A organização do Amor-Exigente vem atuando por meio de princípios comportamentais e éticos favorecendo a reestruturação familiar de dependentes químicos e às pessoas com comportamentos inadequados. Assim, o projeto visa atuar com pais, educadores e familiares, como forma de prevenir e solucionar problemas relacionado ao uso de drogas promovendo a qualidade de vida e sobriedade.

Codependência Psicológica, Transtornos Relacionados ao Uso de Substâncias, Estrutura Familiar

O uso abusivo de drogas, sejam lícitas ou ilícitas, vem se tornando um problema complexo na atualidade e muitos são os fatores relacionados com esse fenômeno, devendo-se compreender a dependência química como sendo uma complexa questão biopsicossocial, o que culmina em modos de tratamento de procedimentos abrangentes, permitindo incluir nas estratégias de abordagem do problema os aspectos biológicos, psicológicos e sociais que perpassam as questões da drogadição. Ademais, essa temática é um desafio atual entre as esferas da política e da saúde para a consolidação de um cuidado ampliado nesse campo de assistência, no qual é essencial intervenções junto a essa população, abarcando, inclusive, a esfera familiar (MACIEL et al, 2018). Desde 1984, a Organização Não Governamental (ONG) Amor-Exigente (AE) vem atuando prestando orientação e apoio aos familiares de dependentes químicos e às pessoas com comportamentos ditos inadequados para a família. Por intermédio de um programa de auto e mútua ajuda, o AE desenvolve preceitos para a reorganização familiar, sensibilizando as pessoas e levando-as a perceber a necessidade de mudar o rumo de suas vidas a partir de si mesmas, ajudando a proporcionar equilíbrio e melhoria na qualidade de vida (MENEZES, 2001). Desse modo, o presente projeto visa atuar com pais, educadores e familiares em geral, como forma de prevenir e solucionar problemas com os alunos, filhos, entes queridos, pautando-se nos princípios estabelecidos pelo AE, sendo o programa praticado por meio de 12 Princípios Básicos, 12 Princípios Éticos, Espiritualidade Pluralista e Responsabilidade Social ( MENEZES, 2001; MENEZES, 2005). São os princípios Básicos: 1º Identificador. Os problemas da família, da escola e da comunidade têm raízes na estruturação atual da sociedade. 2º Humanizador. Os pais também são gente. Professores também são gente. Não somos super heróis e nem somos perfeitos, devemos aceitar nossas limitações. 3º Protetor. Os recursos são limitados, não somos uma fonte ilimitada de recursos. Devemos avaliar e conhecer os próprios limites: físicos, emocionais e econômicos. 4º Valorizador. Pais e filhos não são iguais. Professores e alunos não são iguais. Cada um tem um papel diferente. É importante assumir nossa posição e nortear a conduta das pessoas, estabelecendo normas e regras que precisam ser respeitadas. 5º Libertador. O sentimento de culpa torna as pessoas indefesas e sem ação. Acusar alguém ou alguma coisa para se livrar da responsabilidade do que não está dando certo nada resolve. 6º Influenciador. O comportamento dos filhos afeta os pais e vice-versa. O comportamento do aluno afeta o professor e vice-versa. É preciso manter o equilíbrio para conduzir os relacionamentos no rumo certo. 7º Preparador. Tomar atitude precipita crise. Vamos nos preparar, não permitir abusos e desrespeitos e cuidar para que nossas atitudes sejam corretas e corajosas. 8º Esperançador. Da crise bem administrada, surge a possibilidade de mudança positiva. Este é um princípio de extrema importância para que possamos atingir os resultados desejados com a aplicação do AE. 9º Apoiador. Na comunidade, as famílias precisam dar e receber apoio. Grupos de AE reúnem pessoas em busca de ajuda para si mesmas e para os seus compartilhando experiências, informações e instruções. Assim, elas não se sentem sozinhas e têm um ambiente para juntas encontrarem novos caminhos. 10º Cooperador. A essência da família repousa na cooperação, não só na convivência. Devemos participar de trabalhos na família e na comunidade facilitando a cooperação e solidariedade entre as pessoas. 11º Organizador. A exigência na disciplina tem o objetivo de ordenar e organizar a vida dos pais, dos filhos e de toda a família. Sem organização e disciplina, nos sentimos inseguros. É preciso estabelecer limites e criar condições para desabrochar o que temos de bom. 12º Compensador. O amor com respeito, sem egoísmo, sem comodismo deve ser também um amor que orienta, educa e exige. Amo você, só não aceito o que você está fazendo de errado. (MENEZES, 2001) Quanto aos Princípios Éticos, ética, para o AE, é uma ciência que trata dos deveres do homem e da mulher para com o mundo. Estar no Amor-Exigente é colocar-se a serviço da comunidade, contribuindo para a transformação de nossa época. Os princípios éticos familiares e institucionais são meios proteção, aperfeiçoamento e estruturação das pessoas e líderes dos Grupos de Amor-Exigente.

