Visitante
Psicologia, cultura e formação da pessoa: realização de oficinas culturais com crianças abrigadas na Associação Amigos da Casa Lar Diamantina
Sobre a Proposta
Tipo de Edital: Pibex
Situação: Aprovado
Dados do Coordenador
yuri elias gaspar
2021101202142115
faculdade interdisciplinar em humanidades
Caracterização da Ação
ciências humanas
cultura
educação
infância e adolescência
local
não é vinculado a nenhum programa.
Não
Membros
artúlia inês santos da silva
Bolsista
luisa assunção marques
Voluntário(a)
Inserindo-nos na perspectiva de investigação e intervenção da Psicologia da Cultura de orientação fenomenológica, objetivamos dar continuidade ao projeto “Psicologia, cultura e formação da pessoa: realização de oficinas culturais com crianças abrigadas na
Formação da pessoa, Fenomenologia, Psicologia da cultura
Inserindo-nos na perspectiva de investigação e intervenção da Psicologia da Cultura de orientação fenomenológica, objetivamos dar continuidade ao projeto “Psicologia, cultura e formação da pessoa: realização de oficinas culturais com crianças abrigadas na Associação Amigos da Casa Lar Diamantina” (iniciado em 2015), que visa a fomentar experiências vitalizadas da cultura que incidam no processo de formação da pessoa, seja de quem propõe a cultura como experiência formadora, seja de quem se dispõe a receber e a se apropriar dessa proposta. A instituição “Associação Amigos da Casa Lar Diamantina” é um abrigo para crianças afastadas juridicamente de suas famílias que se encontram em situação de vulnerabilidade social. No campo das ciências humanas, especificadamente na Psicologia Social, a cultura tem sido tomada como objeto de estudo e intervenção, como atesta a criação da sub-área denominada Psicologia da Cultura (Augras, 1995). A Fenomenologia traz importante contribuição para esta sub-área por realizar uma leitura interior do fenômeno “cultura” de modo a apreender suas características estruturais a partir da análise da vivência, evidenciando a mútua constituição sujeito-mundo (Ales Bello, 1998). Nesse sentido, a Psicologia da Cultura de orientação fenomenológica visa a “descrever as modalidades pelas quais se constrói e se expressa a pessoa dentro de determinada cultura e, a partir dessa observação, tentar compreender aspectos fundamentais da realidade humana” (Augras, 1995, p. 19). Todo ser ou agrupamento humano nasce e se desenvolve dentro de determinado horizonte material, simbólico e histórico, que lhe abre certas perspectivas, lhe coloca certos problemas a enfrentar, lhe propõe certos costumes e valores, enfim, lhe oferece determinadas possibilidades e limites que estruturam seu desenvolvimento e sua potencial transformação (Sanchis, 2008). A cultura é entendida como essa “maneira particular” de “ser gente” (Sanchis, 2008, p. 72) constituída “pela mentalidade, pela forma de orientação, pelas expressões e pelos produtos próprios de um grupo humano” (Ales Bello, 1998, p. 42). Nesse sentido, embora não haja homem sem cultura, há uma multiplicidade de configurações “culturais” que tanto podem favorecer realização pessoal, inserção social, constituição de vínculos comunitários, quanto podem violentar, alienar, reduzir o horizonte amplo da experiência humana. Daí a importância de recuperar a noção de cultura em seu sentido constitutivo para que sejamos críticos aos diferentes modos com os quais ela é proposta e vivenciada pelos sujeitos, especialmente na realidade brasileira, marcada pela desigualdade em diferentes níveis. A clareza da constituição desse processo abre caminho para intervenções que reconheçam e valorizem tanto processos culturais promotores de autonomia quanto elaborações subjetivas, inter-subjetivas e comunitárias que se apropriam da cultura de modo crítico, pessoal e construtivo.
