Detalhes da proposta

Conhecendo a história afromucuriense

Sobre a Proposta

Tipo de Edital: Pibex

Situação: Aprovado


Dados do Coordenador

    Nome do Coordenador

    marcio achtschin santos

    Número de inscrição:

    2024101202434052

    Unidade de lotação:

    universidade federal dos vales do jequitinhonha

Caracterização da Ação

    Área do Conhecimento:

    ciências humanas

    Área temática principal:

    cultura

    Área temática secundária:

    educação

    Linha de extensão:

    direitos individuais e coletivos

    Abrangência:

    internacional

    Gera propriedade intelectual:

    Não

Membros

pedro veberling frederico terra Bolsista

Resumo

O Vale do Mucuri, nordeste do estado de Minas Gerais, recebeu a partir de meados do século XIX um intenso fluxo de imigrantes vindos de diversas regiões do Brasil e do mundo. No entanto, as memórias locais foram construídas a partir de um olhar branco, apagando a presença de grupos excluídos sociais, negligenciando a presença especialmente de africanos e seus descendentes. Diversos nomes de ruas e espaços públicos têm o nome de proprietários de escravizados, caso da cidade polo, Teófilo Otoni, que foi um proprietário de trabalhadores escravizados. A proposta do projeto é dar visibilidade à presença da população negra através de dois meios: físico e virtual. O físico surge a partir da parceria entre a Associação Cultural Ferroviário Bahia-Minas (ACFBM), localizada na Rua Júlio Costa, 61. A sede dessa associação está em uma região que está buscando junto à Fundação Palmares o seu reconhecimento como comunidade quilombola. A ACFBM está propondo a parceria com a UFVJM no sentido de receber a comunidade externa, especialmente alunos do ensino básico para exposições de objetos de referência da cultura de afrodescendentes locais, além de estabelecer debates em torno da memória da população negra do Vale do Mucuri. O meio virtual é uma parceria do Museu Virtual Vale do Mucuri (MUVIM). O MUVIM, site https://museuvirtualvaledomucuri.com.br/, já é parceiro da UFVJM desde sua criação, 2021, contando atualmente com mais de 31 mil visitações (com visualizações de pessoas de todas as partes do mundo) , sendo que abriria uma sala para exposição virtual de peças e imagens relacionadas a registros da presença negra em Teófilo Otoni e região.


Palavras-chave

Afrodescendentes, Vale do Mucuri, Museu.


Introdução

O Vale do Mucuri, localizado no nordeste do estado de Minas Gerais, até o século XIX era uma região habitada exclusivamente por indígenas, na sua grande maioria os Borun . A partir de meados dos anos de mil e oitocentos ocorreu um intenso fluxo migratório por povos de diversas origens, tanto nacionais como vindo de outros continentes. Esse movimento foi estimulado pela Companhia de Comércio e Navegação do Mucuri, criada em 1847 por Teófilo Benedicto Ottoni, que objetivava fazer a ligação comercial entre o Rio de Janeiro e o Alto Jequitinhonha. A partir desse período, estradas foram criadas, novos modelos econômicos de produção surgiram. Igualmente foi alterada a paisagem, surgindo fazendas, povoados e cidades. Enfim, o Mucuri sofreu profundas mudanças no seu espaço, quase sempre marcadas por uma ocupação violenta e predatória (SANTOS, 2018). Até o fim do século XX, as pesquisas sobre o Mucuri eram pontuais, com poucos registros produzidos na academia. Mas tem havido nas duas últimas décadas um crescente número de trabalhos sobre a formação essa região do nordeste do estado de Minas Gerais. Porém, esse resgate da memória da região, de modo geral, tem sido seletivo, apresentando uma perspectiva de certos grupos em detrimento de outros. A proposta desse projeto é apresentar, através de um museu físico, localizado no espaço da ACFBM e virtual, MUVIM, as diversas manifestações e expressões da cultura dos afrodescendentes do Vale do Mucuri. Essa cultura, aqui chamada de afromucuriense, esteve presente com a Estrada de Ferro Bahia e Minas (EFBM), iniciada em Caravelas (BA), a partir de 1881, se estendendo até Araçuaí (MG). Ao longo da margem da linha foram surgindo comunidades de trabalhadores braçais, a grande maioria ex-escravizados e/ou seus descendentes. Um desses espaços foi a comunidade Margem da Linha, localizado no bairro São Diogo e Palmeiras, na cidade de Teófilo Otoni-MG. Essa comunidade, existente no Brasil a partir de ferroviários e ferroviárias, foi registrada pelo Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva (CEDEFES) em 2001, mas não houve até então, nenhum avanço para o reconhecimento desse grupo como quilombola. O principal motivo para não realização desse reconhecimento é pela confirmação de uma ausência de referências identitárias da comunidade. Pelas narrativas de ex-ferroviários da Estrada de Ferro Bahia e Minas e seus parentes, um significativo grupo de moradores da Colônia Leopoldina, hoje distrito de Helvécia, localizada no sul da Bahia veio para Teófilo Otoni após a abolição da escravidão, em 1888 para trabalhar como mão-de-obra na ferrovia. A concentração desses trabalhadores ocorreu na Margem da Linha, local escolhido por ser próximo às suas atividades laborais. Na comunhão do trabalho exaustivo e a rigidez das punições trabalhistas, no confronto com a polícia, na repressão do Estado que marginalizava a população majoritariamente negra, se fortaleceu a identidade desse ferroviário, seu auto-reconhecimento como agente ativo de sua própria história (SANTOS, 2016, p. 36). A ferrovia foi extinta em 1966, e parte dessa memória se apagou. Em 2023, o Núcleo de Pesquisa em Política, Educação e Cidadania (NUPPEC), com registro no CNPq, iniciou um trabalho de pesquisa sobre a comunidade Margem da Linha, conseguindo mapear um rico material existente (fotografias, peças e equipamentos ferroviários, vestimentas) que precisam ser utilizados para resgatar a memória dessa importante comunidade quilombola denominada Margem da Linha.


