão feitas em eventos próprios da universidade, respeitando-se o direito à imagem dos envolvidos, bem como sua liberdade de não participar. Indicador de meta: material impresso e audiovisual das ações, portfólio de produtos, participação e apresentação dos resultados em eventos ou periódicos de extensão.
A fermentação é um processo biotecnológico utilizado amplamente nos dias atuais, entretanto não é um processo recente. Conforme citado por Duarte (2014), há muito tempo o homem percebeu que poderia utilizar-se de reações que ocorriam na natureza de forma espontânea, trazendo facilidades ao seu dia-a-dia. A partir de então ele poderia conservar e preparar alimentos, inclusive bebidas que geravam um efeito inebriante e facilitavam suportar as baixas temperaturas, de modo que essas descobertas contribuíram para a sedentarização. Vivenciando as experiências, observando os resultados, o homem conseguiu, mesmo sem compreender ao certo o processo, dominar a técnica de fermentação. Existem achados arqueológicos que mostram o uso de alimentos fermentados desde 5000 a.C. (FIORATTI, 2021). Outros alimentos, como o pão tornaram-se fundamentais na alimentação humana desde tempos imemoriais e, decorrentes dos processos fermentativos, acabaram por tornar-se indispensável até hoje. Damaso e Couri (2021) conceituam a fermentação como um mecanismo anaeróbico de produção de energia sem o envolvimento da cadeia respiratória. Entretanto um conceito mais abrangente “consiste no processo que ocorre quando o microrganismo se reproduz, a partir de uma fonte apropriada de nutrientes, visando a obtenção de um bioproduto”. Neste processo, os substratos são transformados e ocorrem alterações na sua constituição, gerando moléculas que fornecem propriedades sensoriais e aromáticas agradáveis, além de melhorar a conservação dos alimentos. Por isto, o domínio das técnicas de criação de animais e agricultura juntamente com o estabelecimento de processos fermentativos contribuiu para a sedentarização humana. A fermentação está relacionada com processos desenvolvidos na indústria farmacêutica, na indústria química, na agricultura, na indústria de alimentos. O domínio da técnica de fermentação nos permitiu a produção de uma série de alimentos utilizados até hoje, como por exemplo os pães, iogurtes, queijos, vinhos, além de outras bebidas fermentadas. É uma técnica que pode ser empregada em prol da geração de renda, de modo a contribuir para o enfrentamento das vulnerabilidades socioeconômicas vivenciadas e agravadas, mas não exclusivamente no contexto pandêmico e pós-pandêmico. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea, houve um avanço em relação ao Índice de Vulnerabilidade Social, subíndice Capital Humano, (IVS Capital Humano) para muitos municípios brasileiros, sobretudo nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e no norte do Rio Grande do Sul, assim como em diversos municípios da Região Centro-Oeste, quando se comparam dados de 2010 com aqueles de 2000 (IPEA, 2015). Entretanto, como apontado nesse mesmo estudo, isso não acontece para a maior parte das regiões Norte e Nordeste e dos Vales do Mucuri, do Rio Doce e do Jequitinhonha, além do norte do estado de Minas Gerais, que mantêm elevado IVS Capital Humano, demonstrando uma grave situação que precisa ser enfrentada, não só para garantir melhores condições de vida para a população residente nessas regiões, mas também para promover redução da desigualdade interna no país. O subíndice referente ao capital humano expressa as fragilidades das pessoas, no que diz respeito ao seu estoque de capital humano e ao seu potencial de construção deste capital junto às novas gerações, combinando elementos do capital familiar com o capital escolar. Os indicadores utilizados medem os seguintes fatores: a mortalidade infantil; crianças e adolescentes até 14 anos fora da escola; mães precoces; mães chefes de família, com baixa escolaridade e com filhos menores de idade; baixa escolaridade domiciliar estrutural; e a presença dos jovens que não trabalham e não estudam (IPEA, 2015, p.34). Mas, esse não é o único problema que aflige tal população. De acordo com Dahalberg e Krug (2002), estima-se que uma das principais causas de morte de pessoas entre 15 e 44 anos em todo o mundo se deva às diversas violências. Estima-se que, a cada ano, mais de um milhão de pessoas perdem a vida, e muitas mais sofrem ferimentos não fatais resultantes de autoagressões, agressões interpessoais ou violência coletiva. Doria (2020) afirma