Visitante
Capoeira Angola da Federal
Sobre a Proposta
Tipo de Edital: Procarte
Situação: Aprovado
Dados do Coordenador
rangel silvando da silva do nascimento
20252022025450465
departamento de ciências econômicas
Caracterização da Ação
outros
cultura
educação
patrimônio cultural, histórico, natural e imaterial
regional
vale de ideias: as ciências econômicas em ação
Não
Membros
laysa rainer barbosa de oliveira
Bolsista
O projeto de extensão, Capoeira Angola da Federal, pretende desenvolver intervenções pedagógicas para um maior aprofundamento em manifestações culturais afro-brasileiras, com ênfase na herança cultural patrimonializada pelos órgãos ligados à preservação cultural. Com este objetivo, serão ministradas vivências pelo coordenador e fomentadas reflexões sobre as políticas direcionadas para o legado cultural afro-brasileiro. O objetivo deste projeto é promover treinos de Capoeira Angola tendo como público-alvo a população de jovens e adultos de Teófilo Otoni, bem como a comunidade acadêmica de estudantes, técnicos e docentes da UFVJM. A inserção do coordenador na Capoeira Angola servirá de base para a promoção e coordenação de atividades práticas. Reflexões teóricas alicerçadas em fontes bibliográficas, videográficas e rodas de conversa serão também recursos utilizados. Haverá, portanto, encontros semanais acerca do conteúdo cultural envolvido na Capoeira Angola. Visitas a espaços tradicionalmente ligados à propagação da cultura afro-brasileira serão também realizadas periodicamente, com o intuito de aproximar ainda mais os integrantes do projeto do cotidiano de produção cultural enfocado. Além de apresentação de roda de capoeira na UFVJM, e em territórios de luta contra a opressão, como assentamentos de reforma agrária da região dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.
Arte-Educação, Cultura Afro-Brasileira, Direitos Culturais, Musicalidade, Roda de Capoeira
O objetivo deste projeto é promover treinos de Capoeira Angola tendo como público-alvo a população de jovens e adultos de Teófilo Otoni, além do conjunto da comunidade acadêmica da UFVJM. Os treinos ocorrerão semanalmente no Centro de Referência em Direitos Humanos (CRDH), que possui condições de espaço físico especialmente adequadas à atividade prática e localização privilegiada, próxima ao centro da cidade e, portanto, de fácil acesso. Manifestações culturais afro-brasileiras têm passado por processos de patrimonialização por parte de órgãos públicos nacionais e internacionais. Um processo de reconhecimento na esfera patrimonial se deu com a Roda de Capoeira e o Ofício dos Mestres de Capoeira, registros efetivados pelo IPHAN em 2008, movimento seguido pela UNESCO ao considerar a Roda de Capoeira patrimônio da humanidade em 2014. O registro da Capoeira também se localiza na complexidade que envolve os enfrentamentos por cidadania cultural no contexto brasileiro e tem dado visibilidade a conhecimentos decorrentes da diáspora africana na condição de bens culturais de relevância nacional e internacional. Estes fenômenos indicam a inserção de tais manifestações culturais em políticas públicas que envolvem, prioritariamente, as esferas cultural e educacional. Intervenções pedagógicas, aqui denominadas vivências periódicas serão organizadas no âmbito do projeto com o objetivo de promover uma percepção mais cuidadosa dos fundamentos práticos e teóricos da Capoeira. Associadas nas vivências, serão fomentadas reflexões sobre a patrimonialização da cultura afro-brasileira, com foco nas demandas comunitárias confrontadas com as consequências dessa política pública. Com o intuito de suscitar uma reflexão aprofundada sobre o tema, serão realizadas ao fim de cada vivência uma roda de conversa relacionando a experiência prática desenvolvida com o debate que envolve a patrimonialização da cultura afro-brasileira e sua ligação com o contexto educacional. A capoeira, por exemplo, se encontra significativamente presente em escolas do sistema público de educação, em sua maioria das vezes inserida a partir de iniciativas vinculadas à educação em tempo integral. Trata-se de uma inserção marcada pela subalternização por meio da qual algumas práticas de conhecimento afro-brasileiras conseguem adentrar nos espaços educacionais legitimados historicamente pelo Estado. Isto se dá na medida em que a pessoa responsável pelas aulas não é reconhecida como parte do corpo docente da instituição escolar, subalternização marcada pela subvalorização financeira, pela precariedade e instabilidade das políticas públicas desenvolvidas e pela falta de conexão entre o conteúdo desenvolvido nas aulas de capoeira e os demais promovidos pela instituição escolar, ou seja, os conhecimentos agregados pela capoeira via de regra não são integrados efetivamente no currículo escolar (ANDRADE, 2016).
