Projeto aberto à comunidade interna e externa da UFVJM que visa o estudo e a pesquisa da dança. Procura explorar procedimentos metodológicos que articulam a escuta do corpo, o autoconhecimento, o cuidado de si, o estado de presença, a pesquisa de movimento e os estudos coreográficos. As experiências corporais serão estruturadas com base na Técnica Klauss Vianna (TKV), na Coreologia de Rudolf Laban e outras técnicas corporais artísticas e somáticas.

Arte, Dança, Corpo, Educação Somática, Processo criativo.

Ao longo da história os seres humanos foram construindo diferentes possibilidades de usar seu corpo e, essas, acumularam-se como conhecimento cultural nos diferentes grupos sociais (GONZÁLES; FENSTERSEIFER, 2010). Nesse sentido, o corpo configura-se como o primeiro espaço cultural, pois é por meio dele que todas as manifestações simbólicas se instituem (MERLEAU-PONTY, 1999). Entre as manifestações corporais, encontramos a dança, um sistema de signos que permite a produção de significados e articulações infinitas (MARQUES, 2010). Os seres humanos sempre dançaram a relação com a natureza, os mistérios da vida, os rituais, entre outros acontecimentos que fizeram da dança um modo total de viver o mundo, a um só tempo, conhecimento cultural, arte e religião (GARAUDY, 1980). A Educação Física é uma área do conhecimento responsável por tematizar as práticas corporais em suas diversas formas de expressão. Portanto, historicamente a dança vem integrando as práticas pedagógicas dessa área de conhecimento. Apesar disso, é fato que a dança no contexto da Educação Física ainda carece de reflexões, experiências e investigações acerca de perspectivas metodológicas e processos de criação. Outro aspecto relevante é o pouco acesso que a população em geral tem à prática da dança: aulas regulares, espetáculos, cursos, oficinas, entre outras ações que, normalmente, se restringem a uma pequena parcela da população, com maior poder aquisitivo. Na cidade de Diamantina-MG, pode-se encontrar um movimento em expansão das artes, com a criação do curso técnico de teatro do IFNMG, o conservatório de música estadual e a criação de centros e locais de fomento as artes. No entanto, embora a UFVJM tenha expandido as suas ações acadêmicas em diferentes setores do conhecimento, a universidade ainda não possui nenhum curso no âmbito das artes, o que evidentemente não apenas sugere uma opção político-pedagógica como também exige um esforço da instituição afim de suprir essa carência importante no contexto de uma formação integral do ser humano. Ao desenvolver, no espaço universitário, uma proposta que explore procedimentos metodológicos diversificados, articulando a escuta do corpo, o autoconhecimento, o cuidado de si, o estado de presença, a pesquisa de movimento e os estudos coreográficos, pretende-se, além de privilegiar o processo criativo do gesto, promover reflexões sobre propostas estéticas, metodologias de ensino e diferentes maneiras de compreender a dança e o corpo na arte contemporânea, o que poderá contribuir para a ampliação do pensamento e relações entre processos pedagógicos, dança e corpo no contexto da Educação Física, bem como permitir o acesso à dança como área de conhecimento à comunidade universitária e externa.

De forma geral, em diferentes contextos, a dança continua pautada em procedimentos metodológicos tradicionais, priorizando a cópia e a reprodução de movimentos (MARQUES, 2010). Nesse sentido, na presente proposta, contemplamos técnicas de dança e educação somática, nas quais os participantes são desafiados a compreender pelo corpo em sua integralidade e singularidade (percebendo, sentindo, pensando, interrogando e agindo). A percepção de si ganha protagonismo, considerando que cada corpo possui particularidades em suas estruturas, por isso, a compreensão dos caminhos de movimento exige pesquisa, trabalho perceptivo e interrogação. A referência não é o corpo do professor, mas o corpo de cada pessoa em pesquisa. Um diferencial das propostas que aliam dança à educação somática é promover o aprimoramento da percepção corporal constantemente, aliando autoconhecimento e criação (MARQUES, 2022). O Programa de Bolsas de Apoio à Cultura e à Arte da UFVJM ressalta que o acesso à arte e à cultura, à memória e ao conhecimento é um direito constitucional e condição fundamental para o exercício da cidadania (UFVJM, 2017). Dessa maneira, visa-se democratizar o acesso à prática corporal da dança contemporânea e às técnicas de educação somática, que, normalmente ficam restritas às academias e escolas especializadas, além de contribuir com a saúde do corpo e a formação humana, ampliando a consciência corporal e o conhecimento estético-cultural dos envolvidos.