que a violência doméstica ou violência intrafamiliar é aquela que ocorre entre os parceiros íntimos e entre os membros da família. É a violência infligida pelo parceiro íntimo, o abuso infantil e abuso contra os idosos. Ela pode ser definida como toda ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a integridade física e a psicológica, ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de outro membro da família (DORIA, 2020). Segundo Peterman e colaboradores (2020), houve um agravamento de alguns indicadores relativos à violência doméstica, em virtude do isolamento social imposto pela pandemia da Covid-19. Estes autores afirmam que estes dados são ainda incipientes, mas há evidências que apontam para o aumento desse tipo de violência. De acordo com relatório produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2020), os dados apontam para uma redução dos casos de violência doméstica, porém estes números parecem não refletir a realidade, acreditando-se que tenha ocorrido uma subnotificação em virtude da dificuldade de realizar a denúncia durante o isolamento. Neste cenário, as vítimas mais frequentes do abuso são as mulheres e as crianças que, além da violência física, são obrigadas a conviver constantemente com o agressor, gerando impactos emocionais, perda de autoestima, da perspectiva de realização pessoal e de futuro. As Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU MULHERES, 2020) relatam que a crise econômica agravada pela pandemia da Covid-19 contribuiu para a ocorrência da violência doméstica, enquanto os dados notificados em Diamantina, mostram a necessidade de ações para proteção à mulher, à criança e aos adolescentes. Segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, citados por Dória (2020), foram computados 94 casos de violência doméstica, sexual ou outros casos em 2019 na cidade de Diamantina, 135 casos em 2018 e 108 casos em 2017. Segundo estes dados, a violência doméstica poderia ter diminuído, entretanto, a diminuição de casos registrados não significa diminuição de ocorrências, conforme apontado por outros autores. E quando se compara com dados de 2013, os casos saltaram de 17 para 94 em 2019. Além disto, houve aumento de violência contra crianças e adolescentes, concentrando-se os casos na faixa etária de 10 a 14 anos. Os dados da secretaria de Saúde de Minas Gerais (apud Doria, 2020) também mostram que a mulher se encontra em imensa desigualdade de vulnerabilidade em Diamantina. Um índice de 86% dos casos de violência doméstica em 2019 atingiu o sexo feminino, havendo também maior incidência de violência contra indivíduos da cor parda (54,8%) e preta (17,2%) que somados superam um índice de 17,2% de casos de violência contra indivíduos brancos. Diante da situação de violência é preciso prover meios para supera-la, pois os mecanismos legais que garantem o direito à denúncia, não são eficazes se a mulher continuar a depender do seu agressor para o sustento familiar, ou se não encontrar meios de emancipação. O processo de educação e capacitação para o mundo do trabalho está intimamente ligado ao processo de desenvolvimento do pensamento crítico e da autonomia, não apenas pelo ato de pensar, mas pelo desenvolvimento de competências para tomar decisões e sentir segurança para agir. No caso da violência doméstica, um dos fatores necessários ao desenvolvimento de autonomia e liberdade é a possibilidade de garantir o seu próprio sustento, de atingir um grau de independência financeira suficiente para deixar a situação de opressão. Por esta razão, é preciso gerar alternativas de trabalho que sejam empoderadoras, não apenas na repetição dos papeis impostos à mulher, mas pela capacitação para iniciativas que valorizem o seu potencial empreendedor a partir de sua visão de mundo. A FermentAção: biotecnologia para inclusão e emancipação feminina age neste contexto, a fim de fomentar reflexões, instrumentalização e propiciar pensamento autônomo e iniciativas de emancipação feminina para quebrar o ciclo de violência doméstica, ressignificando seu protagonismo de vida, a visão do feminino e suas contribuições para uma sociedade mais justa e fraterna. Se fermentar é transformar, a tecnologia das fermentações, uma área da biotecnologia, pode ser apropriada pela economia familiar, onde teve e mantém suas origens, para produzir alimentos mais saudáveis, de maior valor agregado, com potencial para gerar renda, aprendizado e mudança social. Referências bibliográficas são inseridas neste campo devido à ausência