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CLUBE DE LEITURA PRETITUDES LITERÁRIAS: MEMÓRIA PRETA EM LETRAS VIVAS
Sobre a Ação
202203001448
032022 - Ações
Projeto
RECOMENDADA
:
EM ANDAMENTO - Normal
29/08/2025
05/12/2025
Dados do Coordenador
janderson silva santos
Caracterização da Ação
Linguística, Letras e Artes
Educação
Cultura
Artes integradas
Municipal
Não
Não
Não
Dentro e Fora do campus
Tarde
Não
Redes Sociais
Membros
O presente projeto pretende fundar um clube de leitura e estudo de livros escritos por pessoas negras. Este projeto é justificado pelo disposto na Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, modificada pela Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008, (BRASIL, 2017), que estabelece a obrigatoriedade da temática “história e cultura afro-brasileira e indígena” no currículo oficial da rede de ensino da Educação Básica Brasileira. Tendo em vista que o público-alvo deste projeto é aberto a toda comunidade.
Clube de Leitura, Literatura. Escritoras negras.
As Universidades Federais brasileiras estruturam suas práticas acadêmicas a partir do tripé Ensino, Pesquisa e Extensão, que deve ser entendido como princípio indissociável. No entanto, na dinâmica cotidiana, marcada por exigências institucionais e pedagógicas, nem sempre os três pilares se manifestam de forma equilibrada, havendo momentos em que a centralidade recai sobre apenas um deles. É nesse tensionamento que se insere a proposta aqui apresentada. O presente trabalho propõe a criação de um produto acadêmico que, embora sustentado na pesquisa teórica, busca também dialogar com a dimensão existencial, comunitária e afetiva dos sujeitos envolvidos. Tal perspectiva considera não apenas a importância do rigor científico, mas também a necessidade de reconhecer a história de vida, a sensibilidade e a experiência dos participantes como parte constitutiva do processo investigativo. Nesse horizonte, elegemos como eixo central a investigação de conceitos relacionados às afrografias brasileiras, campo conceitual desenvolvido por Leda Maria Martins, que articula memória, ancestralidade e inscrição estética das experiências negras no Brasil. As obras A cena em sombras (1995) e Afrografias da memória (2002) oferecem subsídios fundamentais para compreender como a escrita, a oralidade e a performance operam como formas de resistência, reinscrição histórica e reexistência. Além disso, dialogamos com o pensamento de Sueli Carneiro, que ao discutir o caráter estrutural do racismo evidencia como ele organiza instituições, práticas sociais e subjetividades. Nessa perspectiva, a valorização das expressões culturais negras não se reduz a um gesto estético, mas constitui também uma ação política de enfrentamento às lógicas hegemônicas que historicamente inviabilizaram essas narrativas. Desse modo, o projeto se coloca na interseção entre teoria e vivência comunitária, assumindo a literatura e a arte como práticas de produção de conhecimento que ultrapassam a dimensão acadêmica formal. Trata-se de fomentar um espaço em que a pesquisa acadêmica se articule à memória coletiva, à ancestralidade e às expressões culturais negras, reconhecendo a potência da palavra como instrumento de transformação social. Nesse horizonte, compreendemos que a literatura negra, ao articular experiência, memória e resistência, não apenas registra, mas também projeta futuros possíveis. A esse respeito, Conceição Evaristo discorre que: A palavra poética é um modo de narração do mundo. Não só de narração, mas talvez, antes de tudo, de revelação do utópico desejo de construir um outro mundo. Pela poesia, inscreve-se, então, o que o mundo poderia ser. E, ao almejar um mundo outro, a poesia revela o seu descontentamento com uma ordem previamente estabelecida. (Evaristo, s.d.). Dessa forma, inspirados por essa perspectiva, reconhecemos a necessidade de um projeto que potencialize vozes negras e se constitua como espaço de acolhimento e fortalecimento para a comunidade negra. O Pretitudes Literárias, como foi intitulado, é aberto a toda a comunidade e fundamentado na convicção de seus idealizadores de que a leitura de obras de escritores e escritoras negros deve ir além do âmbito acadêmico. Além disso, iniciativas que promovam senso crítico e formação antirracista são essenciais, pois a valorização das raízes culturais e o fortalecimento das identidades negras constituem ações concretas de mobilização e enfrentamento do racismo estrutural. Como reitera