A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito de Uberlândia, com os seus 24 grupos de congado filiado, é reconhecida como comunidade tradicional de matriz africana promotora de cultura popular e religiosa que não dominam as ferramentas de elaboração, submissão, gestão e acompanhamento de projetos fomentados com recursos públicos. Razão pela qual este projeto tem por objetivo promover apoio e ações de fortalecimento cultural desses grupos tradicionais.

Congado - Afrobrasileira - Cultura - Religiosidade

As primeiras festividades de Congado em Uberlândia – antiga Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra do Uberabinha – teriam ocorrido em 1874, promovidas pelos negros que viviam como escravos nas terras da família dos Pereiras e por outros afrodescendentes, advindos de outras regiões de Minas Gerais, em especial do Desemboque, Sacramento, Cruzeiro da Fortaleza e Patrocínio. Essas festividades eram realizadas junto a uma árvore de óleo localizada próximo do Posto da Matinha, na BR 050 – atuais bairros Tibery e Custódio Pereira. Posteriormente, o Congado passou a ser realizado em uma igrejinha localizada no bairro Fundinho, dedicada ao Rosário de Maria. Paralela às essas festividades, era realizada outra festa dedicada ao Rosário de Maria organizada por uma associação composta apenas por pessoas brancas, denominada Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. Dentre seus membros estava Arlindo Teixeira, que recomendou, em 1891, a transferência da Igreja de Nossa Senhora do Rosário da Praça Doutor Duarte para a Praça Rui Barbosa, visto que a mesma encontrava-se abandonada. A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito de Uberlândia tem sua fundação formal datada de 6 de junho de 1916. Ela foi criada por pessoas negras devotas do Rosário de Maria tendo em vista da existência de outra Irmandade composta apenas por pessoas brancas. Nesse sentido ela recebeu o nome de Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens de Cor de Uberabinha, tendo recebido do bispo Eduardo Duarte, de Uberaba (então sede eclesiástica de Uberabinha), a aprovação do Compromisso da Irmandade (Estatuto) e a nomeação do Cônego César Borges Pereira promotor ad hoc da Irmandade. Ao longo do tempo, a Irmandade ganhou novos contornos, sem perder os antigos. Tornou-se instituição a partir do laço espiritual e objetivo comum de pessoas negras, a saber: promover a glória de Deus e honra de S. S. Virgem, sob título do Rosário e a santificação e salvação das almas (Artigo 1, Compromisso, Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens de Cor de Uberabinha, 1916), bem como de manter vivo o patrimônio cultural herdado dos ancestrais africanos e afro-brasileiros. Com o tempo, a Irmandade composta por brancos foi dissolvida e a responsabilidade por zelar a Igreja de Nossa Senhora do Rosário ficou a cargo da Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens de Cor de Uberlândia. A partir da necessidade de se adequar às determinações do novo Código Civil Brasileiro, a então Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens de Cor de Uberlândia elaborou um novo Estatuto, passando ser denominada de Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito de Uberlândia – Minas Gerais. Como bem afirma GABARRA, “A Irmandade N.S. do Rosário não é o Congado, ela é a oficialização da união entre os diversos grupos de Congado. Irmandades e ou confrarias têm a função primeira de agrupar pessoas de uma mesma cultura” (2004). Razão pela qual, a Irmandade é defendida em seu Estatuto como uma associação religiosa e cultural, não partidária, sem fins lucrativos, contando com personalidade jurídica própria, tendo por finalidade: I– promover as tradições religiosas associadas às devoções populares a Nossa Senhora do Rosário e São Benedito; II – preservar e incentivar as práticas do Congado, do Moçambique e outras modalidades de danças e/ou tradições folclóricas e culturais afro-brasileiras; III – envidar todos os esforços para manutenção e conservação da Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito de