A ação será realizada com o objetivo de desmitificar tabus e promover a saúde dos jovens em cumprimento de medidas no Centro Socioeducativo (um total de 27 pessoas, entre 13-21 anos) e serão realizados dois encontros que compreenderão palestras, dinâmicas em grupo, rodas de conversa, apresentação de slides e exposição do conteúdo, tendo como foco principal a saúde masculina.

Saúde do homem; jovens; privação de liberdade, educação em saúde; vulnerabilidade social.

A discussão da saúde masculina no âmbito dos jovens em conflito com a lei requer uma atenção especial e deve ser estimulada, uma vez que ainda existe grande negligência e desconhecimento dos homens em relação aos cuidados com sua saúde, especialmente por parte do público carcerário, o qual é mais fragilizado. Nesse contexto, no portal do Ministério da Saúde, Gabriela Rocha pontua que pessoas do sexo masculino demonstram menor preocupação e frequentam menos consultas médicas quando comparados às mulheres. Em adição, é importante ressaltar a carência socioeconômica e educacional dos jovens privados de liberdade, já que esse é um fator que impacta diretamente a falta de cuidado com a saúde pelo desconhecimento de informações importantes na construção do hábito de cuidar-se. De acordo com dados de classificação étnico-racial autodeclarada pelos adolescentes do Sistema Socioeducativo de Minas Gerais, observou-se uma população majoritária de adolescentes negros, o que retrata um claro reflexo da desigualdade étnico-racial que impera na sociedade, evidenciando correlação entre populações marginalizadas e encarceramento. Quanto à escolarização, 69,5% dos adolescentes atendidos responderam que não estudavam no período em que foram admitidos na Unidade Socioeducativa. Outro ponto fundamental desta análise baseia-se no fato de que o acesso à saúde previsto pelo SUS é universal e equânime à assistência. Portanto, o acesso à saúde por parte de adolescentes privados de liberdade não somente é um direito básico, garantido pela Constituição Federal, como o serviço deve ser ofertado sem quaisquer distinções em relação ao restante da população. Entretanto, o que observa-se, na prática, é a deficiência no cumprimento desses direitos. Dessa forma, a presente ação insere-se no Centro Socioeducativo de Teófilo Otoni, visando a encurtar as disparidades supracitadas, as quais assolam o público em questão. Levando-se em consideração essa carência multifatorial, poder-se-á, através da informação, reduzir a lacuna intelectual deixada pela trajetória marginalizada desses jovens, no que concerne à saúde, além de despertar a consciência do quão importante é a assiduidade aos serviços de saúde tão faltosa na população de homens no país, e, assim, mitigar os agravos que a negligência com a saúde pode levar. Além disso, o projeto atua como um mecanismo na construção do direito à saúde desses jovens, contribuindo para a melhoria da realidade histórica de negação dessa assistência, por meio da promoção de saúde, em especial a do homem. A ação também é importante para a formação acadêmica dos estudantes envolvidos em diversos aspectos, como fortalecer o entendimento do valor do profissional de saúde perante a sociedade, a aquisição de habilidades de comunicação, a construção de repertório sociocultural e, por fim, contribui-se com a democratização da Ciência e da informação de qualidade por meio da aproximação entre universidade e sociedade civil.

