Ações relacionadas à prescrição, administração, dispensação, gerenciamento logístico e clínico dos medicamentos, muitas vezes são vistas pelos profissionais de saúde, como desafios da prática de trabalho para a concretização do cuidado em saúde. Dessa forma, esse projeto propõe o desenvolvimento de tecnologias educacionais direcionadas à profissionais de saúde de formação de nível médio e superior em instituições de alta complexidade na região dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.

Uso de medicamentos; educação em saúde; educação profissional em saúde pública; assistência farmacêutica

Apesar dos benefícios em saúde decorrentes dos avanços das tecnologia digitais, essas muitas vezes são vistas como desafios diante de realidades sociais e culturais complexas e heterogêneas como as do Brasil. O uso dessas tecnologias no âmbito da saúde cada vez mais exige profissionais críticos, com habilidade de utilizar os benefícios tecnológicos de forma que esses sejam adaptáveis e contribuam para o desenvolvimento do cuidado em saúde. Esse processo requer profissionais de saúde habilitados a entender criticamente produtos, processos e utilizá-los em prol da realidade local. A importância dessa habilidade foi evidenciada durante a pandemia pelo COVID-19, no qual ocorreu necessidade de rápida adaptação à novas tecnologias, além de uso de tecnologias antigas para fins ainda não indicados. Essa situação exigiu capacidade de busca e análise crítica de informações pelos profissionais de saúde. Ressalta-se que o padrão de utilização de um determinado serviço de saúde pode se apresentar variável por indivíduos com as mesmas necessidades, assim como por diferentes profissionais que oferecem o mesmo serviço. Isso está associado à escolha por utilizá-lo ou não, assim como a forma de oferta-lo. Entretanto, para que haja indivíduos e profissionais de saúde capazes de realizarem escolhas e ofertarem um processo de cuidado em saúde qualificado e participativo, respectivamente, é necessário que esses sejam pessoas conscientes, e que estejam habilitadas a decidir (THIEDE; MCINTYRE, 2008). Entende-se que um dos fatores interferentes na capacidade de escolha de indivíduos sobre a forma de acessar e ou oferecer um determinado serviço ou tecnologia, como por exemplo, os medicamentos, é o seu entendimento sobre a real necessidade do uso dos mesmos. A formação de um profissional de saúde que responda às necessidades atuais requer não somente o conhecimento acadêmico, adquirido nos cursos de graduações e pós-graduações, mas também vivências do cotidiano de trabalho. Essas subsidiarão a elaboração do saber por meio da necessidade de busca de solução para os desafios presentes na prática clínica, além de encontros e desencontros com as práticas de trabalho de outros profissionais. (LEMOS, 2018).