A partir da Fenomenologia, reconhecemos a importância da vivência de encontro com a cultura como possibilidade importante de formação pessoal e inserção social. O encontro com a cultura pode ampliar a compreensão de si e do mundo ao mostrar a beleza e a realização da potencialidade humana por meio de expressões simbólicas. A realidade brasileira é prenhe de manifestações culturais potentes e enraizadas, das mais diferentes matizes, que possibilitam o acontecer dessa experiência de encontro com a potência humana. No entanto, colhemos nessa mesma realidade produções de massa que tendem a alienar a pessoa, além de grande desigualdade social que contribui para a dificuldade de acesso à cultura vitalizada e para a invisibilização e marginalização de manifestações culturais produzidas em situações de pobreza. É considerando essa realidade complexa que objetivamos contribuir com o processo de formação e inserção social de crianças abrigadas (em situação de vulnerabilidade social) por meio de relacionamento que proporcione o encontro com a cultura. A partir de companhia continuada, possibilitamos que as crianças tenham acesso a produções culturais significativas e aprendam a se expressar por meio de diferentes manifestações culturais. Isso só é possível a partir de uma perspectiva interdisciplinar que valoriza contribuições de diferentes campos do saber (filosofia, psicologia, educação, sociologia) para a construção e concretização do projeto. Contemplado no Pibex em 2015, este projeto tem continuidade desde então, tendo sido executado por voluntários em 2016 e 2017 e novamente por bolsistas Pibex em 2018, 2019 e 2020. O projeto atualmente conta com 8 discentes, sendo que ao longo de seus 5 anos envolveu ao todo 25 discentes (bolsistas e voluntários) do Curso em Humanidades e outros cursos da UFVJM. Ao longo deste período, acompanhamos aproximadamente 80 crianças. As principais ações realizadas no projeto foram: capacitação dos discentes enquanto educadores sociais; realização de oficinas culturais com as crianças abrigadas; visita a espaços culturais de Diamantina e à UFVJM; realização de mostra cultural na universidade onde as crianças expuseram produções confeccionadas nas oficinas; parceria com outros projetos de extensão (Feira-Livro, PET Estratégias) para aumentar e complexificar o nosso campo de atuação. No último ano, antes da suspensão dos projetos de extensão em função da pandemia, concentramos as atividades na UFVJM e na própria instituição (oficinas culturais com as crianças abrigadas). Em setembro de 2020, adequamos o projeto para a modalidade online/remota e, por meio dessa adaptação, estamos elaborando e produzindo depoimentos (em formato audiovisual e/ou escrito) de membros e ex-membros do presente projeto de extensão com o objetivo de retomar e descrever os significados, sentidos e experiências vividas ao longo do projeto. Estes depoimentos serão organizados e disponibilizados tanto para os membros e ex-membros do projeto quanto para as crianças (caso seja adequado a elas) e responsáveis pela instituição. Além de entendermos que o projeto está cumprindo suas principais metas (afirmando assim a importância da sua permanência), a demanda pela continuidade emerge dos discentes envolvidos (por entenderem a contribuição deste para sua formação pessoal e acadêmica), das crianças atendidas (pela possibilidade de participar das oficinas e de se relacionar com os discentes) e dos responsáveis pela instituição Casa Lar (por reconhecem a incidência e o valor do projeto para a formação cidadã e inserção social das crianças abrigadas). Na realização do projeto, articulamos ensino, pesquisa e extensão em diversos âmbitos. Para acompanhar as crianças, é necessário formação prévia dos estudantes para que eles possam compreender teoricamente a problematização proposta e reconhecer experiencialmente a incidência da cultura em sua formação pessoal. É a partir desse reconhecimento vitalizado que é possível propor o encontro com a cultura num relacionamento que incida na formação das crianças. Ao mostrarmos concretamente de que modos a cultura pode incidir no processo de formação da pessoa em determinado contexto, buscamos responder a essa questão crucial da Psicologia da Cultura. Tais possibilidades de resposta oferecem subsídios para a concretização do projeto de pesquisa “Psicologia, cultura e formação da pessoa” (em desenvolvimento deste 2015), pertencente ao grupo de pesquisa GHUAPO. Por meio desse projeto de pesquisa, além de outras atividades, desenvolvemos investigações diretamente relacionadas a este projeto de extensão, gerando publicações (apresentação de trabalho completo em congresso internacional, capítulo