A presente proposta trata-se de um programa de capacitação de agentes envolvidos (de forma direta ou indireta) na cadeia leiteira da região do Alto Jequitinhonha - Diamantina MG. As ações propostas dentro deste programa envolvem temas relacionados ao manejo (nutricional, reprodutivo e sanitário) do rebanho, ao bem-estar dos animais, à produção de forragem, à qualidade do leite e, à produção e qualidade de derivados lácteos. Colabora também para o treinamento extensionista de discentes da UFVJM.

Alimentação, Bovinocultura, Bem-estar, Derivados Lácteos, Difusão de Tecnologias, Indústria de Laticínios, Instalações e Ambiência, Pastagem, Segurança Alimentar, Zootecnia

A pecuária brasileira tem grande participação na economia do país e vem crescendo cada vez mais. Neste cenário, o estado de Minas Gerais se destaca como maior produtor de leite do país, no entanto, há uma grande heterogeneidade no processo produtivo, onde é sempre questionada a produtividade dos animais usados nos sistemas de produção, bem como a viabilidade econômica da atividade. No Vale do Jequitinhonha, a atividade é na sua maioria, praticada por pequenos produtores, muitas vezes de forma extrativista e sem o mínimo de tecnificação. Assim, faz-se necessário a transferência de tecnologias desenvolvidas no âmbito das Universidades e Centros de Pesquisa até esses sistemas de produção.

A pecuária leiteira consiste em uma atividade econômica de grande importância, visto que o mercado consumidor brasileiro encontra-se em expansão e cada vez mais exigente. É uma atividade desenvolvida em praticamente todas as regiões do Brasil. De acordo com Ambrosini e Filippi (2008), representa papel importante na sustentabilidade agrícola, especialmente em propriedades de base familiar, por desempenhar funções de autoconsumo e geração de renda diária ou semanal para os produtores. Nos últimos anos, grandes mudanças têm sido observadas em sistemas de produção de leite no País e em todo o mundo, como o aumento no número de animais criados e do uso de insumos, além de uma maior preocupação com a qualidade do leite que chega à mesa do consumidor (Brasil, 2024). No entanto, a realidade da maioria dos sistemas de produção evidencia um cenário de baixa tecnologia, baixa produtividade dos animais e pouco conhecimento técnico sobre o trabalho que se desenvolve. Grande parte dos sistemas de produção de leite do Vale do Jequitinhonha é caracterizada por animais de baixo potencial genético (baixa produtividade), manejo nutricional e higiênico-sanitário deficientes, com altas taxas de mortalidade, morbidade e baixo ganho de peso, resultando em prejuízos advindos da necessidade de reposição de animais, bem como gastos com medicamentos. Além disso, esses sistemas de produção extrativistas trazem problemas ambientais tais como erosão de solo associada ao uso intensivo das pastagens (naturais ou plantadas), diminuição das paisagens arbóreas e arbustivas naturais, assoreamento de cursos d’água superficiais e contaminação de nascentes (Leite et al., 2017). As regiões mais áridas, em particular como o Vale do Jequitinhonha, face às suas peculiaridades físicas e políticas, apresenta extrema vulnerabilidade a problemas alimentares, influenciados por diversos fatores, gerando complicações de base primária ao trabalho e aos meios de produção (Guerra, Cervato-Mancuso e Bezerra, 2019). Assim, a produção de leite pode se tornar um importante instrumento na política de produção de alimentos e da segurança alimentar dos habitantes do Vale. O atual conceito de Segurança Alimentar e Nutricional significa: garantir, a todos, condições de acesso a alimentos básicos de qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, com base em práticas alimentares saudáveis, contribuindo assim, para uma existência digna, em um contexto de desenvolvimento integral da pessoa humana (Menezes, 1998). Todos esses fatores estão intrinsecamente relacionados com a distribuição de riqueza e renda. Apesar da existência de pequenas criações de bovinos leiteiros em quase todas as propriedades rurais da Região, as quais prestam importante papel na melhoria das condições de vida das populações de baixa renda, inexistem, na maioria dos sistemas de criação, os procedimentos básicos relacionados ao uso de instalações, manejo reprodutivo, nutricional e, principalmente, higiênico-sanitário. Muito tem que ser melhorado nestes sistemas, para que o produtor possa ter uma propriedade sustentável e capaz de gerar renda para seu sustento e de sua família. Ressalta-se também, a necessidade de conhecimento sobre tecnologias para produção de derivados lácteos, como estratégia para agregação de valor ao produto final. Neste sentido, destaca-se a importância da capacitação dos sujeitos que compõem a cadeia leiteira por meio da difusão do conhecimento advindo das universidades e centros de pesquisa.