Justificativa

Em um mundo globalizado, onde as informações e a cultura são elementos descartáveis e mercantilizados, reconstruir a história de um povo, uma região, uma localidade, é essencial para formação do cidadão, onde este se reconheça como agente ativo e transformador social, elevando a sua autoestima e sua capacidade de reflexão do contexto em que vive (TOURAINE, 1998). Assim, em um momento onde se tem valorizado de forma crescente, em todo o mundo, os patrimônios históricos, os bens móveis e imóveis, materiais e imateriais, inclusive como elemento gerador de emprego e alternativa econômica, as produções regionais são fundamentais para consolidação deste processo (HALL, 2006). Através dessa perspectiva o território torna-se referência privilegiada para analisar as tensões e arranjos múltiplos dos grupos: “Qualquer projeto no espaço que é expresso por uma representação revela a imagem desejada de um território, de um local de relações” (RAFFISTIN, 1993, p.45). Segundo Rogério Haesbaert (2004) o território é múltiplo, carrega dimensões políticas, econômicas e culturais. Os territórios se caracterizam desde as mais tradicionais, como o Estado até territórios multiidentitários com identidades territoriais particulares. A partir da relação território e identidade pode-se construir a categoria Território Negro. De acordo com Maria de Lourdes Bandeira (1991), a classificação de território negro se dá como sujeitos coletivos, se realizando através da comunhão de valores dos parentescos e, principalmente, de rede de solidariedade construída para o enfrentamento dos valores impostos pelos brancos. Ao mesmo tempo, se torna “um instrumento de autoidentificação da comunidade” (Bandeira 1991, p.21). Portanto, território não apenas como espaço mas também como relação. É um espaço com identidades comuns, mas também uma referência no sentido de pertencimento a grupo e uma posição de enfrentamento. No caso específico da história do Vale do Mucuri, por mais de um século e meio foram produzidas pesquisas e relatos ignorando a escravidão ou a presença de grupos africanos ou afrodescendentes na formação da região. Privilegiando atores como a figura de Teófilo Ottoni ou de grupos como os imigrantes alemães, há uma lacuna a ser preenchida sobre a participação da população negra na formação do Mucuri (SANTOS, 2018). O projeto parcialmente é uma continuidade do projeto de extensão "Conhecendo a História do Vale do Mucuri", mas assume um perfil mais voltado para a comunidade negra, trazendo um resgate da memória de uma população tradicionalmente apagada da história oficial. Ao mesmo tempo, cumpre um importante papel de dar o retorno à comunidade de um projeto de pesquisa que vem sendo desenvolvido na Margem da Linha pelo NUPPEC, "Comunidade Quilombola Margem da Linha: o resgate da cultura afromucuriense", registrado na PRPPG. Nesse sentido, o projeto atende as diretrizes propostas pelo edital: Interação Dialógica; Interdisciplinaridade e Interprofissionalidade; Indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão; Impacto na Formação do Estudante; e Impacto e transformação social.