de livro no prelo, apresentações na Sintegra) e 4 Trabalhos de Conclusão de Curso finalizados. Além disso, o projeto traz contribuições para as disciplinas “Fundamentos em Psicologia” e “Identidade, narrativa e formação humana” que ministro na graduação. O projeto se articula à Política de Extensão da UFVJM, vinculando-se sobretudo à área temática “Cultura” e à linha de extensão “Infância e adolescência” na medida em que busca enfrentar problemas regionais de desigualdade e exclusão sociais na infância apresentando soluções sintonizadas à comunidade (acadêmica e local) e valorizando seus interesses e saberes. Objetivamos que tanto o discente quanto as crianças (e, indiretamente, profissionais da instituição) possam exercitar sua cidadania reconhecendo-se como parte de um processo de transformação social por meio da cultura, transformação que gere igualdade de possibilidades de inserção, reconhecimento mútuo enquanto humanos e formação pessoal e comunitária. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Para adentrar a articulação entre cultura e formação da pessoa em sua complexidade, adotamos a Fenomenologia de Husserl (2006, 2008) e Stein (2003, 2005). Husserl (2008) formula a noção de mundo-da-vida para descrever o mundo histórico-cultural concreto, fundamentado intersubjetivamente em usos e costumes, saberes e valores, e ligado a uma coletividade e tradição particular (Ales Bello, 1998). Cultura é descrita como atividade que configura a realidade segundo um projeto, contribuindo para a constituição dessa realidade de determinado modo (Berger & Luckmann, 2004; Zilles, 2007). Husserl (2008) evidencia o risco da cultura se afastar do mundo-da-vida, tornando-se abstrata e levando os sujeitos a vivenciarem experiências fragmentadas. Entretanto, permanece aberta a possibilidade de reconhecer e tomar a cultura como mundo-da-vida, desde que se preserve a centralidade da pessoa e a promoção de espaços para a elaboração das vivências de modo integrado. Grygiel (2002) defende que não é qualquer posicionamento que constitui cultura. Diferentemente dos processos civilizatórios, em que se prioriza a técnica e a eficiência, os processos culturais se caracterizam pela abertura da pessoa ao mundo numa atitude de pergunta pelo significado daquilo que encontra e de espera pela realização do ser de cada coisa segundo suas próprias leis. Portanto, a cultura está em íntima conexão com o processo de constituição da pessoa. Stein (2005) elabora a constituição da subjetividade descrevendo a potência da pessoa enquanto ser capaz de posicionar-se livremente, atualizar e desenvolver suas vivências de modo singular e correspondente ao núcleo formativo de si mesmo. Pessoa é ser de relações, de abertura para “dentro” (percepção de si) e para “fora” (mundo circundante). Stein (2003) caracteriza o processo de formação da pessoa como contínua interação entre interior e exterior. O ambiente humano oferece à pessoa materiais e caminhos possíveis para seu desenvolvimento. Cabe a ela tomar posição diante do que recebe (Mahfoud, 2012; Stein, 2003). Tal posicionamento também incide no exterior, quando a pessoa pode configurar o mundo como mais propício para a formação humana por meio da criação coletiva de objetos de valor (bens culturais). Os bens culturais, ao se constituírem coletivamente, passam a configurar o mundo que forma as pessoas. Giussani (2004) descreve de que modo pode se concretizar, no sentido educativo, a formação integral da pessoa em sua relação com a cultura. Ele define educação como introdução à realidade total, experiência de um relacionamento presente em que alguém propõe algo à espera de uma resposta pessoal. Tal proposta é vitalizada quando o educador, ancorando-se num horizonte cultural amplo, mostra ao educando a razoabilidade do que está sendo proposto e o solicita a verificar a proposta a partir de critério pessoal. O educador pode se tornar então companhia para o educando adentrar o mundo em sua complexidade e se formar enquanto pessoa. Santos (2014) evidencia como o processo educativo pode permitir com que pessoas em situação de vulnerabilidade social vivam experiência de pertença e formação pessoal por meio da inserção cultural. Ao criar um acervo num bairro de periferia composto por obras do próprio local, Santos tem mostrado como o encontro com uma produção cultural pode solicitar a pessoa a ampliar o próprio horizonte de elaboração e a se reconhecer enquanto humano nesse processo. É por meio dessa experiência que a pessoa pode reconhecer um caminho para si que a re-conecte com a potencialidade humana, sendo critério que lhe permite ir além das limitações e riscos do contexto de vulnerabilidade.