A importância de investimentos em práticas educativas profissionais pautadas na problematização do cotidiano foi reconhecida por diferentes órgãos, com abrangência nacional e internacional, como o Ministério da Saúde do Brasil e a Organização Pan-Americana de Saúde (FERRAZ, 2014; FORSETLUND, 2021; ROULEAU, 2019; SAMUEL, 2021; PEREIRA, 2018). Entende-se que práticas educativas direcionadas aos profissionais de saúde podem ser entendidas como importantes estratégias de disseminação do conhecimento científico, principalmente no que diz respeito ao uso dos medicamentos, além de favorecer e qualificar o setor produtivo. Apesar da informatização dos diferentes processos da assistência farmacêutica apresentar um marco na evolução do cuidado em saúde, desinformação e ou desqualificação dos profissionais de saúde sobre especificidades medicamentosas contribuem para escolhas, prescrições, administrações e monitoramento do uso inadequados, que podem gerar ocorrência de eventos adversos e danos em saúde. A capacitação e desenvolvimento profissional tem sido cada vez mais enfatizadas em programas de certificações e acreditações, assim como no “mundo do negócio” de forma geral, acreditando-se que o processo de qualificação está associado ao bom uso de recursos e melhores resultados no trabalho. O investimento em qualificação profissional sobre segurança dos medicamentos na prática de trabalho está em consonância com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável do Milênio, proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU). Dentre esses, destacam-se aqueles voltados para saúde e bem estar, que englobam as metas de estímulo ao desenvolvimento e formação de profissionais de saúde. Entende-se que essa qualificação também contribui de forma geral para a saúde e bem estar, ao evitar danos e mortes associadas ao uso inadequado de medicamentos. No contexto da atenção terciária em saúde, a Farmácia hospitalar é vista como um setor de extrema importância em um hospital, por ser responsável pela provisão dos medicamentos. Esse é caracterizado como um setor técnico e clínico, que exige alto investimento tecnológico e de pessoal. Na realidade do Brasil, profissionais farmacêuticos são responsáveis pelo gerenciamento desse setor, sendo que necessitam, além disso, de formar e ou qualificar recursos humanos de forma constante. As equipes de recursos humanos que geralmente trabalham na Farmácia Hospitalar são essencialmente pessoas com formação de nível médio, sendo que em geral não possuem qualificação técnica. Ao considerar a importância e complexidade da farmácia hospitalar, o presente projeto propõe criar e avaliar metodologias educacionais direcionadas não somente à profissionais que trabalham em farmácias hospitalares, mas também demais profissionais de saúde que utilizam o medicamento no seu processo de trabalho. Entende-se que a proposta contribui par a formações de profissionais da região do Vale do Jequitinhonha, constituída por um dos menores índices de desenvolvimento econômico do país. Além disso, a proposta traz o caráter de articulação universidade/ comunidade, sendo que a sua contribuição direta será o aprendizado/atualização de por profissionais de saúde, além do aprendizado dos estudante ao desenvolver as tecnologias. Espera-se que o projeto também contribua, de forma indireta, para a melhoria da forma de se ofertar cuidado em saúde.

Desenvolver e implementar tecnologias educacionais relacionadas à assistência farmacêutico e medicamentos, direcionadas â profissionais de saúde com formação de nível médio e superior em instituições de alta complexidade.

Identificar vivências e necessidades dos profissionais de saúde no prazo máximo de 6 meses de projeto; Desenvolver tecnologia educacional direcionada aos profissionais de saúde no prazo máximo de 10 meses de projeto; Aplicar tecnologias educacionais em um hospital de ensino no prazo máximo de 12 meses do projeto; Avaliar a satisfação dos participantes e necessidades de melhorias no prazo máximo de até 12 meses de projeto.