de campo específico BUENO, C. Pandemia evidenciou importância da ciência e seus benefícios, afirmam especialistas. SBPC, Jornal da Ciência, 2021. Disponível em: http://portal.sbpcnet.org.br/noticias/pandemia-evidenciou-importancia-da-ciencia-e-seus-beneficios-afirmam-especialistas/. Acesso em 28 jul. 2022. CARVALHO, L.G. A violência e suas sombras: reconhecer, compreender e agir. Palestra online vinculada ao Projeto FermentAção: biotecnologia para inclusão e emancipação feminina. Organizada por Vanzela, A.P.FC. Canal Biotec para todos, 2022. Disponível em: https://youtu.be/TcLtfM4im6U. Acesso em 28 jul. 2022. DAMASO, M.C.T; COURI, S. Árvore do conhecimento – tecnologia de alimentos. Agência Embrapa de Informação Tecnológica – Ageitec. Disponível em: https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/tecnologia_de_alimentos/arvore/CONT000fid5sgif02wyiv80z4s4737dnfr3b.Acesso em 17 set. 2021. DUARTE, F.T.B. A Fermentação alcoólica como estratégia no ensino de transformação química no nível médio em uma perspectiva interdisciplinar. Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino de Ciências) – Faculdade UnB Planaltina, Universidade de Brasília. Brasília, p. 192. 2014. Disponível em: https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/17042/4/2014_FlaviaTocciBoeingDuarte.pdf. Acesso em 17 set. 2021. DAHLBERG, L. L.; KRUG, E. G. Violence: a global public health problem. In: KRUG, E. G. et al. (Eds.) World report on violence and health. Geneva: World Health Organization, 2002. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/42495/9241545615_eng.pdf. Acesso em 17 set. 2021. DORIA, G.A. Um olhar além dos números: análise do perfil epidemiológico da violência interpessoal e autoprovocada notificada do município de Diamantina, Minas Gerais. 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A estudante bolsista será preparada para a atuação no projeto mediante prévias análises juntamente com a equipe do projeto sobre indicadores sobre situação de violência familiar e indicadores de educação, renda e trabalho no município de Diamantina, conforme dados da Secretaria de Estado de Saúde, Secretaria de Educação e IBGE. Deverá atuar juntamente com a equipe do projeto para a proposição e construção das estratégias de aproximação das mulheres em situação de vulnerabilidade social segundo orientações obtidas a partir das reuniões preparatórias da equipe. Essa capacitação contribui para uma formação mais ética, reflexiva e humanista como preconizam as diretrizes curriculares dos diversos cursos de graduação, especialmente os da área da Saúde. Estudantes de graduação frequentemente se veem desvinculados ou pouco ligados à prática profissional durante o seu curso, uma realidade do curso de Farmácia, especialmente da elevada carga horária em sala de aula falta de vivência prática. Com as mudanças nas diretrizes curriculares, é favorecida a sua inserção precoce nas situações reais do cotidiano, onde um dia deverão atuar na promoção, proteção e recuperação da saúde integrando uma equipe multidisciplinar. Para isto devem construir competências necessárias, que envolvem lidar com as questões humanas e sociais de seu tempo, perceber desafios e fomentar mudanças, valorizando a democracia, a diversidade de pensamentos e considerando a realidade onde está inserido o seu fazer. Estudantes da área de humanas e licenciaturas também serão integrados à equipe, de modo que a visão multidisciplinar dos próprios estudantes e dos membros docentes, técnicos e colaboradores profissionais possibilitará uma visão holística da educação no processo de instrumentalização para o trabalho e de proteção da saúde. Por isto, a inserção no projeto permitirá aos estudantes trabalhar conteúdos teóricos da área de biotecnologia e biologia molecular, presentes em disciplinas do seu curso de graduação, áreas estrategicamente voltadas para o desenvolvimento tecnológico, econômico e social, mas, sobretudo de forma aplicada à melhoria da qualidade de vida e dos indicadores sociais, possibilitando aos estudantes de outras áreas implementar sua formação humana com visões da sociedade e das ciências tecnológicas que instrumentam a dimensão social, criativa e produtiva do ser humano. Esta ação também contribuirá para consolidar a revisão de conteúdos de disciplinas básicas, como citologia, genética, bioquímica, fisiologia, microbiologia, cujos componentes se vinculam a elementos da educação básica e com ela se conectam nesta proposta pela inserção dos estudantes, crianças e jovens, do núcleo familiar das mulheres que atuarão nos grupos de FermentAção. O estudante deverá: 1 - participar das reuniões preparatórias, contribuindo significativamente para as decisões sobre a abordagem de aproximação que será adotada para reunir as mulheres e propiciar seu engajamento e envolvimento ativo no projeto, recebendo para tanto, capacitação pela equipe da proposta e por profissionais convidados. Sua avaliação se dará pela qualidade da participação nas discussões, contribuições apresentadas e maturidade desenvolvida ao longo do projeto. 