OBJETIVO GERAL Promover atividades culturais que incidam na formação pessoal de crianças abrigadas na Associação Amigos da Casa Lar Diamantina (Diamantina-MG) OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Capacitar individual e coletivamente os discentes envolvidos para desempenharem o papel de educador social por meio de formação interdisciplinar que contemple conhecimentos da filosofia, psicologia, sociologia e educação; - Promover o acesso a produções culturais significativas de diferentes matizes, tanto para os discentes quanto para as crianças abrigadas; - Criar possibilidades para que as crianças abrigadas tenham oportunidade de expressão e produção cultural; - Fomentar a formação cidadã, a dignidade pessoal e a inserção social das crianças abrigadas; - Acompanhar de que modos os discentes e as crianças abrigadas se relacionam e se apropriam do encontro com o outro e com a cultura.
√ Previsão de impacto direto. - Desenvolvimento do discente como educador social; - Formação pessoal e cultural das crianças abrigadas; - Promoção da cidadania, dignidade pessoal e inserção social das crianças abrigadas; - Amadurecimento da relação educador-educando. √ Previsão de impacto indireto. - Melhoria da convivência da criança com o seu entorno (com as demais crianças abrigadas, com os cuidadores, com a instituição como um todo, com os colegas da escola e, no futuro, com a família de destino); - Amadurecimento de laços comunitários entre as crianças. Para alcançar essas metas, estão previstas: - 4 (quatro) encontros prévios para capacitação dos estudantes; - Elaboração de produções culturais audiovisuais para as crianças abrigadas e elaboração, produção e organização de depoimentos de membros e ex-membros do projeto. - 1 (uma) oficina semanal conduzida pelos discentes com as crianças abrigadas ao longo de 12 meses; - 1 (um) encontro de supervisão semanal ao longo de 12 meses;
Caso seja necessário realizar o projeto de forma remota durante algum período de 2021 em função da pandemia, adotaremos a seguinte metodologia: ETAPA: CAPACITAÇÃO DOS DISCENTES - Serão realizados 4 (quatro) encontros virtuais (2 horas-aula cada) com os discentes envolvidos no projeto para capacitação para o papel de educador social. Utilizaremos técnicas de sensibilização que facilitem a compreensão da importância do projeto e suas implicações diretas e indiretas; leitura prévia e discussão em grupo de textos referência; apresentação e discussão de experiências culturais significativas para os discentes e que incidência tiveram em sua formação pessoal; retomada, discussão e elaboração concreta das propostas de atividades culturais a serem realizadas na Associação Amigos da Casa Lar Diamantina de modo a sintonizá-las também ao perfil dos discentes envolvidos. ETAPA: ELABORAÇÃO DE PRODUÇÕES CULTURAIS AUDIOVISUAIS PARA AS CRIANÇAS ABRIGADAS Elaboração de produções culturais audiovisuais pelos membros do projeto (como contação de histórias, por exemplo) para serem disponibilizadas para as crianças abrigadas com o objetivo de cultivar o relacionamento educativo enquanto as atividades não podem ser realizadas presencialmente. ETAPA: ELABORAÇÃO, PRODUÇÃO E ORGANIZAÇÃO DE DEPOIMENTOS DE MEMBROS E EX-MEMBROS DO PROJETO - Elaboração e produção de depoimentos (em formato audiovisual e/ou escrito) dos membros e ex-membros do projeto com o objetivo de retomar e descrever os significados, sentidos e experiências vividas ao longo do projeto. Estes depoimentos serão organizados e disponibilizados tanto para os membros e ex-membros do projeto quanto para as crianças (caso seja adequado a elas) e responsáveis pela instituição. ETAPA: SUPERVISÃO - Será realizado 1 (um) encontro de supervisão semanal virtual para acompanhar, discutir e avaliar o andamento do projeto. Caso haja a possibilidade e o interesse mútuo em retomar as visitas presenciais na instituição, adotaremos as seguintes etapas: ETAPA: REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES CULTURAIS - Será realizada 1 (uma) oficina cultural por semana (4 horas-aula cada) a ser conduzida pelos discentes com as crianças abrigadas. Em cada oficina, em termos estruturais, está prevista uma apresentação geral do que será desenvolvido naquele encontro, um momento inicial de sensibilização, a implementação da atividade prevista, um momento de compartilhamento de experiências em grupo e um momento de encerramento. As sugestões de oficinas são: leitura e contação de histórias; desenho; pintura; colagem e dobradura; brincadeiras; jogos de roda; cinema