Uberlândia, sede religiosa e cultural da Irmandade. A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito desenvolve como principais expressões culturais as práticas do Congado, Catupé, Marujos, Marinheiro e do Moçambique e outras modalidades de danças e/ou tradições folclóricas e culturais afro-brasileiras, bem como as tradições religiosas associadas às devoções populares a Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, sendo considerada a mais antiga associação do município de Uberlândia e é reconhecida como de utilidade pública municipal. Ao longo de mais de cem anos, a Irmandade já realizou 146 edições da Festa da Congada em Louvor à Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, sabendo-se que na edição de 2022, contou com a participação de 24 (vinte três) grupos, sendo 4 (quatro) Catupés, 8 (oito) Congos, 2 (dois) Marinheiros, 1 (um) Marujo e 9 (nove) Moçambiques, totalizando 2.398 (duas mil, trezentos e noventa e oito) pessoas nos ternos, sendo 818 (oitocentas e dezoito) mulheres e 1.590 (hum mil, quinhentos e noventa) homens. Confira os ternos filiados à INSRSB em https://irmandadernsrsb.wixsite.com/irmandadeuberlandia/grupos. Calcula-se que, anualmente, a Festa da Congada de Uberlândia realizada na Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito de Uberlândia recebe mais de 30.000 (trinta mil) pessoas que acompanham os ternos, devotos, simpatizantes e turistas. Assim como não se tem uma contabilidade do número significativo de pessoas que prestam serviços diversos nos quartéis dos ternos preparando alimentos, consertando instrumentos, confeccionando figurinos, dentre outras atividades. O público da Irmandade e dos festejos da congada é de origem e composição predominantemente afrodescendente, o laço racial, geográfico, cultural e étnico fortalece a identidade, as tradições e a memória dos antepassados africanos no exílio e escravidão das Américas. Essas atividades culturais-religiosas são realizadas em Uberlândia no período de julho a outubro de cada ano, tendo como ápice os dois dias de Festa de Congada em Louvor à Nossa Senhora do Rosário e São Benedito no segundo domingo e na segunda segunda-feira do mês de outubro de cada ano. A festa compreende-se a participação dos grupos e da população em geral desfiles de Louvor e apresentações de Santos, bem como busca, entrega e visitas ao Reinado e ao Presidente da Irmandade. Procissão, Missa, e Coroação integram a programação que se encerra com atividades e rituais de fé religiosa. Ensaios de danças, hinos e músicas são preparados para a apresentação final. Em 2008, a Festa da Congada de Uberlândia foi registrada como Patrimônio Imaterial Municipal de Uberlândia através do Decreto nº 11.321/2008. Conquista que demonstra a força dos nossos ancestrais, mesmo nos tempos atuais, onde várias crianças e jovens participam desta tradição. Em 2019, a Praça Nossa Senhora do Rosário foi reconhecida pelo Município de Uberlândia como lugar de memória e reparação histórica através do Decreto nº 17.903 de 07 de janeiro de 2019. Em parceria com a Faculdade Católica de Uberlândia, propiciou o acesso de mais de 20 (vinte) pessoas no ensino superior; Ofereceu diversas ações de cunho social, dentre elas oficinas de dança, penteados, reforço escolar, bem como de capacitação profissional aos membros dos ternos, especificamente: confecção de instrumentos, bordado e trança de cabelo; Também realizou seminários e colóquios sobre diversas temáticas, tendo sediado inclusive as atividades relacionadas ao processo de tombamento da Congada como patrimônio cultural imaterial de Minas Gerais (IPHAN, 2018). Ela também foi responsável por submeter proposta ao Município de Uberlândia para modificar o nome da Praça Rui Barbosa que abriga a Igreja do Rosário e São Benedito e a Festa da Congada para Praça do Rosário, tendo sido aprovado (DIÁRIO DE UBERLÂNDIA, 2019). Não menos importante, a Irmandade submeteu proposta ao Município de Uberlândia para transformar a Praça do Rosário em Espaço de Memória e Resistência Afro-brasileira e Congadeira (DIÁRIO DE UBERLÂNDIA, 2019 b).