A temática quanto às drogas tem levado a muitas discussões em âmbito nacional e internacional. Essas substâncias, sejam lícitas ou ilícitas, se tornaram onipresentes, passando a representar um verdadeiro problema de saúde pública. Ademais, famílias com filhos adolescentes enfrentam inúmeras transformações de vínculos, passando de um ciclo infantil para um ciclo mais maduro e independente. Estudos evidenciam que é nessa fase que se inicia o uso de substâncias psicoativas. Sendo o uso de substâncias relacionadas ao processo de aquisição de autonomia do adolescente relacionada a separação-individualização, podendo essa individualização e uso de substâncias ser causa para a família de sofrimento e angústia. Nesse sentido, se instaura a crise familiar, que advém da combinação de estresse e fracasso no realinhamento dos papéis e funções frente à nova fase (PAZ, COLOSSI, 2013). Essa crise tende a piorar, quando o uso esporádico se transforma em compulsão e posterior vício nas substâncias psicoativas. Quanto à temática da saúde dos familiares, seja mental, física, emocional, psicológica, é uma questão preocupante, uma vez que as políticas públicas possuem enfoque principalmente no usuário, resultando em ausência de assistência adequada e efetiva para os familiares. Contudo a atual política de Saúde Mental, estabelece que é fundamental a participação da família no processo de tratamento e reinserção social do dependente químico (MACIEL et al, 2018). Estudo realizado na Universidade de São Paulo em 2013, evidenciou que cerca de 28 milhões de brasileiros residem com um dependente químico em casa, sendo as mulheres/mães as principais responsáveis por cuidar de quem sofre com o abuso de substâncias, ou seja, além das suas atividades corriqueiras, a mulher assume papel de auxiliar nos cuidados do seu familiar, sendo sobrecarregada em vários aspectos. Ademais, estima-se que mais da metade das famílias de dependentes químicos possuem mais de um membro que apresenta problemas com uso de álcool ou outras drogas. (SILVA, GOMES, 2019). Possivelmente, esses dados devem ser ainda maiores na atualidade, evidenciando que essa temática se tornou um problema de saúde pública que necessita de atenção assistencial. Assim, dependência química é um assunto que interferem na funcionalidade familiar de forma negativa, contudo, estudo com familiares demonstrou que as famílias apresentam forças positivas que se bem trabalhadas, auxiliam na resolução dos problemas, bem como, os familiares mantiveram a crença na esperança de cura do seu ente querido dependente e perseverança no tratamento (CLAUS et al, 2018).