O pano de fundo das intervenções de extensão propostas é a relação de poder que consolida a hegemonia do conhecimento científico no plano epistemológico. O privilégio da ciência moderna se efetivou com a demarcação da exclusão do estatuto epistemológico de outros conhecimentos, não reconhecidos pelos processos de validação comprometidos com o paradigma eurocêntrico dominante. Tal primazia cognitiva tem por consequência a concessão de “privilégios extra-cognitivos (sociais, políticos, culturais)” aos sujeitos sociais detentores do conhecimento hegemônico (SANTOS, 2006, p. 128). Imergir em práticas de conhecimento afro-brasileiras permite, portanto, acessar um repertório cognitivo situado no contexto brasileiro. O pressuposto epistemológico desta análise deriva da assunção de que a legitimidade de um conhecimento se afirma a partir do caráter de intervenção social que tal prática permite na realidade. Isto considerando um compromisso político em enfrentar as relações desiguais de poder consolidadas a partir das continuidades coloniais que estruturam a prática política associada historicamente aos campos da cultura e educação. A ideia central é, como já referimos, que o colonialismo, para além de todas as dominações por que é conhecido, foi também uma dominação epistemológica, uma relação extremamente desigual de saber-poder que conduziu à supressão de muitas formas de saber próprias dos povos e/ou nações colonizados. As epistemologias do Sul são o conjunto de intervenções epistemológicas que denunciam essa supressão, valorizam os saberes que resistiram com êxito e investigam as condições de um diálogo horizontal entre conhecimentos” (SANTOS e MENESES, 2009, p. 13). O eurocentrismo (DUSSEL, 2005; QUIJANO, 2005, 2009) característico das políticas voltadas à patrimonialização cultural no contexto brasileiro foi confrontado com uma demanda social pelo tombamento de um terreiro de candomblé. Uma tutela jurídica que antes se voltada à proteção do patrimônio cultural marcado pela contribuição europeia, nomeadamente monumentos religiosos católicos, passa a ser assegurada em relação ao que Ordep Serra (2001) denomina de monumentos negros. O termo monumentos negros destaca, de modo afirmativo, um referencial étnico e cultural negado historicamente enquanto parte da cultura nacional alvo do reconhecimento estatal. Este conceito busca, portanto, combater a “negação sistemática de direitos e valores de um segmento significativo da nossa população” (SERRA, 2005, p. 203). O tombamento do Iê Axé Iyá Nassô Oká é pioneiro na inserção da contribuição cultural afro-brasileira nas políticas ligadas à preservação cultural, algo diretamente vinculado ao direito à cultura previsto nos artigos 215 e 216 da Constituição Federal de 1988. Nestes dispositivos constitucionais há um compromisso expresso em relação à proteção de manifestações culturais afro-brasileiras, momento em que é definido como parte do patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial. A Roda de Capoeira e o Ofício dos Mestres de Capoeira são exemplos de práticas de conhecimento afro-brasileiras envolvidas na institucionalidade referente ao patrimônio cultural imaterial. O registro destas manifestações as insere numa dinâmica que requer um olhar mais aprofundado, especificamente uma análise que considere o repertório presente no universo cognitivo da preservação cultural. Para fomentar esta análise é que é proposto o presente projeto de extensão. As vivências, rodas de conversa serão os recursos utilizados para fomentar o aprendizado acerca de conteúdos culturais fundamentais da Capoeira, associado à problematização da complexidade que envolve a patrimonialização da cultura afro-brasileira. Através da imersão na Capoeira Angola pode-se identificar conhecimentos que resistem à colonialidade presente nas discussões que atravessam as esferas cultural e educacional. A experiência é algo indissociado do conhecimento reflexivo presente no âmbito destas práticas acerca do que implica em preservar uma riqueza cultural declarada relevante para organismos das mais diversas esferas de poder nacionais e internacionais ligadas ao patrimônio cultural. Estas intervenções pedagógicas permitirão aos envolvidos o acesso a um lugar epistemológico privilegiado para refletiram acerca dos desafios presentes em promover uma efetiva justiça cognitiva em relação às práticas de conhecimentos afro-brasileiras.