Em primeiro lugar o presente projeto justifica-se pelo fato de que nem todos os agentes culturais, especialmente da cultura tradicional, popular e religiosa – especialmente afrobrasileira - dominam as ferramentas para a elaboração, submissão, gestão e acompanhamento de projetos fomentados com recursos públicos. Além da demanda concreta da comunidade externa, cabe destacar que o Estatuto da Igualdade Racial fixado pela Lei 12.288/2010 fixa as seguintes determinações relativas ao “Direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer”: Art. 9o A população negra tem direito a participar de atividades educacionais, culturais, esportivas e de lazer adequadas a seus interesses e condições, de modo a contribuir para o patrimônio cultural de sua comunidade e da sociedade brasileira. Art. 10. Para o cumprimento do disposto no art. 9o, os governos federal, estaduais, distrital e municipais adotarão as seguintes providências: I - promoção de ações para viabilizar e ampliar o acesso da população negra ao ensino gratuito e às atividades esportivas e de lazer; II - apoio à iniciativa de entidades que mantenham espaço para promoção social e cultural da população negra; III - desenvolvimento de campanhas educativas, inclusive nas escolas, para que a solidariedade aos membros da população negra faça parte da cultura de toda a sociedade; O Art. 10 explicita o papel dos governos para o atendimento pleno do direito da comunidade negra à educação, cultura, esporte e lazer, promovendo-se inclusive o apoio às entidades que promovem ações culturais e sociais voltadas para população negra. Ora, a UFVJM – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha é um ente do governo federal e não pode se furtar a cumprir seu papel e nem as determinações do Estatuto da Igualdade Racial, mesmo em outras regiões fora de sua área de abrangência. Já foram realizadas ações de extensão por servidores e discentes da UFVJM em que a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito de Uberlândia foi beneficiada e/ou parceira da universidade em vista de seu histórico e experiência como entidade cultural de cunho afrobrasileiro, reforçando as justificativas para o desenvolvimento de ação de extensão neste momento voltada para prestar apoio e fortalecimento da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.

O presente projeto tem por objetivo promover apoio e ações de fortalecimento cultural de comunidades tradicionais vinculadas à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito de Uberlândia. Objetivos específicos Especificamente este projeto possui os seguintes objetivos específicos: a) Aumentar a proximidade da UFVJM com a comunidade externa de Janaúba e de outras regiões de Minas Gerais, por meio de ação de extensão; b) Conhecer as temáticas relacionadas à cultura afrobrasileira desenvolvidas pelas comunidades tradicionais de Uberlândia; c) Participar e contribuir com desenvolvimento das atividades culturais dessas comunidades; d) Prestar apoio, orientação e capacitação dos agentes culturais dessas comunidades no que tange a elaboração, submissão, submissão, gestão e acompanhamento de projetos voltados para a captação de recursos para o fortalecimento das comunidades tradicionais.

A partir dos objetivos específicos do projeto, espera-se os seguintes resultados: a) Tornar a UFVJM conhecida na região de Janaúba, especialmente dentre as comunidades quilombolas, bem como em outras regiões de Minas Gerais; b) Favorecer aos discentes envolvidos no projeto possibilidades de aperfeiçoamento de seus conhecimentos e práticas adquiridos na graduação; c) Contribuir para o processo o conhecimento, respeito e valorização das tradições culturais afro-brasileiras; d) favorecer a captação de recursos financeiros pelas comunidades tradicionais. Os públicos-alvo da presente proposta de ação de extensão são: a) os membros da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito composta por 24 (vinte quatro) grupos de congado, b) bem como a comunidade que acompanha os grupos de congado e seus festejos. Em termos numéricos, espera-se contribuir com: a) a inscrição de pelo menos 3 (três) grupos de congado na Rede Cultura Viva como Pontos de Cultura; b) oferecer uma capacitação voltada para elaboração de projetos culturais; c) colaborar com a elaboração de pelo menos 3 (três) projetos de captação de recursos em editais do poder público municipal, estadual ou federal.