A equipe profissional do Centro Socioeducativo da cidade de Teófilo Otoni entrou em contato com representantes do corpo discente desta turma, buscando alunos dispostos a desenvolver um projeto voltado para jovens que se encontram em situação de privação de liberdade, mediante a promoção da educação em saúde desse grupo posto à margem da sociedade. Portanto, diante da carência de programas sociais na cidade de Teófilo Otoni, além da vontade desses alunos de buscar promover uma atividade de relevante impacto social, surgiram o interesse e a oportunidade de desenvolver a ação “Desmitificando a saúde do homem para Jovens Privados de Liberdade”. Esta ação justifica-se, dessa forma, pela relevância da Educação em Saúde para promoção de saúde integral aos adolescentes e jovens institucionalizados. A ação proposta visa à oferta de conhecimentos sobre autocuidado, saúde e bem-estar, a fim de que alcancem sua autonomia enquanto indivíduos e sigam suas vidas de forma digna e saudável, tendo em vista o que estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em seu art. 5º: É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.(BRASIL, 1990). Desse modo, o direito à saúde, em todos os seus aspectos, deve ser garantido não apenas pelo poder público, o qual administra e gere as instituições de internação dos jovens apenados, como também pela sociedade, da qual todos nós fazemos parte. Ademais, tais ações amplificam a experiência de contato do estudante de medicina com o paciente, num cenário orientado pela colaboração multidisciplinar e pela diversidade. De fato, a construção deste ambiente é essencial para a formação médica humanizada dos acadêmicos, uma vez que se torna um espaço privilegiado para o desenvolvimento das habilidades necessárias para o reconhecimento dos indivíduos como uma unidade biopsicossocial e inserida em contextos socioculturais diversos. Merece destaque, ainda, que este projeto é motivado e orientado pelas diretrizes para a extensão estabelecidas pela PNE e da qual a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) é signatária, quais sejam: Indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão, impacto e transformação social e interdisciplinaridade. Assim poderemos, por meio deste, conforme preconiza a Política de Extensão desta Universidade, (...) buscar uma relação social de impacto, ou seja, estabelecer uma relação entre a universidade e outros setores da sociedade, com vistas a uma atuação transformadora, voltada para os interesses e necessidades da maioria da população, buscando superar desigualdades, garantir diversidade, evitar exclusões, implementar o desenvolvimento regional e desenvolver políticas públicas.

A presente ação tem como objetivo fundamental instrumentalizar jovens e adolescentes privados de liberdade vinculados ao Centro Socioeducativo de Teófilo Otoni com informações e conhecimentos relacionados à área da saúde. Nesse viés, esta iniciativa se propõe a desencadear a melhora da qualidade de vida dessa população a curto e a longo prazo, por meio de uma abordagem atrativa e holística. Diante disso, os encontros propõem-se a contemplar não somente os assuntos de maior destaque dentro da temática da saúde do homem, mas também as demandas e as dúvidas do público em questão. Somado a isso, o beneficiamento acadêmico dos discentes envolvidos também é um objetivo dessa ação, uma vez que esta aspira aprimorar habilidades essenciais para a formação de profissionais mais competentes, como habilidades comunicativas e construção de repertório sociocultural. Além disso, os acadêmicos visam promover ações que propiciem a manutenção e a consolidação do vínculo entre o público alvo e a universidade, tendo em vista a realização pela FAMMUC de outras ações de educação em saúde anteriores nesta mesma instituição. Por fim, tais atividades objetivam construir - concomitantemente ao compartilhamento de informações relacionadas à temática supracitada - um ambiente de interação, diálogo e que fomente a participação ativa dos jovens.

Oferecer aos jovens reclusos informações acerca da saúde do homem, com intuito de terem ferramentas mais detalhadas sobre as patologias gerais que envolvem o seu bem estar. Além disso, almeja-se fornecer instruções relativas ao autocuidado, bem como elucidar as principais manifestações clínicas e a importância da realização de consultas periódicas. Tendo em vista, que este conhecimento reveste-se de grande relevância enquanto estes jovens se encontram privados de liberdade e, igualmente, quando readquirirem sua liberdade. Por fim, objetiva propiciar fortalecimento do vínculo entre os discentes e os jovens, aumentando a adesão destes às práticas de prevenção em saúde.