Objetivo geral: Democratizar o acesso à dança com referencial somático, promovendo a integração da UFVJM com a comunidade externa. Objetivos específicos: > Potencializar a criação de um espaço para a produção e formação de público em dança contemporânea; > Conhecer e experienciar técnicas corporais somáticas que proporcionem o desenvolvimento da consciência, percepção e organização corporal; > Promover a ação investigativa do movimento possibilitando a escuta do corpo, o autoconhecimento, o cuidado de si e a autonomia na experiência do corpo presente; > Proporcionar a vivência da dança articulada à dimensão reflexiva, integrando ensino, extensão e despertando o interesse pela pesquisa na área; > Explorar procedimentos metodológicos que articulem a improvisação e a composição coreográfica de maneira integrada; > Fomentar a arte da dança enquanto área de conhecimento no âmbito da UFVJM.

- Contemplar 25 participantes de forma direta; - Contemplar aproximadamente 100 expectadores com apresentações; - Realizar encontros semanais, com duração de uma hora e meia, com a perspectiva de expandir para dois encontros semanais em 2025/2, totalizando 3h ao longo do desenvolvimento do projeto; - Apresentação da experiência vivenciada no Projeto em pelo menos 01 evento científico, abordando o projeto, sua concepção, seu desenvolvimento e seus resultados parciais; - Elaboração de um vídeo sobre as experiências artístico-pedagógicas desenvolvida pelo projeto (que pode ser divulgado no Instagram do Poéticas do Corpo); - Manutenção do Instagram do Projeto com divulgação dos registros semanais, em fotos e vídeos, de todo o trabalho desenvolvido (aulas regulares e estudos cênicos); - Realizar pelo menos 1 ensaio aberto nas dependências da UFVJM durante o SINTEGRA; - Realizar 1 montagem cênica mais ampla junto à comunidade de Diamantina, prevista para ser compartilhada ao longo do ano de 2025; - Vincular o projeto ao trabalho de conclusão de curso (TCC) dos acadêmicos que virem integrar a proposta e que almejem o aprofundamento na temática do corpo em estado de arte.

O projeto tem como base a formação de um coletivo de pessoas interessadas em dança e educação somática. Pretende-se contemplar a comunidade universitária da UFVJM e o público externo (maiores de 16 anos). As inscrições serão abertas em março de 2025, por uma semana, realizadas pelos professores coordenadores, via formulário on-line. Será formada uma turma composta por até 25 participantes. A divulgação será feita em parceria com o Departamento de Educação Física DEFI/UFVJM. Construiremos um folder digital que será divulgado em páginas da UFVJM, e-mails, WhatsApp e redes sociais do Projeto. Na sequência, os participantes receberão um e-mail com a confirmação da inscrição e o convite para o início das aulas que ocorrerão na segunda quinzena de março/2025. Serão oferecidos encontros semanais, com duração de uma hora e meia. As aulas serão desenvolvidas no Laboratório de Dança, que integra as instalações do Departamento de Educação Física (DEFI/UFVJM), no Campus JK. O projeto fundamenta-se nos princípios da Coreologia de Laban, apoiados pelos estudos de Isabel Marques (2010), e, de maneira mais ampla, na Técnica Klauss Vianna (uma técnica de Dança e Educação Somática brasileira), respaldada pelos estudos de Jussara Miller (2007, 2012). Além disso, contaremos com o apoio de outras técnicas corporais artísticas e somáticas que podem contribuir com o estudo consciente do movimento e, consequentemente, com a ativação de estados de presença e ações criativas. Elegeremos metodologias que privilegiam os processos criativos em dança, contemplando a escuta do corpo, a improvisação, a ação investigativa do movimento, os jogos cênicos, a criação de partitura gestual e a composição coreográfica. Estes conteúdos são estruturados pela Corêutica: o estudo do corpo e sua relação com o espaço; e pela Eucinética: o estudo das qualidades expressivas do movimento (oriundas da Coreologia de Laban) (LABAN, 1978). Da Técnica Klauss Vianna, inclui-se: o estudo da organização corporal, articulações, peso, apoios, resistência, oposições, eixo global e os processos dos vetores (direções ósseas). Tudo isso privilegiando a investigação corporal para a construção da presença cênica e experiências lúdicas do corpo (MILLER, 2007). O projeto contará com processos de registros em fotos, vídeos e diário de campo, o que permitirá a construção de dados que podem ser analisados, sistematizados e possivelmente publicados. Será desenvolvido um processo contínuo de avaliação pelos participantes, que será realizada por meio de escuta e diálogo frequente. Almejando o acesso, o contato e o interesse da comunidade universitária pela apreciação dessa arte, desenvolveremos ensaios abertos nas dependências da UFVJM, bem como organizaremos pelo menos uma apresentação mais ampla junto à comunidade de Diamantina, prevista para ser compartilhada no final do presente ano. Além disso, tendo contato com vídeos de dança contemporânea (selecionados pelos coordenadores do Projeto), os integrantes serão estimulados à leitura e interpretação da dança, visando desenvolver a reflexão crítica em torno dos processos criativos e metodologias de ensino em dança.