Objetivos gerais Promover saúde e bem estar aos familiares de dependentes químicos e famílias com outros problemas inadequados de ordem psicológica e emocional. Objetivos específicos ● Oferecer às famílias troca de informações, partilhas de experiências e orientações, ● Apoiar e orientar as famílias que tenham dependentes químicos entre seus membros, enfocando a importância do tratamento do familiar do adicto, ● Estimular mudanças de comportamento encorajando as pessoas a agirem, construindo a cooperação familiar e comunitária; desencorajando a agressividade e violência entre familiares, ● Estimular a espiritualidade e a fé dos familiares, independente de crença religiosa, ● Ajudar os jovens, indiretamente, por intermédio da família, dando a eles condições para preveni-los e conscientizá-los quanto ao problema do uso e abuso de drogas, ● Auxiliar na prevenção primária, envolvendo a orientação e participação de professores, profissionais das Unidades Básicas de Saúde, Centro de Referência da Assistência Social e Centro de Atenção Psicossocial, ● Divulgar na mídia digital a proposta do Amor-Exigente para que esta mensagem beneficie maior número de pessoas possível.

O impacto direto será a promoção de melhor qualidade de vida, saúde e bem estar para os pais e familiares de dependentes químicos ou outros transtornos emocionais, o qual poderá ser avaliado por meio dos depoimentos dos mesmos durante as reuniões. O impacto indireto será a promoção de bem estar e saúde dos demais membros das famílias dos participantes, principalmente aqueles que possuem a adicção ou outro problema, uma vez que, à partir das orientações e aprendizados adquiridos com o grupo de apoio, os familiares consequentemente também tenderão a mudar de comportamento, conduzindo a família para o equilíbrio emocional. Dessa forma, entendemos que os impactos indiretos estejam relacionados a uma nova forma de organização e relacionamento familiar. Indicadores Numéricos - Pretende-se alcançar em torno de 100 famílias

Inicialmente, será formada uma equipe de estudo com participantes voluntários do projeto. Essa equipe será composta por docente, discentes e voluntários da comunidade. Reunirá todas as semanas em local público a ser definido. A reunião possuirá um dia da semana fixo e acontecerá por duas horas, das 19:00 às 21:00 horas, sendo dedicadas ao estudo e capacitação sobre a proposta do projeto. O grupo fará a leitura de materiais disponíveis pela Federação do Amor-Exigente (FEAE), assistirá vídeos disponíveis na internet e discutirá sobre a temática. Após um período de estudo e preparação semanal com duração de cerca de 02 meses, o grupo de voluntários formado realizará ações de sensibilização, que será divulgada por meio de convites impressos e digitais em escolas, supermercados, postos de saúde com auxílio dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e demais equipe de saúde, igrejas, CRAS, Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e outros lugares convenientes, anunciando o funcionamento do grupo à comunidade. Quanto à dinâmica dos encontros, acontecerão em basicamente dois momentos, inicialmente, os coordenadores voluntários realizarão o Acolhimento dos participantes e avisos gerais sobre o funcionamento do grupo. À seguir, ocorrerá um momento de espiritualidade, no qual será partilhada a maneira pessoal de de se relacionar com um poder superior, focando sempre na pluralidade do movimento e não associação à religião. Uma pequena exposição com duração de cerca de 20 minutos sobre o tema alusivo aos Princípios a serem trabalhados será realizada. Serão trabalhados um princípio por mês. Caso o grupo possua muitos participantes da comunidade, no momento após a palestra, poderá haver a divisão de subgrupos menores, para facilitar as próximas dinâmicas, mantendo um facilitador em cada subgrupo. Nesse segundo momento, sob a liderança de um dos voluntários, haverá a Partilha, onde cada participante poderá falar sobre o seu problema, poderá relatar como foi a sua última semana, mantendo uma análise norteada pelo Princípio que está sendo abordado naquele mês. Há também a proposta de cada participante estabelecer uma meta em cada reunião (podendo ser metas simples e fáceis de ser alcançadas, como por exemplo: a meta pessoal de começar a realizar caminhada, ou a meta familiar de estabelecer tarefas para cada membro da família), com o objetivo de sair da inércia e buscar melhoria pessoal, social, física, psicológica; nesse momento de Partilha, o participante pode trazer o retorno de como foi que ele praticou/atingiu a meta, podendo estabelecer uma nova meta para a próxima semana. Por fim, o grupo realiza o Encerramento com a Oração da Serenidade. A equipe coordenadora deverá se reunir cerca de uma hora a meia hora antes do início dos trabalhos, para preparar e alinhar as ações do grupo. A participação dos integrantes da universidade no presente projeto, dar-se-á por meio de contribuições nas palestras, acolhimento, acompanhamentos das atividades do grupo e ações relacionadas à prevenção do uso de drogas com crianças e adolescentes.