Gerais: Contribuir para a geração de desenvolvimento e consequentemente renda, para os produtores de leite da região do Alto Vale do Jequitinhonha MG, como forma de garantir a permanência do homem no campo com qualidade de vida, visando contribuir também com a segurança alimentar da população. Específicos: • destacar a importância da bovinocultura leiteira para a região; • oportunizar formação técnica em bovinocultura leiteira aos discentes envolvidos neste programa, bem como aos colaboradores do Setor de Bovinocultura de Leite do Campus JK - UFVJM; • melhorar os índices zootécnicos dos sistemas de produção, aumentando a renda das famílias produtoras de leite; • avaliar o estado sanitário de bezerras leiteiras, as quais são as futuras produtoras de leite do sistema; • enfatizar a utilização de subprodutos da agroindústria na alimentação dos rebanhos; • garantir ao consumidor final, um alimento de qualidade por meio da obtenção higiênica do leite e boas práticas de fabricação; • incentivar a aplicação de resultados de pesquisa nos sistemas de produção de leite; • estimular o interesse do discente da UFVJM (por exemplo, discentes dos cursos de Agronomia, Engenharia de Alimentos e Zootecnia) para as questões técnicas e sociais do Vale do Jequitinhonha; • elaborar e confeccionar materiais didáticos, problematizados na realidade local, para servir como fonte de informação aos produtores e demais sujeitos da cadeia produtiva do leite.

Com impactos diretos: - Capacitação da cadeia leiteira (produtores de leite, produtores de forragem, produtores de derivados lácteos), além de discentes da UFVJM, quanto ao manejo correto de um sistema de produção de leite, sempre focado no respeito aos recursos naturais e aos padrões culturais das pessoas que compõem o público alvo; - Envolvimento de discentes em ações de extensão, colaborando dessa forma, para o cumprimento da curricularização de extensão, prevista nos projetos pedagógicos dos cursos de graduação; - Recepção da comunidade externa para visitação ao Setor de Bovinocultura de Leite do Campus JK - UFVJM; - Elaboração e realização de ações voltadas para o público-alvo, por meio de seminários, cursos, dias de campo e treinamentos, dentro e fora do Campus Universitário, enfatizando sempre as questões de sustentabilidade, segurança alimentar e manutenção do homem no campo; - Produção de materiais didáticos (textos informativos, vídeos, programas de rádio e TV) com conteúdos de interesse do público alvo. Com impactos indiretos: - Condução do projeto de forma participativa entre os membros da equipe e parceiros do programa, prezando sempre pelo trabalho em grupo; - Fortalecimento do processo ensino-aprendizagem entre docentes e discentes da equipe do programa; - Promoção do reconhecimento da importância da atividade leiteira para a região; - Troca de experiências entre docentes da UFVJM, parceiros e público-alvo.