O presente projeto fará interface com o projeto de pesquisa intitulado "IMPLEMENTAÇÃO DO CENTRO DE EDUCAÇÃO E INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS DO VALE (CEIMEV): EM PROL DA QUALIFICAÇÃO DO USO DOS MEDICAMENTOS", que está em processo de apreciação em instituições de fomento. O projeto de pesquisa envolve não somente a elaboração de tecnologias educacionais, mas também a validação das mesmas. Para a execução da pesquisa, no momento pré-elaboração da tecnologia educacional, será realizada a caracterização sociodemográfica da população em estudo e a identificação das necessidades educacionais relacionadas à temática uso seguro dos medicamentos. Os dados serão coletados por meio de grupos focais, gravados e posteriormente transcritos e analisados. Na segunda fase, haverá o desenvolvimento e validação da tecnologia educacional, por meio de levantamento bibliográfico, incorporação das informações obtidas nos grupos focais e elaboração do plano de execução da estratégia educacional, que será validado por método de validação de instrumento. Para validação, será formado comitê de juizes especialistas, composto por profissionais da educação e profissionais de saúde que não participaram do grupo focal. Nessa proposta de extensão serão elaboradas e implementadas tecnologias educacionais, sendo que a validação e aprimoramento das mesmas, ocorrerá em momento posterior, por meio do projeto de pesquisa. O projeto de extensão será implementado nos hospitais Santa Casa de Misericórdia de Diamantina e Hospital Nossa Senhora da Saúde, ambos localizados no município de Diamantina. O público alvo, nesse primeiro momento, será constituído de profissionais farmacêuticos, assim como profissionais de nível médio que trabalham nas farmácias hospitalares desses hospitais. O intuito inicial será a elaboração de tecnologias educacionais, preferencialmente utilizando-se metodologias ativas de aprendizado, e aplicação das mesmas por meio de cursos de capacitação. Reuniões preliminares já foram realizadas com os farmacêuticos responsáveis pelas farmácias hospitalares desses hospitais, sendo que o segundo momento consistirá na elaboração e implementação das tecnologias educacionais. Participarão desse projeto alunos das disciplinas Primeiros Socorros, Farmacoepidemiologia, Farmácia Hospitalar e Assistência Farmacêutica, do curso de graduação em Farmácia, do Departamento de Farmácia da Universidade Federal dos vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Ressalta-se que esse projeto de extensão também está ao encontro do projeto de pesquisa intitulado " USO DE AVATAR COMO ESTRATÉGIA EDUCACIONAL SOBRE RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA (RAM) DIRECIONADA À PROFISSIONAIS DE CENTROS DE ALTA COMPLEXIDADE " que propõe a elaboração de uma tecnologia digital com informações sobre uso de antimicrobianos e resistência bacteriana, que também encontra-se em apreciação por instituições de fomento.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS n. 198, de 13 de fevereiro de 2004. Institui a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde como estratégia do Sistema Único de Saúde para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor e dá outras providências. Brasília: Gabinete do Ministro, 2004. Disponível em: <www.saude.pb.gov/geab/portaria198.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Política Nacional de Educação Permanente em Saúde: o que se tem produzido para o seu fortalecimento? Brasília,DF: Ministério da Saúde; 2018. BRASIL. Ministério da Saúde. Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente /Ministério da Saúde; Fundação Oswaldo Cruz; Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 40 p. : il BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Departamento de Gestão da Educação em Saúde. Política Nacional de Educação Permanente em Saúde Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2009. 64 p. CHUDASAMA YV, GILLIES CL, ZACCARDI F, COLES B, DAVIES MJ, SEIDU S, KHUNTI K. Impact of COVID-19 on routine care for chronic diseases: A global survey of views from healthcare professionals. Diabetes Metab Syndr. 2020 Sep- Oct;14(5):965-967. doi: 10.1016/j.dsx.2020.06.042. Epub 2020 Jun 23. COLUCI, MZO, MILANI NMC, COSTA NM, NEUSA MARIA COSTA. Construction of measurement instruments in the area of health. Ciênc. saúde coletiva 20 (3), Mar. 2015 https://doi.org/10.1590/1413- 81232015203.04332013 DENIS JL, LEHOUX P, CHAMPAGNE F. A knowledge utilization perspective on fine-tuning dissemination and contextualizing knowledge. In: Limieux-Charles L, Champagne F, editors. Using knowledge and evidence in health care: multidisciplinary perspectives. Toronto: University of Toronto; 2004. p. 28-4 ESTABROOKS CA, THOMPSON DS, LOVELY JJ, HOFMEYER A. A guide to knowledge translation theory. J Contin Educ Health Prof. 2006;26(1):25-36. doi:10.1002/chp.48. FERRAZ L, VENDRUSCOLO C, MARMETT S. Permanent education in nursing : an integrative review. Rev Baiana Enferm. [Internet]. 2014 [cited May 27, 2019]. Available from: https://rigs.ufba.br/index.php/enfermagem/article/ viewFile/8366/8871. FORSETLUND L, O'BRIEN MA, FORSÉN L, REINAR LM, OKWEN MP, HORSLEY T, ROSE CJ. Continuing education meetings and workshops: effects on professional practice and healthcare outcomes. Cochrane Database Syst Rev. 2021 Sep 15;9(9):CD003030. doi: 10.1002/14651858.CD003030.pub3. PMID: 34523128; PMCID: PMC8441047. GONÇALVES CB, PINTO ICM, FRANÇA T, TEIXEIRA CF. A retomada do processo de implementação da política nacional de educação permanente em saúde no Brasil.Saude Debate. 2019; 43 Spe 1:12-23. PEREIRA LA, SILVA KL, CARDOSO, ALF. A Educação permanente em saúde: uma prática possível / Permanent health education: a possible practice . Rev. enferm. UFPE on line ; 12(5): 1469-1479, maio 2018. ilus, tab ROULEAU G, GAGNON MP, CÔTÉ J, PAYNE-GAGNON J, HUDSON E, DUBOIS CA, BOUIX-PICASSO J. Effects of E-Learning in a Continuing Education Context on Nursing Care: Systematic Review of Systematic Qualitative, Quantitative, and Mixed-Studies Reviews. J Med Internet Res. 2019 Oct 2;21(10):e15118. doi: 10.2196/15118. PMID: 31579016; PMCID: PMC6777280. Salive ME. Multimorbidity in older adults. Epidemiol Rev. 2013;35:75-83. doi: 10.1093/epirev/mxs009. Epub 2013 Jan 31. PMID: 23372025. SAMUEL A, CERVERO RM, DURNING SJ, MAGGIO LA. Effect of Continuing Professional Development on Health Professionals' Performance and Patient Outcomes: A Scoping Review of Knowledge Syntheses. Acad Med. 2021 Jun 1;96(6):913-923. doi: 10.1097/ACM.0000000000003899. SILVA CBG, SCHERER MDA. A implementação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde na visão de atores que a constroem. Interface (Botucatu). 2020; 24: e190840https://doi.org/10.1590/Interface.190840. THIEDE, M.; MCINTYRE, D. Information, communication and equitable access to health care: a conceptual note. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro , v. 24, n. 5, p.1168-1173, maio 2008 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 311X2008000500025&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 01 dez. 2020.