O objetivo geral é promover intervenções pedagógicas focadas no aprofundamento do conteúdo cultural de manifestações que compõem o patrimônio cultural afro-brasileiro, através de treinos e rodas de Capoeira Angola. Os objetivos específicos são: -Realizar atividades práticas, associadas à técnica da Capoeira Angola, em seus movimentos corporais e em sua musicalidade; -Fomentar debates alicerçados em textos, vídeos e relatos de experiência sobre a ideia de preservação cultural presente no repertório afro-brasileiro; -Refletir criticamente sobre políticas públicas associadas à esfera patrimonial, analisando informações sobre os processos e consequências da patrimonialização de conhecimentos associados à diáspora africana no contexto brasileiro; -Visitar territórios tradicionalmente ligados à luta contra a opressão para demonstração de roda de Capoeira Angola; -Realizar uma roda de Capoeira Angola em abertura de um evento na UFVJM.
São metas do projeto: -Avaliar o caráter da inserção dos participantes no universo cognitivo afro-brasileiro, especificamente aquele pressuposto na Capoeira Angola. -Dar conta do modo como o público atendido se situa nos debates acerca da patrimonialização e das políticas públicas referentes à área cultural e direcionadas ao patrimônio afro-brasileiro. -Avaliar em que medida o contato e os conhecimentos teórico-práticos adquiridos foram incorporados como instrumentos de intervenção social tendo em vista enfrentar o racismo estrutural presente na sociedade brasileira, com ênfase na faceta epistemológica da discriminação racial. -Perceber o grau de aproximação dos participantes com relação às demandas socioculturais dos coletivos comprometidos historicamente com a preservação e propagação da cultura afro-brasileira. Pretende-se ao final do projeto ter realizado em torno de 40 vivências relacionadas à Capoeira Angola e quatro visitas a territórios para a apresentação de rodas de Capoeira. A partir destas experiências e das reflexões a elas relacionadas, espera-se ter possibilitado ao conjunto de participantes das atividades realizadas o acesso a um aprofundamento nos valores civilizatórios afro-brasileiros. As intervenções promovidas possibilitarão uma percepção acerca das potencialidades epistemológicas e pedagógicas presentes na cultura afro-brasileira. Isto servirá de base para as reflexões realizadas acerca das políticas culturais e educacionais voltadas para os conhecimentos produzidos a partir da diáspora africana no contexto brasileiro, com ênfase na Capoeira Angola.
As intervenções pedagógicas propostas neste projeto têm por foco a realização de vivências sobre a temática abordada no projeto. Trata-se de atividades que conjugam uma experiência prática, onde se mobilizará um saber através do corpo, com reflexões transversais acerca da patrimonialização da cultura afro-brasileira. São atividades que integram as vivências: Aulas práticas acerca dos fundamentos práticos e filosóficos do universo de movimentos e musicalidade da Capoeira Angola. Partilha de impressões acerca das atividades práticas, com especial ênfase para os sentimentos e conhecimentos por elas mobilizados. Estão previstas, inicialmente, a realização de 4 vivências mensais e uma visita a territórios para a realização de rodas de capoeira a cada três meses. A experiência de inserção na Capoeira Angola desde 2003, do coordenador do projeto servirá de base para as vivências sob sua responsabilidade e para a coordenação das demais intervenções pedagógicas promovidas no âmbito do projeto voltado para a difusão da Capoeira Angola segundo a perspectiva de Mestre João Pequeno de Pastinha, contexto em que o coordenador se encontra inserido.
ANDRADE, B. A Arte do jogo nas escolas. Tese de doutorado. Universidade de Coimbra. Coimbra, 2016 GOMES, Nilma Lino; JESUS, Rodrigo , “As práticas pedagógicas de trabalho com relações étnico- raciais na escola na perspectiva de Lei 10.639/2003: desafios para a política educacional e indagações para a pesquisa”, in Educar em Revista. Curitiba, Brasil, n. 47. Curitiba: Editora UFPR, 2013, pp. 19-33. MENESES, Maria Paula; SANTOS, B. Epistemologias do Sul. Coimbra: Almedina, 2009. MIGNOLO, Walter D. Local Histories/Global Designs: Coloniality, Subaltern Knowledges and Border Thinking. Princeton: Princeton University Press, 2000. QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo (org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas.Buenos Aires: CLACSO, 2005. p. 227-278. __________. Colonialidade do Poder e Classificação Social. In: Epistemologias do Sul, SANTOS, B.; MENESES, Maria Paula (Orgs.). Coimbra: Edições Almedina, 2009. SERRA, Ordep J. Trindade. Monumentos negros: uma experiência. Afro-Ásia, Salvador, v. 33, n. 00, 2005, p. 169-206. SANTOS, B. Poderá o direito ser emancipatório? In: Revista Crítica de Ciências Sociais, no 65. Coimbra: Centro de Estudos Sociais, 2004. _______. A Gramática do Tempo: para uma nova culutra política [Para um novo senso comum. A ciência, o direito e a política ma transição paradigmática, Volume IV]. Porto: Edições Afrontamento, 2006. _______. Para além do Pensamento Abissal: das linhas globais a uma ecologia dos saberes. In: Epistemologias do Sul, SANTOS, B.; MENESES, Maria Paula (Orgs.). Coimbra: Edições Almedina, 2009.