comentado, apresentação teatral, dentre outras que emergirem no momento de capacitação dos discentes. Para tanto, serão utilizados materiais que permitam tal manifestação, dando particular atenção àqueles disponíveis na região. - Ao final de cada oficina semanal, os discentes farão um relatório escrito contendo uma descrição da experiência vivida no dia e uma reflexão teórica sobre questões que emergiram da referida oficina. ETAPA: SUPERVISÃO - Será realizado 1 (um) encontro de supervisão semanal (2 horas-aula cada) para acompanhar, discutir e avaliar a preparação, o andamento das oficinas e os processos de formação dos discentes e das crianças atendidas; ETAPA: AVALIAÇÃO FINAL - Será realizado 1 (um) encontro final com os discentes do projeto e 1 (um) encontro final com os responsáveis da Associação Amigos da Casa Lar Diamantina para retomar e avaliar todo o percurso de implementação do projeto e discutir que outras possibilidades de intervenção podem nascer a partir dessa avaliação. Em todas as etapas de formulação e implementação do projeto, serão realizadas avaliações contínuas nos momentos de supervisão para verificar: se os objetivos estão sendo alcançados; quais fatores facilitam ou dificultam a concretização do projeto; readequação do projeto caso necessário. Alguns indicadores de avaliação são: comprometimento dos discentes com o projeto como um todo; adesão das crianças às oficinas; envolvimento e amadurecimento individual e coletivo das crianças ao longo da implementação das oficinas; exeqüibilidade do cronograma previamente definido, avaliação dos responsáveis pela Associação Amigos da Casa Lar Diamantina e pelas crianças; auto-avaliação do(s) estudante(s) e das crianças de cada encontro, de cada oficina e do projeto como um todo. Em todo o processo de formulação, implementação e avaliação do projeto, é fundamental considerar e respeitar a pessoa (seja o discente, a criança, o responsável ou o orientador). Tal consideração e respeito podem acontecer no processo educativo na medida em que ele se realiza enquanto proposta à espera de resposta. Para tanto, não basta aplicar o projeto como se ele se garantisse por si mesmo. Apostar na sensibilidade, capacidade e autonomia dos discentes bem como na capacidade de verificação, liberdade e desenvolvimento da criança abrigada (tradicionalmente considerada só por aquilo que lhe falta, e não pela potência humana que é) são alguns dos elementos essenciais que permitem com que a oficina seja proposta e experienciada de modo vitalizado. Além disso, por se tratar de um público alvo tutelado pelo Estado e que se encontra em situação de vulnerabilidade social, durante toda a realização do projeto estaremos atentos para as implicações de ordem existencial e legal de cada atividade proposta, respeitando o momento daquela pessoa e a esfera jurídica diretamente implicada.
ALES BELLO, Angela. Culturas e religiões: uma leitura fenomenológica. Tradução de A. Angonese. Bauru: Edusc, 1998. AUGRAS, Monique. Alteridade e dominação no Brasil: psicologia e cultura. Rio de Janeiro: Nau, 1995. BERGER, Peter; LUCKMANN, Tomas. Modernidade, pluralismo e crise de sentido: a orientação do homem no mundo moderno. Tradução de E. Orth. Petrópolis: Vozes. 2004. GIUSSANI, Luigi. Educar é um risco: como criação de personalidade e de história. Tradução de N. Oliveira. São Paulo: Companhia Ilimitada, 2004. GRYGIEL, Stanislaw. L’uscita dalla caverna e la salita al Monte Moria: saggio su natura e civiltà. Il nuovo areopago, Roma, vol. 19, n. 2/3, p. 25-61, 2000. HUSSERL, Edmund. A crise das ciências europeias e a fenomenologia transcendental: uma introdução à filosofia fenomenológica. Traduçãp de D. F. Ferrer. Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2008. HUSSERL, Edmund. Idéias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica. Tradução de M. Suzuki. Aparecida: Idéias e Letras, 2006. MAHFOUD, Miguel. Experiência elementar em psicologia: aprendendo a reconhecer. Brasília: Universa, 2012. SANCHIS, Pierre. Cultura brasileira e religião: passado e atualidade. Cadernos Ceru (USP), São Paulo, vol. 19, p. 71-92, 2008. SANTOS, José Eduardo Ferreira. Acervo da Laje: memória estética e artística do subúrbio ferroviário de Salvador, Bahia. São Paulo: Scortecci, 2014. STEIN, Edith. Contribuiciones a la fundamentación filosófica de la psicología y de las ciencias del espíritu. In STEIN, Edith. Obras completas. v.II: escritos filosóficos (etapa fenomenológica: 1915-1920). Tradução de F. J. Sancho e col. Burgos: Monte Carmelo, 2005, p. 207-520. STEIN, Edith. Estructura de la persona humana. In STEIN, Edith. Obras completas. v.IV: escritos antropológicos y pedagógicos. Tradução de F. J. Sancho e col. Vitoria: El Carmen, 2003, p. 555-749. ZILLES, Urbano. Fenomenologia e teoria do conhecimento em Husserl. Revista da abordagem gestáltica, Goiânia, vol. 13, n. 2, p. 216-221, 2007. Recuperado em 23 de julho, 2010 de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1809-68672007000200005&script=sci_arttext