O projeto propõe desenvolvimento e implementação de tecnologias educacionais direcionados à profissionais que atuam em hospitais. Dessa forma, a execução do projeto requer interação direta com a comunidade de profissionais que estão na linha de frente do cuidado. A implementação das tecnologias ocorrerá preferencialmente dentro dos hospitais, mostrando interação direta da universidade com a comunidade.

O público alvo consiste em profissionais com formação em diferentes áreas. Além disso, serão convidados para participar do projeto, profissionais com diferentes áreas de atuação. Como o enfoque é a capacitação profissional, serão priorizadas ações que valorizem a Educação Permanente em Saúde. Esse termo foi adotado para fortalecer a necessidade de processos de elaboração do aprendizado com valorização das vivências profissionais. Isso requer o desenvolvimento de habilidades de cuidado voltados para a valorização da realidade local e desenvolvimento de estratégias com enfoque no trabalho colaborativo m saúde, o que exige uma abordagem interprofissional. Dessa forma, as tecnologias educativas serão oferecidas com reconhecimento e valorização da articulação interprofissional, para a garantia de um processo de cuidado efetivo.

O projeto está em consonância com os projetos de pesquisa denominados: "Uso de AVATAR coo estratégia educacional sobre resistência antimicrobiana direcionada a profissionais de saúde em hospitais em Minas Gerais" e "Implementação do Centro de Informação e Educação Popular sobre o uso de medicamentos, em prol da ressignificação do uso de medicamentos no Vale do Jequitinhonha", ambos submetidos à editais de fomento.

Discentes das disciplinas de Farmacoepidemiologia, Farmácia Hospitalar, Primeiros Socorros e Assistência Farmacêutica do departamento de Farmácia de UFMG, terão a oportunidade de articular diretamente com o público alvo do projeto de extensão. Pretende-se colaborar para o desenvolvimento de habilidades relacionadas à elaboração e implementação de tecnologias educacionais, além de possibilidade de interação com o campo de trabalho futuro e desenvolvimento de um senso crítico sobre o contexto do mundo real. Espera-se ainda, que os participantes tenham possibilidade de interagir com discentes de diferentes cursos da área da saúde, permitindo interação profissional e desenvolvimento de habilidades para articulação interprofissional.

A proposta surge a partir da identificação, por meio de relatos de profissionais que trabalham em hospitais, de relatos de profissionais que atuam nos hospitais do município de Diamantina, uma necessidade da necessidade de oferecimento de um processo de capacitação contínua sobre medicamentos e assistência farmacêutica. Destaca-se nessa demanda, a necessidade de intervir preferencialmente junto aos profissionais considerado "invisíveis", sendo aqueles que não possuem formação técnica (como os auxiliares de farmácia), e cujos processos de trabalho impactam diretamente no oferecimento de cuidado.

A ação será divulgada aos profissionais que atuam em hospitais, sendo os resultados também apresentados em congressos e eventos científicos e ou educacionais.