A inserção discente tem por proposta fundamental a descolonização epistemológica, incidindo especificamente sob a colonialidade do saber que exclui ou subalterniza as práticas de conhecimentos afro-brasileiras. Este projeto, portanto, trará um benefício pedagógico determinante à comunidade discente, tendo em vista o aprofundamento em conteúdos ligados a manifestações exemplificativas da contribuição cultural afro-brasileira em relação com as políticas públicas ligadas à patrimonialização destas e de outras riquezas epistemológicas afro-brasileira. O estudante irá se integrar ativamente em todas as atividades do projeto, incluindo a pesquisa, a produção e a participação nas vivências e visitas. Pretende-se que esta participação possibilite um aprofundamento no universo cultural afro-brasileiro e nas políticas ligadas à gestão patrimonial, ao tempo que lhe capacitará para promover intervenções pedagógicas e participar em eventos científicos. O plano de trabalho proposto prevê a leitura e debate com o professor coordenador de bibliografia sobre inserção social histórica da contribuição epistemológica afro-brasileira, com especial ênfase para o percurso da Capoeira, aliado ao exame de pesquisas e documentos oficiais referentes à patrimonialização da cultura afro-brasileira e sua inserção no contexto educacional. Haverá também a atuação ativa na operacionalização das vivências e da visitas. O bolsista ficará eventualmente com a atribuição de conduzir uma roda de conversa sobre a patrimonialização da cultura afro-brasileira ao final das vivências. Resultados esperados: -Compreensão mais alargada acerca do repertório epistemológico afro-brasileiro. -Visão aprofundada acerca da complexa política que envolve a patrimonialização da cultura afro-brasileira. -Capacidade de intervenções pedagógicas interdisciplinares e gestão de eventos acadêmicos.
Além da participação do corpo discente e da comunidade externa nas vivências, haverá certamente adesão de agentes culturais locais ao projeto de extensão proposto devido à exclusividade do nosso projeto em trazer para o público a Capoeira Angola. Não há atualmente em Teófilo Otoni um grupo de Capoeira Angola. Em praticamente todos os municípios do Brasil existe Capoeira. Entretanto, encontrar a Capoeira Angola é muito raro. Além do envolvimento na composição e execução das intervenções, os conteúdos desenvolvidos nas práticas pedagógicas contribuirão para fomentar uma visão qualificada acerca do conteúdo cultural de parte do patrimônio afro-brasileiro, o que permitirá a multiplicação de ações comprometidas com a descolonização cultural nas esferas da gestão cultural e da educação patrimonial. Ao entrar em contato com aspectos fundamentais de manifestações exemplificativas da cultura afro-brasileira, como a Capoeira Angola, a população atendida terá nas atividades formativas oportunidades privilegiadas de acessar uma parte do repertório epistemológico sobre a preservação cultural presente na oralidade afro-brasileira. A partir dessa compreensão aprofundada será possível fomentar posturas cidadãs atuantes e críticas acerca da preservação e educação patrimonial. O projeto de extensão proposto beneficiará a Universidade ao fomentar a interligação da instituição com a comunidade local, ampliando os horizontes epistemológicos da instituição ao promover um contato profícuo com atores sociais historicamente vinculados à propagação de conhecimentos decorrentes da diáspora africana no contexto brasileiro.
Público-alvo
Adolescentes e adultos residentes em Teófilo Otoni.
Toda a comunidade do campus do Mucuri da UFVJM
Municípios Atendidos
Teófilo Otoni
Parcerias
As instalações do CRDH são adequadas para a prática da Capoeira Angola, com amplo espaço coberto, sem obstáculos, com revestimento em porcelanato, banheiros e localização próxima ao centro da cidade, o que possibilita maior participação de todos os públicos-alvo, comunidade acadêmica da UFVJM, além dos moradores da cidade de Teófilo Otoni. A equipe do CRDH manifestou total apoio à iniciativa em reunião com o coordenador desta proposta, com carta de anuência.
Cronograma de Atividades
Treinos de Capoeira Angola com movimentos e musicalidade.
Roda de Capoeira Angola na UFVJM e em Territórios de luta contra a opressão.