Objetivos

Geral Apresentar para a Comunidade por meio físico e digital os resultados das pesquisas do projeto "Comunidade Quilombola Margem da Linha: o resgate da cultura afromucuriense", objetivando trazer reflexões e ações que relacionem memória e cidadania à cultura afrodescendente na região do Vale do Mucuri. Específicos - Tornar mais acessível à comunidade as informações do Vale do Mucuri, tendo como referência as atividades de pesquisas realizadas sobre a história do Vale do Mucuri desenvolvidas na UFVJM - Campus Mucuri - Valorizar a história local, despertando na comunidade o sentimento de pertencimento; - Despertar na comunidade a preservação da memória como importante instrumento de cidadania. - Sensibilizar a comunidade para a importância da preservação do acervo ainda existente sobre a história local. - Estimular os acadêmicos a aproximar do contexto vivido, colocando o Corpo Discente em contato com a realidade brasileira, oportunizando outras alternativas de aprendizado. - Estimular e dar suporte a trabalhos envolvendo o resgate de manifestações culturais,, como os afrodescendentes e os indígenas. - Identificar a presença de elementos culturais afro na Comunidade Margem da Linha; -Descrever as principais manifestações culturais da comunidade; - Provocar uma leitura crítica da história, possibilitando a revisão da história tendo outros atores compondo a formação regional


Metas

- Organizar o acervo e conclusão do espaço museal; - Elaborar uma cartilha sobre a importância da cultura negra local, em especial a história da Comunidade Margem da Linha; - Levar para o espaço da Associação Cultural Ferroviário Bahia-Minas a visita de, pelo menos, 500 pessoas, entre visitas espontâneas e escolas do ensino básico; - Atingir 40 mil visitações no site do MUVIM.


Metodologia

A ACFBM já conta com uma quantidade expressiva de peças, que podem ser organizadas, com o auxílio do MUVIM, o espaço museal. Igualmente, a estrutura da Associação possui data-show para exposições, debates e palestras. O coordenador do projeto, junto com o/a bolsista, em parceria com a ACFBM e MUVIM , organizarão o espaço e fará a divulgação, quer seja em escolas, quer seja por intermédio das redes sociais. Em relação à ética, por ser um projeto de proposta inclusiva, é pautado no diálogo, na troca, trans e interdisciplinaridade, garantindo as práticas horizontais recíprocas que favoreçam as trocas de saberes e experiências entre universidade e sociedade. Valoriza a diversidade e a diferença, reconhecendo que é na multiplicidade que crescemos,nos desenvolvemos e nos enriquecemos.


Referências Bibliográficas

ACHTSCHIN, Márcio. A Filadélfia não sonhada: escravidão no Mucuri do século XIX. Teófilo Otoni: n/c. 2008. ___________. Formação econômica, política, social e cultural do vale do Mucuri. Teófilo Otoni: n.c, 2018. ______________Nas margens da linha: território negro e o lugar do branco na ocupação urbana na cidade de Teófilo Otoni em meados do séc. XX. Revista Espinhaço, 2016, 5 (1): 32-41. BANDEIRA, ML. 2016. Terras negras: invisibilidade expropriadora. Terras e territórios de negros no Brasil. Textos e debates: núcleo de estudos sobre identidade e relações interétnicas. [online] URL: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/1262 36/Textos%20e%20Debates%20No%202.pdf?sequence=2 &isAllowed=y CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO ELOY FERREIRA DA SILVA. Relação das comunidades negras quilombolas em Minas Gerais. Belo Horizonte, 2021. Disponível em: https://www.cedefes.org.br/relacao-das-comunidades-negras-quilombolas-em-minas-gerais/. Acesso em 07 abr. 2022. ELEUTÉRIO, Arysbure Batista. Estrada de Ferro Bahia e Minas: a ferrovia do adeus. Teófilo Otoni, 1996 GIFFONI, José Marcello Salles. Trilhos arrancados: história da Estrada de Ferro Bahia e Minas (1878-1966). UFMG. p. 307. Tese de doutorado. Belo Horizonte, 2006. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11 ed. Trad. Tomaz Tadeu da Silva. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. HAESBAERT, R. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. KARNAL, Leandro. (org). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas.6. ed. São Paulo: Contexto, 2010. MEDEIROS, Antônio José. Ideias e práticas de cidadania. União: Cermo, 2002. MOREIRA, Ramom Pereira de Jesus. MARTA, Felipe Eduardo Ferreira. FRAGA, Estefânia Knotz Canguçu. Entre memórias e conflitos: a comunidade negra rural de Helvécia e o reconhecimento como remanescente quilombola (2002 – 2018). Projeto História, São Paulo, v. 71, pp. 239-268, Mai.-Ago., 2021. RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993. SANTOS, Valdir Nunes dos. A dança bate-barriga em Helvécia (Bahia/Brasil) : uma performance afrobrasileira de coesão social. Universidade de Lisboa. Tese de doutorado. Lisboa, 2017. ___________. Entre a festa e os ofícios na comunidade negra de Helvécia: performances afirmam identidades. In: Santuários, 2014, Alandroal, Portugal, 2014, v. 2. TOURAINE, Alain. Igualdade de diversidade: o sujeito democrático. Bauru: EDUSC, 1998.