2 - Agir, juntamente com a equipe, contactando a liderança da comunidade, as mulheres envolvidas na ação e os membros do seu grupo familiar sempre que for necessários realizar eventos e campanhas. Sua avaliação será efetuada pelo desenvolvimento de habilidades interpessoais demonstradas no respeito à cultura e na forma de tratamento com o público envolvido. 3 - Auxiliar, sob orientação, na pesquisa de informações biográficas e da obra de mulheres brasileiras que protagonizaram nas áreas de artes, ciências, política, educação ou outras, cujo exemplo possa contribuir para instigar autoestima e perspectiva de ação. A avaliação será quantitativa e qualitativa, segundo a qualidade dos dados e das fontes pesquisadas. 4 - Elaborar, sob orientação, material com linguagem acessível acerca das histórias femininas de sucesso, que será utilizado em reuniões de reflexões, sob a forma de poesias, textos, artes, dinâmicas, jograis e impresso, a fim de criar um registro. A avaliação será feita com base na dedicação e qualidade do material produzido. 5 - Participar das reuniões reflexivas e nas reuniões que serão conduzidas para tratar e agregar novos alimentos fermentados que têm parte nas memórias familiares das mulheres envolvidas e que elas definirem como produtos para comercialização. O estudante será avaliado de forma atitudinal, considerando a ética e o respeito aplicados ao utilizar de seus conhecimentos vivenciados no curso de graduação, especialmente nas disciplinas de biotecnologia, biologia molecular, ambiente, cultura, para apresentar sugestões, sem imposição e de forma democrática, pelo diálogo, por meio do qual espera-se também que aprenda com os saberes populares. 6 - Participar no processo de implementação dos processos produtivos, no treinamento para higienização das mãos, aplicando seus conhecimentos de microbiologia, saúde e imunidade, de fermentação e tecnologia para contribuir no desenvolvimento de processos e produtos melhorados e mantendo sua característica artesanal. A avaliação será realizada pela contribuição crítica, pela busca ativa de conhecimento e pela aplicação de conhecimentos adquiridos durante o curso, teóricos e práticos. 7 - Auxiliar na inserção de jovens e crianças do contexto familiar das mulheres envolvidas no grupo de FermentAção, ajudando na sua acolhida, na sua aproximação e liberdade para questionamento, sendo oportunizado ao estudante mostrar de forma prática os princípios que regem a fermentação, as transformações microbianas, suas relações com saúde/doença/infecção/imunidade, nutrição e componentes curriculares estudados na educação básica. A avaliação se dará pela condução de princípios práticos a partir de experimentos simples que ilustram os processos e conteúdos descritos. 8 - Auxiliar na sensibilização dos colegas universitários, em especial os matriculados nas disciplinas de biotecnologia, biologia molecular e outras correlatas, para aproximação e contribuição com o projeto, não apenas para que computem créditos de extensão, mas para que vivenciem uma experiência real de formação extramuros. A avaliação será atitudinal, de acordo com a qualidade de acolhida aos colegas que visitarem ou se dispuserem a auxiliar no projeto, bem como pela forma de partilhar e multiplicar a formação recebida. 9 - Auxiliar na elaboração de registro bibliográfico, contribuindo para a construção do relato memorial de cada grupo, na apresentação de ideias de divulgação, marketing, do registro impresso que será o memorial da ação e na elaboração de resumos/publicações em eventos. A avaliação se dará pela qualidade das contribuições ao material produzido em grupo. Durante toda a ação o estudante será acompanhado pela coordenação, de forma prévia às reuniões que serão realizadas com os grupos de mulheres, para orientação quanto às suas contribuições, formas de se preparar, buscar conhecimento e material de referência para aprendizado e aplicação nas ações do projeto.