Evaristo, "Para determinados povos, principalmente aqueles que foram colonizados, a poesia torna-se um dos lugares de criação, de manutenção e de difusão de memória, de identidade. Torna-se um lugar de transgressão ao apresentar fatos e interpretações novas a uma história que antes só trazia a marca, o selo do colonizador. É também transgressora ao optar por uma estética que destoa daquela apresentada pelo colonizador" (Evaristo, s.d.). Nessa conjuntura, o privilegiar a leitura de obras escritas por autoras e autores negros, busca não apenas ampliar o repertório dos participantes, mas também dar visibilidade às vozes e narrativas que, entrelaçando ficção e realidade, expressam experiências marcadas por ancestralidade, resistência e reexistência. Como afirma Conceição Evaristo, “viver a poesia em tais circunstâncias, de certa forma, é assegurar o direito à fala, pois pela criação poética pode-se ocupar um lugar vazio, apresentando uma contra-fala ao discurso oficial, ao discurso do poder” (Evaristo, s.d.). A literatura negra, nesse contexto, torna-se uma forma de insurgência, uma linguagem que se inscreve nos vazios deixados pela historiografia colonial e eurocêntrica. É uma palavra que ocupa e ressignifica. Nessa perspectiva, é importante destacar que, quando se trata de literatura negra, não falamos apenas de uma expressão individual, mas de uma representação coletiva. Como ressalta Grada Kilomba (2019), o sujeito negro, ao narrar a si, fala também de um outro, e, ao falar do outro, revisita sua própria trajetória. Isso ocorre porque as memórias coletivas oriundas da escravidão, da colonização e das violências históricas estruturam as subjetividades negras contemporâneas, deixando marcas profundas que atravessam gerações (Kilomba, 2019). A arte, portanto, surge como forma de sobrevivência (Seligmann-Silva, 2008). Desde o período da escravização, os negros recorreram à criação poética, musical e oral como forma de preservar suas memórias, suas culturas e suas humanidades. Essa prática resiste no tempo como marca de uma estética da memória, da dor e da reconstrução. Narrar o trauma é, portanto, uma forma de enfrentar o apagamento e de afirmar a existência. As histórias contadas por escritores(as) negros(as) ultrapassam o entretenimento: elas se ancoram em vivências reais, experiências marcadas por dor, silenciamento e resistência coletiva. São histórias individuais, mas cujos atravessamentos se tornam comuns, pois as estruturas sociais que operam o racismo permanecem, em grande medida, inalteradas. Outro ponto a se destacar é que, ao apropriar-se da escrita, o sujeito negro também se apropria do direito de nomear a si mesmo. Isso representa uma ruptura com a narrativa imposta pelo olhar do colonizador. Como apontam tanto Grada Kilomba (2019) quanto Conceição Evaristo (2009), o escrever para o sujeito negro, nesse contexto, é um gesto político de reivindicação da fala e da autoria sobre sua própria história. É ocupar um lugar historicamente interditado: o da contra-fala, o da afirmação de outras perspectivas, o da construção de novos discursos de poder e de representação. Nessa perspectiva, a literatura negra refere-se à produção literária de autores negros que, historicamente, buscou afirmar a identidade negra, denunciar a opressão e restaurar um espaço de memória e reinscrição cultural. Nesse sentido, a literatura articulou experiências de exclusão, resistência e valorização das raízes africanas, transformando a escrita em instrumento de afirmação política e estética. Além disso, entre suas características centrais destaca-se a exaltação da cultura africana e afrodescendente, a denúncia de discriminações e injustiças raciais, a incorporação de ritmos e formas orais da tradição popular e a construção de uma consciência coletiva da identidade negra. Portanto, a literatura negra, não se limita à expressão artística, mas constitui um espaço de resistência e reinscrição histórica, desvelando as diversas formas pelas quais os sujeitos negros se expressam, resistem e existem no espaço literário. É atravessado por essas perspectivas que o Pretitudes Literárias surge: como espaço em que vozes negras, de homens e de mulheres, ecoem em letras dentro e fora do sistema literário brasileiro. Um espaço para que esses autores sejam lidos, estudados, homenageados e reconhecidos, e para que suas palavras cumpram o papel para o qual foram escritas: afirmar existências, restaurar memórias e projetar futuros possíveis.