1. CLAUS, M.I.S. As forças familiares no contexto da dependência de substâncias psicoativas. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, v. 22,. n. 4, 2018. DOI: https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2018-0180. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/ean/a/wNV7YQcQdkJTwY8gKphCvfs/?lang=pt>. Acesso em: 2 jun. 2023 2. MACIEL, S. C. et al. Cuidadoras de Dependentes Químicos: Um Estudo sobre a Sobrecarga Familiar. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 34, e34416, Brasília, 2018. DOI: https://doi.org/10.1590/0102.3772e34416. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/ptp/a/s5FZP9MQC65jLtpPjhfCVqc/?lang=pt#>. Acesso em: 2 jun. 2023 3. MENEZES. Mara Sílvia C. de. O que é o Amor-Exigente?. In. SERRAT, S.M. (org). Drogas e Álcool: prevencão e tratamento. Campinas: Komedi, 2001. 4. MENEZES. Mara Síria C. de. Prevenção com amor-exigente - Antes que coisas ruins aconteçam. Campinas: Loyola, 2005 5. PAZ, F.M.; COLOSSI, P.M. Aspectos da dinâmica da família com dependência química. Estudos de Psicologia, v. 18, n. 4, Natal, 2013. DOI: https://doi.org/10.1590/S1413-294X2013000400002. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/epsic/a/hSfRJVTrXD3Jrt7nP9ZkRGw/?lang=pt>. Acesso em: 2 jun. 2023 6. SILVA, K. R. da; GOMES, F. G. C. Dependência química: resultantes do uso abusivo de substâncias psicoativas. Revista Uningá, [S. l.], v. 56, n. S1, p. 186–195, 2019. DOI: 10.46311/2318-0579.56.eUJ306. Disponível em: <https://revista.uninga.br/uninga/article/view/306>. Acesso em: 2 jun. 2023

A questão social relacionada ao uso de substâncias é um problema social intenso, no país e exterior, que trás imensas repercussões na vida do indivíduo, família e comunidade. Mesmo sendo conhecida a relevância desse projeto em atuação com o Amor-Exigente, primeiramente, a comunidade composta por pais e familiares de dependentes químicos foi consultada em suas necessidades por meio de reuniões no Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e outras Drogas de Diamantina, tendo sido elencadas as necessidades e possíveis formas de abordagem.

No projeto a interdisciplinaridade e interprofissionalidade aparecem por meio da participação de médicos, enfermeiros, psicólogos, professores, assistência social, terapeuta ocupacional, lideres comunitários e estudantes de diversas áreas do conhecimento.

A indissociabilidade pesquisa, ensino e extensão se apresentam por meio de capacitações com diversas temáticas que favorecem o aprendizado do estudante em saúde mental e pesquisas que serão desenvolvidas durante a ação.

Os estudantes do curso de Enfermagem e Medicina irão favorecer no desenvolver do projeto como facilitadores das ações uma vez que possuem durante o curso disciplinas voltadas a psicologia e saúde mental, além disso, poderão compreender na prática o conceito ampliado de saúde, com sendo um estado de bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções, enfermidades e transtornos. Os estudantes participarão do grupo inicial de estudos e treinamento, auxiliando na facilitação do grupo e serão avaliados a partir do acompanhamento direto do docente durante as atividades.

Tais ações poderão favorecer o realinhamento das famílias, melhorando o relacionamento familiar, promovendo o desligamento emocional e codependência e, consequentemente, por meio de um processo, alcançar a sobriedade de adictos e familiares.

As ações serão divulgadas em redes sociais- Facebook, Instagran e Whatsapp