Diante do cenário atual, em que se agrava a crise econômica e a violência doméstica, a sociedade precisa se organizar por meio de suas instituições para intervir em favor de um modelo mais justo e democrático, onde o valor da pessoa humana e seus direitos sejam respeitados. A universidade pública e seus servidores não podem ser eximir desta ação, visto que a extensão universitária é um dos seus pilares. Neste modelo em que extensão, ensino de graduação e pesquisa interagem, se alimentam e se sustentam, os princípios técnicocientíficos do ensino de graduação somente serão bem interpretados à luz das questões sociais e os estudantes somente estarão aptos a responder criticamente aos desafios profissionais, éticos, humanos e sociais de seu tempo, se participarem ativamente deste processo interativo ensino-pesquisa-extensão. As pesquisas científicas desenvolvidas pela equipe proponente tem se desenvolvido com foco na biotecnologia há mais de 10 anos, com participação de técnicos, docentes, estudantes de graduação e de pós-graduação. As ações extensionistas se intensificaram com o mesmo foco nos últimos dois anos e em resposta à problemática social trazida à tona. Nesta ação, o grupo pretende sair do laboratório e continuar na geração de conhecimento a partir de uma ação extensionista, inerentemente educacional no sentido mais significativo da palavra, o da emancipação dos sujeitos, e vinculada fundamentalmente à aplicação de princípios científicos, que integram o tripé universitário.
Público-alvo
Mulheres moradoras da Ocupação Vitória em Diamantina, aproximadas por meio de busca ativa a partir de conhecidos e da liderança da comunidade. Espera-se integrar no mínimo 20 participantes.
Familiares, jovens e crianças do núcleo familiar das mulheres que vão compor os grupos de cooperação para produção de fermentados.
Municípios Atendidos
Diamantina
Parcerias
Nenhuma parceria inserida.
Cronograma de Atividades
Reuniões mensais da equipe executora para acompanhamento dos resultados, análise de comprimento de metas, reorganização e planejamento de atividades, estudos de viabilidade de produtos e processos.
Elaboração de material de divulgação e contato com o público alvo a fim de melhorar sua participação contínua na ações do projeto: convites ou panfletos impressos, organização de grupo de WhatsApp, visitas, elaboração de rodas de conversa e atividades culturais, envolvimento de participantes no convite e busca ativa de outras mulheres da ação.
Organização de rodas de conversa ao início de cada encontro mensal do grupo de FermentAção, com participação restrita ao grupo ou, quando decidido pelas mulheres participantes, com convite aberto a comunidade e familiares para vivência de experiências culturais, dinâmicas, artísticas e reflexões inspiradas nos relatos de experiência e obra de mulheres brasileiras e da comunidade.
Resgate de produtos da história familiar ou das intenções de produção das mulheres participantes da ação. Elaboração de produtos e dos processos produtivos, de material técnico-científico para sua fabricação e desenvolvimento das marcas, rótulos, definição de embalagens, matérias-primas. Estudos de viabilidade, busca por auxílio técnico.
Organização da feira de produtos, busca de locais para comercialização e publicidade.
Participação dos jovens e crianças em reunião específica com temas voltados para as ciências e correlacionando com atividades práticas, inclusive as que ilustram o processo fermentativo de obtenção de alimentos.