O presente trabalho, intitulado Pretitudes Literárias, nasce da necessidade de fomentar práticas de leitura e a reconhecer e valorizar a produção intelectual, cultural e estética de escritores negros, frequentemente silenciados no cânone literário tradicional. Para além da leitura, o projeto propõe, como culminância, a produção de manifestações artísticas pelos participantes, em diálogo com as obras lidas e as reflexões construídas ao longo do percurso. Essa etapa busca não apenas estimular a criação literária, mas também constituir um espaço de expressão subjetiva e política, no qual as pretitudes possam reverberar em novas narrativas e linguagens
Promover a valorização da produção literária de escritores negros por meio da leitura crítica e da criação artística, fomentando práticas pedagógicas que rompam com o silenciamento e a marginalização dessas vozes no espaço acadêmico. Objetivos específicos: ● Estimular a leitura de obras de escritores(as) negros(as); ● Proporcionar espaços de reflexão crítica sobre identidade, raça, linguagem e literatura; ● Incentivar a produção artística e literária dos participantes, em diálogo com as obras lidas; ● Construir um ambiente de escuta e troca a partir das experiências subjetivas e coletivas mobilizadas pelas leituras.
O projeto cuble de leitura: Pretitudes Literárias será desenvolvido a partir de encontros quinzenais presenciais, em espaço cedido pela instituição, articulando leitura, discussão e criação artística. A participação será aberta a estudantes e membros da comunidade acadêmica interessados, mediante inscrição prévia por meio de formulário eletrônico. OBRAS SELECIONADAS ● Olhos D’Água – Conceição Evaristo ● Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada – Carolina Maria de Jesus ● Um Defeito de Cor – Ana Maria Gonçalves ● O Avesso da Pele – Jeferson Tenório ● Torto Arado – Itamar Vieira Júnior ● A Contagem dos Sonhos – Chimamanda Ngozi Adichie ● O Olho Mais Azul (The Bluest Eye) – Toni Morrison ● O Quarto de Giovanni (Giovanni’s Room) – James Baldwin ● Eu Sei Por Que o Pássaro Canta na Gaiola (I Know Why the Caged Bird Sings) – Maya Angelou ● A Mulher de Pés Descalços – Scholastique Mukasonga ● A Filha Primitiva - Vanessa Passos ● Úrsula - Maria Firmina dos Reis ● Insubmissas Lágrimas de Mulheres - Conceição Evaristo ● Lá fora cresce um mundo - Adelaida Fernández Ochoa ● Cartas a uma negra - Françoise Ega ● Eu, Tituba: bruxa negra de Salém - Maryse Condé ● A autobiografia da minha mãe - Jamaica Kincaid ● É assim que você a perde - Junot Díaz
Cada encontro será mediado por uma dupla de integrantes da equipe organizadora e a mediação se concentrará no compartilhamento de impressões e reflexões suscitadas pela leitura, sem a exigência de aprofundamento teórico, privilegiando a escuta e a experiência de leitura. O objetivo é que seja lido e discutido uma obra literária por mês.
EVARISTO, Conceição. Literatura negra: uma poética de nossa afro-brasilidade. Scripta, Belo Horizonte, v. 13, n. 25, p. 17-31, 2º sem., 2009. EVARISTO, Conceição. Literatura negra: uma voz quilombola na literatura brasileira. Trabalho apresentado por doutoranda em Literatura Comparada, Universidade Federal Fluminense – UFF. [s.l.], [s.d.]. KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Tradução de Jess Oliveira. 1. ed. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. MARTINS, Leda Maria. A cena em sombras. São Paulo; Perspectiva, 2023. MARTINS, Leda Maria. Afrografias da memória: O Reinado do Rosário no Jatobá. São Paulo: Perspectiva, 2021. SELIGMANN-SILVA, Márcio. Narrar o trauma – a questão dos testemunhos de catástrofes históricas. Psicologia Clínica, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 65-82, 2008.