Daremos prioridade para participação no projeto aos discentes devidamente matriculados nos cursos de Humanidades e de Ciências Humanas – Políticas Públicas da UFVJM, não obstante haja espaço para incluir discentes de outros cursos (como de fato acontece). Objetivamos com essa delimitação respeitar tanto o contexto institucional ao qual estou vinculado (já que sou professor de ambos os cursos) quanto contribuir para que o projeto político-pedagógico desses cursos se concretize. A formação de educadores em sentido amplo é um dos pilares desses cursos. Espera-se que o discente, em seu processo de formação interdisciplinar, desenvolva olhar crítico no modo de refletir e produzir conhecimento, de compreender e problematizar o contexto sociocultural brasileiro e de intervir utilizando novas possibilidades educativas que gerem transformação social. Nesse sentido, o discente desses cursos tem perfil interessante para participar do projeto de intervenção na Associação Amigos da Casa Lar Diamantina, uma vez que se trata de uma proposta educativa e interdisciplinar que busca incidir no processo de formação tanto do educador quanto do educando. Por meio desse projeto, o discente pode amadurecer em seu processo de formação por ter a oportunidade de conhecer e se sensibilizar ante uma demanda importante da realidade brasileira; de aprender um modo de olhar para o problema social, reconhecendo a contribuição que a cultura pode ter no processo de formação pessoal e transformação social; de se formar enquanto educador social; de aplicar conhecimentos adquiridos durante sua formação prévia no curso e no próprio projeto; de problematizar e desenvolver a sua experiência enquanto educador; de acompanhar sistematicamente um processo de formação pessoal; de compreender os dramas, riscos e, sobretudo, as potencialidades de um grupo em situação de vulnerabilidade social. O discente será capacitado tanto previamente quanto durante a execução do projeto. Como pontuamos anteriormente, realizaremos encontros com os discentes envolvidos no projeto para que eles se preparem para assumirem o papel de educador social. Utilizaremos técnicas de sensibilização que facilitem a compreensão da importância do projeto e suas implicações diretas e indiretas; leitura prévia e discussão em grupo de textos referência; apresentação e discussão de experiências culturais significativas para os discentes e que incidência tiveram em sua formação pessoal; retomada, discussão e elaboração concreta das propostas de atividades culturais a serem realizadas na Associação Amigos da Casa Lar Diamantina de modo a sintonizá-las também ao perfil dos discentes envolvidos. Durante a realização do projeto, o discente realizará as seguintes atividades: - Participação nos encontros previstos; - Leitura prévia dos textos referência e discussão das contribuições apreendidas nos encontros de capacitação prévia e supervisão; - Apropriação das habilidades e competências esperadas de um educador social; - Preparação e realização das produções culturais audiovisuais; - Elaboração e produção dos depoimentos sobre os significados, sentidos e experiências vividas ao longo do projeto. - Preparação, planejamento e condução das oficinas às quais estiver vinculado; - Acompanhamento do processo de desenvolvimento das crianças durante as oficinas e de suas expressões e produções culturais; - Elaboração de relatório escrito sobre as oficinas realizadas; - Elaboração de questões, dúvidas e contribuições a serem discutidas durante a supervisão; O discente será acompanhado e avaliado durante todo o processo de execução do projeto especialmente nos momentos de supervisão. Além disso, caso haja necessidade, outros encontros poderão ser marcados para acompanhar e avaliar o processo. O discente será avaliado por meio de sua participação nas atividades a ele designadas e de seu comprometimento com o projeto como um todo. Além disso, será exigido relatório parcial e final no qual o discente descreva o que foi realizado durante esse período, avalie criticamente todo o processo e se auto-avalie.