O programa será desenvolvido prioritariamente no Setor de Bovinocultura de Leite - Campus JK da UFVJM, podendo também ter atividades sob demanda em comunidades externas. O Setor conta com um rebanho de animais puros da raça Holandesa, atualmente com produção de 380 litros de leite por dia e média por animal de aproximadamente 22 litros (conforme controle leiteiro realizado no dia 21/05/2025). O sistema é intensivo e baseia-se num confinamento em galpão do tipo "compost barn" para as matrizes e confinamento em campo para os animais jovens. A alimentação é à base de silagem de milho e a ordenha mecânica dos animais ocorre duas vezes ao dia, em sala modelo "espinha de peixe" e circuito fechado, ou seja, o leite ordenhado é diretamente armazenado em tanque de resfriamento. A estrutura conta ainda com silos, bezerreiro, banheiro, vestiário, depósito e um pequeno laticínio-escola, equipado para produzir doce de leite e queijo frescal. O Setor está apto a receber estudantes de graduação para ESTÁGIOS CURRICULARES, promovendo a indissociabilidade entre ensino e extensão, bem como atuar como uma vitrine de difusão tecnológica aberta à VISITAÇÃO de produtores (de leite e derivados), de estudantes de ensino médio e de cursos técnicos. Ademais, várias outras atividades poderão ser realizadas, sendo elas: I. DIAS DE CAMPO: trata-se de um evento formativo e interativo, o qual ocorre normalmente em uma propriedade rural, podendo no caso deste programa, ocorrer dentro da universidade (Setor de Bovinocultura de Leite). É um modelo de comunicação dialógico e participativo, permitindo aos atores, a troca de experiências, bem como criar uma rede de contatos profissionais para compartilhar informações, conhecimentos e oportunidades. Segundo Lima et al. (2014), a relação agente extensionista/produtor, pode transformar-se num importante instrumento de comunicação, na medida em que permite o contato direto entre as partes envolvidas e uma melhor compreensão acerca das atividades a serem desenvolvidas em propriedades e no meio rural como um todo. Geralmente são eventos com apresentação de tecnologias e produtos, além de atividades práticas em torno de um tema central. II. CURSOS DE CAPACITAÇÃO: poderão ser realizados cursos ou treinamentos de curta duração (aproximadamente 8 horas) no próprio Setor, contando ainda com a estrutura de salas de aulas do Departamento de Zootecnia, visando o aperfeiçoamento das habilidades técnicas e conhecimentos específicos do público-alvo. Exemplos de temas a serem desenvolvidos: 1) Manejo de cria e recria de bovinos leiteiros 2) Manejo de ordenha e manutenção de equipamentos 3) Qualidade do leite 4) Fabricação de derivados lácteos 5) Manejo da cama em sistema de "compost barn" 6) Manejo de pastos e capineiras 7) Produção de silagem 8) Doma racional de novilhas e bem-estar animal 9) Ambiência e instalações para animais 10) Técnicas de gerenciamento 11) Estratégias de comunicação e mobilização social no meio rural (voltado principalmente para agentes de representação como associações, cooperativas e sindicatos, além de discentes da UFVJM, participantes ou não da equipe deste programa). III. SEMINÁRIOS: trata-se de uma discussão acerca de um tema, com o objetivo de trazer informações para o aprofundamento do conhecimento do público-alvo. Será muito importante, principalmente para a formação técnica dos discentes participantes da equipe do programa, os quais poderão participar de forma ativa na organização e condução da atividade ou, de forma passiva, recebendo as informações necessárias para a sedimentação dos conhecimentos adquiridos em seus respectivos cursos de graduação. IV. PROJETOS: quaisquer propostas de atividades extensionistas na área de abrangência deste programa, poderão ser conduzidas pela equipe, como uma forma de ampliar as metas e objetivos propostos aqui. Além disso, projetos de pesquisa com aplicação prática dos resultados, poderão ser incorporados à presente proposta, como forma de enriquecer os momentos de aproximação com a comunidade. V. POSTAGEN EM REDES SOCIAIS: segundo Grossi et al. (2014), as redes sociais conectam as pessoas, permitindo a interação entre elas, ou seja, a troca de experiências e opiniões (pontos de vistas). O Núcleo de Estudos em Pecuária Leiteira _Nepel possui um vasto portfólio de pequenos vídeos e textos informativos, sobre assuntos diversos em torno do tema central deste programa, os quais poderão ser disseminados na comunidade externa, por meio de redes sociais como o Instagram do próprio Núcleo (@nepel.ufvjm) e do Departamento de Zootecnia (@dzoufvjm). VI. PROGRAMAS DE RÁDIO: assim como as postagens em redes sociais, o rádio tem um grande alcance, podendo levar informações às mais distantes comunidades, onde nenhuma outra forma de comunicação é possível. Assim, pequenas "pílulas" informativas poderão ser disseminadas por esse importante meio de difusão de conhecimento.

AMBROSINI, L. B.; FILIPPI, E. E. Sistema agroalimentar do queijo serrano: estratégia de reprodução social dos pecuaristas familiares no sul do Brasil. In: IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LA RED SIAL. Anais... Mar Del Plata, 2008. Disponível em: http://www.ufrgs.br/pgdr/arquivos/586.pdf Acesso em 27/05/14. BRASIL. Anuário Leite 2024. Embrapa: Brasília, 2024. 137p. GROSSI, M. G. R.. et. al. A utilização das tecnologias digitais de informações e comunicação nas redes sociais pelos universitários brasileiros. Texto Digital, Florianópolis, v.10, n.1, p.4-23, 2014. GUERRA, L. D. S.; CERVATO-MANCUSO, A. M.; BEZERRA, A. C. D. Alimentação: um direito humano em disputa - focos temáticos para compreensão e atuação em segurança alimentar e nutricional. Ciência & Saúde Coletiva, v. 24, n. 9, p. 3369-3394, 2019. LEITE, B. et al. Recuperação de áreas degradadas com pastagens e/ou florestas. Editora IABS, Brasília-DF, 2017, 65 p. LIMA, F. A. X. et al. Extensão rural, comunicação e mobilização social: experiências do IPA junto aos agricultores familiares de Pernambuco. Sociedade e Desenvolvimento Rural online, v. 8, n. 2, 2014. MENEZES, F. Segurança alimentar e nutricional: panorama atual da segurança alimentar no Brasil. 1998. Disponível em http://amar-bresil.pagesperso-orange.fr/documents/secual/san.html Acesso em 24/05/14.