Esta ação será desenvolvida por doze discentes da 14ª turma de medicina sob a coordenação de docentes da Fammuc. Serão realizados dois encontros que ocorrerão em momentos distintos com os jovens que, atualmente, se encontram privados de liberdade no Centro Socioeducativo (CSE) da cidade de Teófilo Otoni. Nesses encontros, serão abordadas, de maneira clara, objetiva, dinâmica, interativa e acessível, aos diferentes níveis de escolaridade, temáticas que tratam a respeito das especificidades da saúde do homem, uma vez que o público-alvo da ação abrange apenas jovens do sexo masculino. Assim sendo, a ação será realizada de maneira interdisciplinar, abrangendo diversas áreas da medicina e da educação em saúde, com ênfase na área da saúde do homem. Além disso, o diálogo será construído de forma bilateral, de modo a não se limitar a um momento de exposição em que os alunos irão transmitir conhecimento aos jovens, pelo contrário, estes serão incentivados a compartilhar seus conhecimentos e experiências de vida uns com os outros e com os alunos. No entanto, para assegurar a participação ativa e a segurança de todos os participantes, os jovens do CSE, que, atualmente, somam um total de 27 pessoas, serão organizados em três grupos menores, cada um com 9 participantes. À vista do que foi supracitado, a ação será organizada de tal forma que os alunos abordarão a temática central: “Desmitificando a saúde do homem para Jovens Privados de Liberdade”, em dois encontros consecutivos, separados por um intervalo de aproximadamente 1 mês. Desse modo, o assunto central da ação foi selecionado pelos alunos em conjunto com as professoras orientadoras a partir de observações feitas durante ações previamente realizadas no Centro Socioeducativo pelos mesmos alunos, diante das dúvidas que surgiam no decorrer dos encontros, relacionadas às especificidades do corpo masculino. Não obstante, reforça-se a necessidade da abordagem dessa temática central o fato de o mês de novembro ser mundialmente conhecido como o mês de combate ao câncer de próstata, uma das inúmeras enfermidades que assolam a saúde do homem. Nesse viés, cada encontro dessa ação será realizado pelos alunos por um período de duração de, aproximadamente, 1 hora com cada um dos três grupos nos quais os jovens serão divididos. Assim, os encontros serão organizados e planejados, com o auxílio e supervisão das docentes orientadoras da ação, de maneira interativa, contando com a realização de dinâmicas de entrosamento (como: bingo e outros jogos, análise de frases como verdadeiras ou falsas, rodas de conversa, etc.), exposição dialogada com apresentação de slides e imagens e dinâmica de encerramento. Tudo isso, visando que todos os envolvidos no momento da ação se sintam confortáveis a falar e, ao mesmo tempo, dispostos a ouvir e aprender com os demais. Por fim, cabe destacar que as ações serão realizadas com o máximo respeito, empatia, zelo e comprometimento, apesar das limitações dentro da formação acadêmica que os alunos envolvidos nesse projeto possam apresentar. Isso se justifica haja vista que, de acordo com os Princípios Fundamentais presentes no Código de Ética do Estudante de Medicina: I- O estudante de medicina deve estar a serviço da saúde do ser humano e da coletividade, exercendo suas atividades sem discriminação de nenhuma natureza. [...] III- A escolha pela medicina exige compromissos humanísticos e humanitários, com promoção e manutenção do bem-estar físico, mental e social dos indivíduos e da coletividade. [...] VI- Cabe ao estudante, dentro de sua formação e possibilidade, contribuir para o desenvolvimento social, participando de movimentos estudantis, organizações sociais, sistema de saúde ou entidades médico-acadêmicas.

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A ação visa à construção dialógica da comunidade acadêmica com a sociedade, voltado para os jovens privados de liberdade. As rodas de conversa das ações buscam garantir uma interação dialógica aprazível e equânime entre atores universitários e não universitários, superando, assim, o discurso da hegemonia acadêmica e substituindo-o pela ideia de aliança entre os agentes envolvidos.

A ação busca a interdisciplinaridade e interprofissionalidade por meio da abordagem de diversas áreas da medicina, atrelada às diferentes áreas profissionais com o objetivo de trabalhar com a promoção e prevenção de saúde entre os jovens privados de liberdade. Nesse sentido, além dos acadêmicos de medicina, também estará presente a enfermeira Marcela - enfermeira e responsável pela equipe de saúde do Centro Socioeducativo

A ação de extensão “Desmitificando a saúde do homem para Jovens Privados de Liberdade” preconiza a Indissociabilidade Ensino-Pesquisa-Extensão ao colocar o estudante de medicina como protagonista de sua formação técnica- processo de obtenção de competências necessárias à atuação profissional -, e de sua formação cidadã – processo que lhe permite reconhecer-se como agente de garantia de direitos e deveres e de transformação social. Além de proporcionar ações que gerem resultados para a construção de conhecimento.

A implementação das ações visa aproximar acadêmicos com uma realidade distinta a uma das grandes questões contemporâneas: a privação de liberdade de jovens infratores. Tais ações buscam enriquecer a formação do estudante ao proporcionar vivências que têm como eixo o diálogo e o debate sobre questões que envolvem temas educacionais em saúde e compromissos éticos, a fim de incentivar um ensino humanizado.

A ação “Desmitificando a saúde do homem para Jovens Privados de Liberdade” busca prover conhecimento para jovens marginalizados com o propósito de superar a desigualdade e a exclusão social para, então, buscar construir uma sociedade mais justa, ética, igualitária e democrática.

As ações só serão divulgadas dentro do Centro Socioeducativo, para os jovens participantes.