Compreendemos que o presente projeto de extensão, por meio de sua proposta da vivência de encontro com a cultura, visa a contribuir para a formação pessoal e inserção social de um importante grupo em situação de vulnerabilidade social. O projeto está sendo realizado desde 2015 e tem sido reconhecido e valorizado por atores direta ou indiretamente envolvidos (estudantes, crianças abrigadas, responsáveis pela instituição, docentes da UFVJM), gerando produtos e produções acadêmicas e não-acadêmicas. Mesmo na modalidade remota, temos conseguido criar estratégias para dar continuidade ao projeto e cumprir parte de seus objetivos.
Público-alvo
O público alvo direto da ação do projeto são as crianças abrigadas na Associação Amigos da Casa Lar Diamantina (com idade variando entre 0 e 12 anos). Tais crianças foram afastadas judicialmente de suas famílias e se encontram no abrigo sob medida de prot
Municípios Atendidos
Diamantina
Parcerias
A principal parceira do projeto é a instituição Associação Amigos da Casa Lar Diamantina, onde as crianças se encontram abrigadas, que está ciente e concorda com a realização das atividades. As oficinas culturais acontecerão no próprio espaço da instituiç
Cronograma de Atividades
- Serão realizados 4 (quatro) encontros virtuais (2 horas-aula cada) com os discentes envolvidos no projeto para capacitação para o papel de educador social. Utilizaremos técnicas de sensibilização que facilitem a compreensão da importância do projeto e suas implicações diretas e indiretas; leitura prévia e discussão em grupo de textos referência; apresentação e discussão de experiências culturais significativas para os discentes e que incidência tiveram em sua formação pessoal; retomada, discussão e elaboração concreta das propostas de atividades culturais a serem realizadas na Associação Amigos da Casa Lar Diamantina de modo a sintonizá-las também ao perfil dos discentes envolvidos.
Caso seja necessário realizar o projeto de forma remota durante algum período de 2021 em função da pandemia, adotaremos esta etapa de elaboração de produções culturais audiovisuais pelos membros do projeto (como contação de histórias, por exemplo) para serem disponibilizadas para as crianças abrigadas com o objetivo de cultivar o relacionamento educativo enquanto as atividades não podem ser realizadas presencialmente.
Caso seja necessário realizar o projeto de forma remota durante algum período de 2021 em função da pandemia, realizaremos a elaboração e produção de depoimentos (em formato audiovisual e/ou escrito) dos membros e ex-membros do projeto com o objetivo de retomar e descrever os significados, sentidos e experiências vividas ao longo do projeto. Estes depoimentos serão organizados e disponibilizados tanto para os membros e ex-membros do projeto quanto para as crianças (caso seja adequado a elas) e responsáveis pela instituição.
Caso haja a possibilidade e o interesse mútuo em retomar as visitas presenciais na instituição, realizaremos 1 (uma) oficina cultural por semana (4 horas-aula cada) a ser conduzida pelos discentes com as crianças abrigadas. Em cada oficina, em termos estruturais, está prevista uma apresentação geral do que será desenvolvido naquele encontro, um momento inicial de sensibilização, a implementação da atividade prevista, um momento de compartilhamento de experiências em grupo e um momento de encerramento. As sugestões de oficinas são: leitura e contação de histórias; desenho; pintura; colagem e dobradura; brincadeiras; jogos de roda; cinema comentado, apresentação teatral, dentre outras que emergirem no momento de capacitação dos discentes. Para tanto, serão utilizados materiais que permitam tal manifestação, dando particular atenção àqueles disponíveis na região. - Ao final de cada oficina semanal, os discentes farão um relatório escrito contendo uma descrição da experiência vivida no dia e uma reflexão teórica sobre questões que emergiram da referida oficina.
- Será realizado 1 (um) encontro de supervisão semanal (2 horas-aula cada) para acompanhar, discutir e avaliar a preparação, o andamento das oficinas e os processos de formação dos discentes e das crianças atendidas;
ETAPA: - Será realizado 1 (um) encontro final com os discentes do projeto e 1 (um) encontro final com os responsáveis da Associação Amigos da Casa Lar Diamantina para retomar e avaliar todo o percurso de implementação do projeto e discutir que outras possibilidades de intervenção podem nascer a partir dessa avaliação.