Essa interação será feita durante o desenvolvimento das ações propostas e será baseada na troca de ideias, opiniões, informações e experiências dos sujeitos envolvidos (universidade - comunidade - universidade), podendo ser de forma presencial ou por meio de mídias digitais. Se baseará na busca constante de esclarecimentos ao público-alvo, na tentativa de reduzir as barreiras que permeiam os sistemas produtivos, porém, respeitando as culturas e os conhecimentos populares dos envolvidos.

Ocorrerá interdisciplinaridade e interprofissionalidade já que o programa estará aberto a ações que envolvem diversas áreas do saber, tais como: melhoramento animal, nutrição animal, produção de forragem, tecnologia de alimentos, saúde pública, ambiência e instalações para animais, bem-estar animal, comercialização e gerenciamento. Também, a interdisciplinaridade e interprofissionalidade serão possíveis graças à equipe multidisciplinar, contando com profissionais e discentes de diferentes cursos da UFVJM.

As ações extensionistas envolverão não somente o público-alvo, mas também os membros discentes de suas equipes, visto que primeiro eles terão que aprender, para então ensinar. Além disso, este programa, por intermédio de suas ações e sua equipe multidisciplinar, levará informações técnicas e científicas sobre o manejo geral (nutricional, reprodutivo e sanitário) de bovinos leiteiros, além de questões relacionadas à produção de alimentos para animais, instalações e bem-estar, qualidade do leite, tecnologia de produtos lácteos, gerenciamento etc.

Todos os alunos de graduação participantes do projeto são integrantes do Nepel – Núcleo de Estudos em Pecuária Leiteira do Departamento de Zootecnia/UFVJM, cujo objetivo principal é aprimorar os conhecimentos sobre técnicas de manejo de bovinos leiteiros, discutir novas metodologias e resultados de pesquisas que visem o desenvolvimento da pecuária leiteira, bem como levar conhecimentos técnicos a pequenos produtores de leite, os quais geralmente, não recebem nenhum tipo de assistência técnica. Assim, a participação dos estudantes neste programa começa desde sua idealização e vai até a execução das ações propostas, ou seja, sistematização, elaboração e execução das atividades, além da divulgação de resultados obtidos em congressos, seminários, fóruns e demais tipos de eventos. Tudo sempre sob a orientação do coordenador da ação e dos demais docentes que compõem a equipe do programa. Além do conhecimento técnico que o estudante da UFVJM já deverá ter para o desenvolvimento de uma ação, o mesmo terá capacitação para falar em público, elaborar material didático (boletins), além de executar algumas práticas que poderão ser desenvolvidas durante a realização dos módulos de formação de produtores e demais sujeitos da cadeia leiteira. A avaliação da participação dos estudantes deverá ser constante, a partir de reflexão e discussão sobre as ações referentes ao andamento do programa e envolvimento dos participantes. Os indicadores para avaliação deverão ser criados em conjunto, embora alguns já estejam pré-estabelecidos como cumprimento de prazos, atingimento de metas etc. A sistematização e produção de materiais didáticos também serão elementos importantes para a avaliação do processo. Reuniões participativas entre equipe e parceiros auxiliarão no acompanhamento, revisão e entendimento do programa e suas ações/projetos. Haverá constantemente avaliação interna com intuito de analisar o desenvolvimento do trabalho bem como as ferramentas utilizadas.

Espera-se que as ações propostas despertem em seus participantes (equipe e público-alvo), a ideia de que a bovinocultura leiteira pode ser desenvolvida em qualquer parte do Brasil, em pequenas, médias ou grandes propriedades, tendo cada uma delas, sua importância social e cultural. Mas principalmente, mostrar a todos os elos da cadeia produtiva, que a ciência e as tecnologias existem para minimizar as adversidades como por exemplo os baixos potenciais produtivos dos rebanhos, as temperaturas elevadas, os baixos índices pluviométricos, a baixa fertilidade de solos, os altos preços de insumos e a desvalorização do produto.

A divulgação das ações poderá ser realizada por meio de mídias digitais, panfletos, cartazes, e por meio de comunicação verbal a associações de produtores, sindicatos, cooperativas etc.