GARAUDY, R. Dançar a vida. 7 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. GONZÁLES, Fernando. J; FENSTERSEIFER, Paulo Evaldo. Entre o “não mais” e o “ainda não”: pensando saídas do não-lugar da EF escolar II. Cadernos de formação RBCE, p. 10-21, mar, 2010. LABAN, Rudolf. O domínio do movimento. São Paulo: Summus, 1978. MARQUES, Isabel. Linguagem da dança: arte e ensino. São Paulo: Digitexto, 2010. MARQUES, Danieli A. P. Entre palavra e movimento: possíveis interlocuções na Técnica Klauss Vianna - Monografia - Curso de especialização em técnica Klauss Vianna. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2022 MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da Percepção. Tradução de Carlos A. R. Moura. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. MILLER, Jussara. A escuta do corpo – sistematização da técnica Klauss Vianna. 2. Ed. São Paulo: Summus Editorial, 2007. MILLER, Jussara. Qual é o corpo que dança?: dança e educação somática para adultos e crianças. São Paulo: Summus, 2012. VIANNA, Klauss. A dança. 5 ed. São Paulo: Summus, 2008.

Ao possibilitarmos experiências de pesquisa e criação coletiva em dança, esperamos que a interação entre a comunidade acadêmica e a comunidade externa permita a troca de saberes, o diálogo constante e, consequentemente, a construção de outras formas de compor na dança, gerando novos conhecimentos advindos da prática compartilhada, o que pode enriquecer a formação de todos os envolvidos. Ainda, considerando a importância da divulgação dos conhecimentos produzidos na universidade e visando o acesso a produção artística e cultural, estudos coreográficos serão elaborados e compartilhados com a comunidade local. Complementando, ao divulgar no Instagram do projeto os registros semanais do trabalho desenvolvido, além das apresentações cênicas presenciais, fotos e vídeos podem se tornar linguagens eficientes para a comunicação e difusão do trabalho desenvolvido para a sociedade.

O ensino da dança será articulado aos conhecimentos das duas áreas de conhecimento as quais ela permanece vinculada, Arte e Educação Física, envolvendo o estudo do corpo na perspectiva da saúde e da expressividade. Ao mesmo instante que podemos reconhecer as estruturas anatômicas do corpo e explorarmos as alavancas biomecânicas gerada pelos vetores de força da Técnica Klauss Vianna, também podemos exercitar a sensibilidade, a percepção, a ativação da presença e estados criativos da expressividade corporal, tendo o movimento como eixo de atuação. Ambos os conhecimentos acessados via exploração do movimento contribuem para a construção de um conhecimento interdisciplinar, no qual técnica e criação são indissociáveis. A relação entre dança e educação somática realizada no contexto do projeto, pode também motivar o interesse dos estudantes e participantes da comunidade externa (com diferentes formações) pela interação entre Arte, Saúde e Educação, colaborando com o diálogo interdisciplinar, com a relação teoria e prática e possíveis trocas de conhecimento.