Inserção do estudante

No primeiro mês, o/a bolsista fará primeiro um estudo acerca do tema, fazendo leituras sobre memória e suas relações com exclusões presentes no referencial bibliográfico. Do segundo ao quarto mês contribuíra nas atividades voltadas para a construção do museu físico bem como alimentando as informações acerca da sala virtual a ser criada para a cultura afrodescendente no MUVIM, além de ajudar na confecção de uma cartilha a ser distribuída nas visitas ao museu físico. A partir do quinto mês: fará visitas às escolas do ensino básico para propor ida de discentes ao espaço físico; alimentará informações no MUVIM e fará divulgação nas redes sociais; recepcionará no espaço da ACFBM os visitantes em dias previstos no estágio. Todas essas atividades será acompanhada pelo coordenador do projeto.


Observações

O projeto tem um alcance significativo de participantes, é uma continuidade melhorada do "Conhecendo a História do Vale do Mucuri", que existe desde 2017, sendo que anteriormente fazia visita à escolas com palestras e atendia contribuía na formação do site do MUVIM e sua divulgação. Agora assume um recorte temático, a questão de uma memória afrodescendente, e procura produzir, junto à ACFBM e o MUVIM um espaço museal inédito na cidade. A UFVJM ganha muita visibilidade, quer seja nas visitas físicas, quer seja no espaço virtual. Pelas experiências anteriores, há um grande envolvimento dos alunos e da comunidade escolar, culminando em algumas escolas em projetos de memórias, como feiras culturais.


Público-alvo

Descrição

Espera-se atingir em torno de 500 visitantes no espaço físico na sede da ACFBM e aproximadamente 9 mil visitantes virtuais no MUVIM

Municípios Atendidos

Município

Teófilo Otoni

Parcerias

Participação da Instituição Parceira

O Museu Virtual Vale do Mucuri é um grupo parceiro da UFVJM, com endereço eletrônico https://museuvirtualvaledomucuri.com.br/, tem ação virtual e conta com um conhecimento de espaço museal, contribuindo tanto na organização do espaço físico projetado para a construção do dito museu como também na criação da sala no próprio site acerca da memória negra na região.

Participação da Instituição Parceira

A Associação Cultural Ferroviário Bahia e Minas, com sede à rua Júlio Costa, 61, Bairro São Diogo, cedera o espaço bem como objetos museais para a formação do museu físico. Dentre um dos artigos da Associação está prevista no artigo segundo, inciso oitavo a "promoção da cultura e identidade negra, afrodescendente e quilombola", bem como prevê em seu artigo terceiro a coleta de bens e sua divulgação de forma ampla

Participação da Instituição Parceira

O NUPPEC participará dando apoio por intermédio dos resultados da pesquisa que vem realizando no projeto "Comunidade Quilombola Margem da Linha: o resgate da cultura afromucuriense".

Cronograma de Atividades

Periodicidade Mensalmente
Descrição da Atividade

O/a bolsista fará leitura de parte do material das referências bibliográficas

Periodicidade Mensalmente
Descrição da Atividade

Do segundo ao quarto mês o/a bolsista contribuíra nas atividades voltadas para a construção do museu físico bem como alimentando as informações acerca da sala virtual a ser criada para a cultura afrodescendente no MUVIM.

Periodicidade Mensalmente
Descrição da Atividade

A partir do quinto mês o/a bolsista fará visitas às escolas do ensino básico para propor ida de discentes ao espaço físico; alimentará informações no MUVIM e fará divulgação nas redes sociais; recepcionará no espaço da ACFBM os visitantes em dias previstos no estágio. Todas essas atividades será acompanhada pelo coordenador do projeto.