Em sua análise da pesquisa-ação e da pesquisa participante, Gil considera que “Tanto a pesquisa-ação quanto a pesquisa participante se caracterizam pelo envolvimento dos pesquisadores e dos pesquisados no processo de pesquisa. Neste sentido distanciam-se dos princípios da pesquisa científica acadêmica. A objetividade da pesquisa empírica clássica não é observada.” (GIL, 2008, p. 30) A presente proposta de ação de extensão fundamenta-se no fato de que já existe um envolvimento de seu coordenador com a Irmandade e com os demais membros da comunidade congadeira de Uberlândia, de maneira que muitas de suas dificuldades já são conhecidas. Razão pela qual a ação de extensão torna-se pertinente valendo-se dos princípios da pesquisa-ação e da pesquisa participante, na busca de soluções conjuntas para as dificuldades. Ainda que se pretenda adotar princípios da metodologia da pesquisa-ação e a pesquisa participante, ressalta- se que eles não serão adotados de modo em estrito e rigoroso. No que se refere aos princípios da pesquisa ação a serem adotados estão aqueles relacionados à contribuição para solução dos problemas ou desafios do grupo social, participando efetivamente de suas atividades. Os princípios da pesquisa participante e da pesquisa ação serão adotados na medida em que se procurará maior relação de proximidade e interação com a Irmandade e seus grupos de congado visando a melhor compreensão de suas atividades e sua cultura. A relação entre ensino, pesquisa e extensão decorre do fato de que o docente envolvido ministra disciplinas nos cursos de graduação da UFVJM ou desenvolvem ações de ensino relacionadas às temáticas questões étnicas, raciais e culturais, quer seja de modo direto ou transversal. Da mesma forma os discentes envolvidos na presente proposta também cursam ou já cursaram disciplinas relacionadas às questões étnicas, raciais e culturais e/ou participam de grupos de discussões e/ou iniciação científica vinculadas à elas. A partir dos conhecimentos já adquiridos, a equipe executora terá a oportunidade, do desenvolvimento deste projeto de extensão, vincular e discuti-los a partir daquilo que ocorre na vida concreta dos espaços culturais da Irmandade, da mesma forma que poderão visualizar temas de pesquisas e/ou outras ações de extensão a serem desenvolvidas futuramente. Neste sentido, em primeiro lugar, os extensionistas buscarão conhecer a Irmandade, seu histórico e suas respectivas propostas de ação. Conhecidas as comunidades, os extensionistas apontarão como deverão contribuir e desenvolver ações concretas para o desenvolvimento das atividades de extensão, interagindo durante o processo de preparação, execução e avaliação de cada ação. Como o presente é projeto de extensão voltada para apoio às atividades das comunidades tradicionais, a eficácia da ação de extensão será verificada a partir do retorno avaliativo delas para a equipe de execução do projeto.

DIÁRIO DE UBERLÂNDIA. Tombamento da Praça do Rosário garante realização da festa da congada no local. 2019. Disponível em <https://diariodeuberlandia.com.br/noticia/19371/tombamento- da-praca-do-rosario-garante-realizacao-da-festa-da-congada-no-local>. Acesso em 02 mar. 2021. DIÁRIO DE UBERLÂNDIA. Praça Rui Barbosa ganha registro de lugar e memória. 2019 b. Disponível em: <https://diariodeuberlandia.com.br/noticia/15133/praca-rui-barbosa-ganha-registro-de-lugar-de- memoria e http://www.uberlandia.mg.gov.br/?pagina=Conteudo&id=3037 e https://www.facebook.com/jeremias.brasileiro/videos/10212724860428118/UzpfSTYxMDk4MDkxMjM5ND Acesso em 05 mar. 2021. GABARRA, Larissa Oliveira. A dança da Tradição: congado em Uberlândia – MG, século XX. 2004. Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de História, UFU / Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2004. GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo : Atlas, 2008. IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO E SÃO BENEDITO. Compromisso, Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens de Cor de Uberabinha. Livro de Atas, 1916. Fotografia cedida por Padre Balthazar Salum Passos. IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO E SÃO BENEDITO. Estatuto. Disponível em <https://irmandadernsrsb.wixsite.com/irmandadeuberlandia/estatuto-e-regimentos>. Acesso em 08 mar. 2021. IPHAN. Congadeiros de Minas Gerais se reúnem com IPHAN-MG. 2018. Disponível em <http://portal.iphan.gov.br/mg/noticias/detalhes/4605/congadeiros-de-minas-gerais-se-reunem-com- iphan-mg>. Acesso em 02 mar. 2021. LUFT, Lya Fett. Dicionário escolar Luft da língua portuguesa. São Paulo: Ática, 2005. REZENDE, Creuza (coord.). Festas Populares: Um olhar de criança. Gráfica Sabe, Uberlândia, 1999. SANTOS, Eneida Pereira dos, MAHFOUD, Miguel. Irmandades de Negros: construção da identidade de seus velhos em Minas Gerais. Disponível em <http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/artigos03/santos01.htm. Acesso em 18 de mai. de 2008.