Extensão: neste projeto, temos como meta democratizar o acesso a saberes sistematizados, técnicas de dança e educação somática, que, ao serem compreendidas, se dão a partir das singularidades de cada corpo, oportunizando, ao mesmo tempo, o acesso ao conhecimento acadêmico e a troca de saberes a partir da interação conjunta de estudantes e comunidade externa. A partir dos encontros, pessoas passam a ter contato com aulas regulares de dança, bem como a oportunidade de desenvolver estudos cênicos, aprimorando conhecimentos técnicos e artísticos nesta área. Além disso, ao compartilharmos publicamente as pesquisas artísticas coreografadas no projeto, contribuímos para a formação de espectadores de dança, garantindo direitos culturais à população local, resultado que nutre o compromisso da universidade pública ao incluir a sociedade em suas ações. Pesquisa e ensino: os participantes serão estimulados a realizar leituras especializadas em dança, bem como integrar o Grupo de Estudos e Pesquisas em Técnicas Corporais Artísticas, Marciais e Terapêuticas (UFVJM/CNPq). Em contato com os estudos teóricos e com as diversificadas experiências estéticas, os participantes podem enriquecer sua disponibilidade corporal e reflexões em torno dos procedimentos criativos em dança. Dessa forma, tendem a se apropriar de metodologias de ensino aplicáveis ao contexto das artes do corpo, o que contribuirá com o processo de formação acadêmica e profissional, sendo a extensão em dança mais uma possibilidade formativa, que pode oferecer recursos e referências para o ensino e a criação em dança. Ao mesmo tempo em que o programa abre espaço para a formação técnica e pedagógica, estimula a produção artística/cultural, bem como a pesquisa e produção acadêmica que poderá dialogar com os processos de registros do programa (fotos, vídeos e diário de campo). Além disso, prevemos compartilhar os resultados parciais das atividades desenvolvidas em pelo menos um evento científico, na modalidade comunicação oral.

Estima-se contemplar, além da comunidade externa, no mínimo 10 estudantes dos diferentes cursos de graduação da UFVJM. E, tematizar a especificidade da dança na extensão universitária pode sensibilizar os estudantes sobre a importância da pluralidade cultural e diversidade de conhecimentos no espaço da universidade. Ainda, o autoconhecimento e o cuidado de si, acessados nas práticas corporais somáticas, podem reverberar no cuidado diário do corpo, que passa a conhecer seus limites e potencialidades, aprimorando as respostas de movimento no diálogo com o ambiente. Uma vez criada a autonomia para a prática cotidiana do movimento consciente, contribuímos com a saúde do corpo, além do já mencionado conhecimento estético-cultural dos envolvidos.

É importante afirmar que estudar ainda é um dos principais mecanismos de transformação social. Portanto, qualquer política pública que favoreça o cidadão a aprimorar a sua formação escolar e humana contribuirá de alguma forma para a transformação social. Nesse sentido, os editais da Proexc tem favorecido enormemente a manutenção dos estudos e o aperfeiçoamento da formação dos estudantes, bem como da comunidade em geral. Espera-se que os participantes desenvolvam a sensibilidade artística e compreendam a dança como área de conhecimento, reconhecendo procedimentos metodológicos diversificados que articulam o estudo do movimento, a improvisação e a composição coreográfica, ampliando e fortalecendo práticas de ensino e criação, além de acreditarem em um projeto de formação humana coletivo, que aposta na arte e que acredita no seu potencial de proporcionar o autoconhecimento, o cuidado de si, o respeito à diversidade, aos limites individuais, e consequentemente, na possibilidade de todos os corpos dançarem.

A divulgação das inscrições será sempre realizada em parceria com o DEFI/UFVJM e PROEXC/UFVJM. Folder digital e um breve texto contendo os objetivos da proposta serão compartilhados nas páginas e redes sociais do DEFI e PROEXC, além da divulgação realizada no Instagram do próprio Projeto. Além disso, prevemos compartilhar os resultados parciais das atividades desenvolvidas em pelo menos um evento científico, na modalidade comunicação oral. E no final do semestre 2025/2, um estudo cênico será compartilhado com a comunidade local.