A Interação dialógica da comunidade acadêmica com a sociedade ocorrerá por meio da interação dos conhecimentos adquiridos na vida acdêmica, expandidos na etapa formativa do projeto, com os desafios do conhecimento que a comunidade possue dos textos literários. O intuito é que essa interação leve ao surgimento de escritores literários de autoria individual e coletiva a aprtir do clube de leitura proposto.
A literatura é espaço de interdisciplinaridade. Ela aglutina saberes de diferentes áreas de conhecimento: história, antropologia, linguística, psicanálise, política etc. A interdisciplinaridade, assim, é pressuposta nesse projeto que também mescla instâncias diferentes, mas articuladas, de atuação profissional: a pesquisa e a docência serão eixos trabalhados por seus membros.
Os três pilares apresentam-se no projeto. A pesquisa está nas investigações que intentam caracterizar a literatura, na leitura dos textos propostos. Ela se une ao ensino nas propostas de ações que devem ser realizadas que levam o saber adquirido na Universidade para além de seus muros.
As ações propostas no projeto terão papel relevante nas práticas docentes dos graduandos que dele participam. Um exemplo: essas ações evidenciarão a eles que a prática docente não deve ser realizada sem concepções a respeito do objeto envolvido nessa prática.
Um dos intuitos do projeto é levar o conhecimento do texto literário a crianças e jovens, permitindo a eles usufruir dos prazeres dessa realização. Outro intuito do projeto é evidenciar a seus membros que a prática docente não deve ser realizada sem concepções a respeito do objeto envolvido nessa prática.
Será realizada por meios das redes sociais, planfletagem e formulário de inscrição.
Público-alvo
O público será formado por estudantes da UFVJM e membros da comunidade diamantina em geral.
Municípios Atendidos
Diamantina - MG
Parcerias
Nenhuma parceria inserida.
Cronograma de Atividades
Carga Horária Total: 230 h
- Tarde;
O projeto Pretitudes Literárias será desenvolvido a partir de encontros quinzenais presenciais, em espaço cedido pela instituição, articulando leitura, discussão e criação artística. OBRAS SELECIONADAS ● Olhos D’Água – Conceição Evaristo ● Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada – Carolina Maria de Jesus ● Um Defeito de Cor – Ana Maria Gonçalves ● O Avesso da Pele – Jeferson Tenório ● Torto Arado – Itamar Vieira Júnior ● A Contagem dos Sonhos – Chimamanda Ngozi Adichie ● O Olho Mais Azul (The Bluest Eye) – Toni Morrison ● O Quarto de Giovanni (Giovanni’s Room) – James Baldwin ● Eu Sei Por Que o Pássaro Canta na Gaiola (I Know Why the Caged Bird Sings) – Maya Angelou ● A Mulher de Pés Descalços – Scholastique Mukasonga ● A Filha Primitiva - Vanessa Passos ● Úrsula - Maria Firmina dos Reis ● Insubmissas Lágrimas de Mulheres - Conceição Evaristo ● Lá fora cresce um mundo - Adelaida Fernández Ochoa ● Cartas a uma negra - Françoise Ega ● Eu, Tituba: bruxa negra de Salém - Maryse Condé ● A autobiografia da minha mãe - Jamaica Kincaid ● É assim que você a perde - Junot Díaz
- Noite;
Reuniões quizenais para organização e seleção dos texto literários para leitura e debate.
- Noite;
Momentos de avaliação das atividades desenvolvidas e reorganização, caso necessário, do cronograma e das atividades propostas.
- Manhã;
- Tarde;
Produção e avaliação final do relatório do projeto de extensão.