A proposta deste projeto surge do fato de que seu coordenador é membro da Irmandade e conhecedor de seus problemas e dificuldades. Destaca-se ainda que, em 2018, o fato de que o NEABI/UFVJM já tinha promovido a aproximação com a Irmandade em uma ação de extensão em que docentes e discentes da UFVJM tiveram a oportunidade de participar da Festa da Congada daquele ano. Também é importante destacar que já foi desenvolvido outro projeto em parceria com a Irmandade com a oferta de uma capacitação sobre tambor. Portanto, a interação dialógica já está estabelecida e tem favorecido que ambas as instituições colaborem umas com as outras, visto que os membros da equipe executora possuem discussões e estudos em comum relacionados às questões étnico-raciais, culturais e religiosas. O Congado é uma tradição cultural e religiosa afro-brasileira amplamente praticada no estado de Minas Gerais desde o século XVII e, em Uberlândia, desde 1874 permanecendo viva e ativa principalmente através da transmissão dos conhecimentos pelos mais idosos para os mais jovens através da oralidade. Isto é, são poucos ou raros os saberes transmitidos pela via escrita, assim como são recentes – década de 1980 – os registros videográficos das histórias e experiências dos mais idosos. Por outro lado, do ponto de vista acadêmico-científico, a Congada ainda é pouco explorada nas universidades como objeto de pesquisa e de extensão que possibilite os citados registros. Por isso, a presente ação de extensão poderá, em primeiro lugar, propiciar à Equipe Executora condições de conhecer essas tradições da Congada e facilitar a delimitação de formas de atuação extensionista junto à Irmandade e à comunidade congadeira de Uberlândia. Este conhecimento se dará através da participação e envolvimento da Equipe Executora com as atividades que a Irmandade realiza. Portanto, o desenvolvimento da ação de extensão será a oportunidade da comunidade acadêmica envolvida ouvir os relatos, observar a forma pelas quais a Irmandade organiza e realiza suas atividades. Por outro lado, a Irmandade e a comunidade congadeira poderá se beneficiar dos conhecimentos e práticas comuns da vida acadêmica e científica desenvolvidas pela universidade, especialmente aquelas relativas ao planejamento adequado e formal das ações, à elaboração de projetos e de materiais, a avaliação e revisão das ações, dentre outras, propiciando o aperfeiçoamento daquilo que a Irmandade e os congadeiros já desenvolvem em seu cotidiano cultural e religioso. Pretende-se também contribuir para divulgação de ambas as instituições na medida em que a UFVJM também será levada ao público da congada. Por outro lado, a Equipe Executora também propiciará à Irmandade e ao congado de Uberlândia ferramentas de sua divulgação e valorização.

Em primeiro lugar, a interdisciplinaridade no presente projeto encontra-se atrelada à indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, pois a equipe executora é composta por um docente da área de Ciências Humanas que está envolvido e desenvolve ações relacionadas às temáticas questões étnicas, raciais e culturais, quer seja de modo direto ou transversal. Também é composta por discentes de diferentes instituições de ensino. Serão 2 (duas) discentes da UFVJM, sendo vinculadas ao Curso de Bacharelado em Ciência e Tecnologia do Campus Janaúba. Os conhecimentos de cada membro da equipe executora em suas respectivas áreas de conhecimento possibilitarão estabelecer relações importantes entre o que se discute em termos teóricos sobre cultura, preservação do patrimônio cultural material e imaterial, dentre outros aspectos abordados nas disciplinas que os discentes cursam ou cursaram, bem como nas disciplinas ministradas pelos docentes com a realidade efetiva dos agentes culturais. Essas experiências contribuirão para o desempenho profissional de todos os participantes, pois as questões culturais, sociais, políticas, antropológicas influenciam no modo pela qual os profissionais atuam, especialmente, na forma de abordagem e tratamento das pessoas com quem irão se relacionar na vida profissional nos aspectos geográficos e culturais.

A relação entre ensino, pesquisa e extensão decorre do fato de que o docente envolvido ministra disciplinas nos cursos de graduação da UFVJM ou desenvolvem ações de ensino relacionadas às temáticas questões étnicas, raciais e culturais, quer seja de modo direto ou transversal. Da mesma forma os discentes envolvidos na presente proposta também cursam ou já cursaram disciplinas relacionadas às questões étnicas, raciais e culturais e/ou participam de grupos de discussões vinculadas à elas. A partir dos conhecimentos já adquiridos será possível discuti-los a partir daquilo que ocorre na vida concreta dos espaços culturais da Irmandade, da mesma forma que poderão visualizar temas de pesquisas e/ou outras ações de extensão a serem desenvolvidas futuramente. Neste sentido, em primeiro lugar, os extensionistas buscarão conhecer a Irmandade, seu histórico de atuação, bem como suas respectivas propostas de ação. Conhecida a Irmandade e seu projeto, os extensionistas apontarão como deverão contribuir e desenvolver ações concretas para o desenvolvimento do projeto da Irmandade, interagindo durante o processo de preparação, execução e avaliação de cada ação.

A equipe de extensionistas buscará conhecer as comunidades e as suas respectivas propostas de ação. Conhecidas as comunidades e seus propósitos, os extensionistas apontarão como deverão contribuir e desenvolver ações concretas para o desenvolvimento delas, interagindo durante o processo de preparação, execução e avaliação de cada ação. A formação acadêmica dos estudantes será fortalecida pela oportunidade de aperfeiçoamento de seus conhecimentos e práticas adquiridos na graduação e em seus respectivos grupos e estudos ou atuação cultural. Especificamente, podemos apontar como impacto para a experiência de cidadania dos discentes a ampliação e enriquecimento da noção de cultura, especialmente de cultura popular tradicional e religiosa afrobrasileira, principalmente pelo fato de que a Cultura é um direito humano assegurado na Declaração Universal dos Direitos Humanos e em diversas legislações brasileiras, a exemplo da Constituição da República Federativa do Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente e no Estatuto da Igualdade Racial. Profissionalmente, a ação contribuirá para o aprimoramento na elaboração, desenvolvimento e acompanhamento de projetos de diferentes naturezas, bem como acerca das maneiras de se promover a aproximação e diálogo com comunidades tradicionais visando contribuir com elas.

A era digital tem exigido das comunidades e dos agentes culturais a reinvenção de suas práticas. Muito embora, muitos deles não tenham condições de se adequar aos requisitos legais de editais públicos para acesso a apoio cultural, nem de gerir os projetos e/ou de promover ações culturais apenas com os seus próprios recursos. Neste sentido, o apoio ao desenvolvimento das comunidades tradicionais pode gerar impactos positivos para elas no que tange a elaboração de projetos de captação de recursos e a gestão desses projetos, de maneira que possam atuar de modo mais autônomo, consciente e responsável.

Como se trata de ação de extensão com caráter de apoio ao desenvolvimento do projeto de fortalecimento das tradições do congado em Uberlândia desenvolvidas pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, a responsabilidade pela divulgação é da Irmandade que se valerá das suas redes sociais e de seu sítio eletrônico para esse fim. Neste sentido, caberá à equipe extensionista contribuir para sua melhor execução a partir de suas ferramentas e conhecimentos, compartilhando as ações da Irmandade em suas respectivas contas pessoais nas redes sociais.

O público participante avaliará a ação de extensão por meio por meio de instrumento de avaliação a ser disponibilizado pela equipe de extensionistas. A avaliação pela equipe executora ocorrerá mensalmente, visando analisar as ações realizadas, no que tange a sua qualidade, quantidade, bem como acerca da necessidade de aperfeiçoamento das etapas seguintes. Ao final de todas as atividades de posse de todas as avaliações enviadas pelo público, proceder-se-á a análise de seus resultados visando o aperfeiçoamento de outras ações de extensão semelhantes. A carga horária total da ação de extensão justifica-se em virtude das distâncias geográficas e da quantidade de comunidades beneficiárias do projeto.