As Estratégias de Saúde da Família (ESF) são espaços singulares de aprendizado para a formação médica e para a execução de ações que envolvem a Educação em saúde (ES), por trabalharem conceitos de promoção da saúde e prevenção de doenças. O objetivo dessa proposta é realizar atividades de ES para população adscrita a ESF da Matinha. A execução dessas atividades busca estimular a prática de hábitos de vida saudáveis, além de contribuir para formação profissional dos acadêmicos de medicina.

Educação em Saúde. Estratégia de saúde da Família. Medicina Comunitária

As práticas de educação em saúde no Brasil surgem em meados do século XX, em um contexto histórico de combate as epidemias com o desenvolvimento das campanhas sanitárias que visavam combater doenças que geravam problemas às exportações. Ao longo dos anos essa prática adquiriu no país diferentes características acompanhando a trajetória econômica, política e social do período histórico (Germani et al, 2018). Atualmente, as noções de educação em saúde compreendem o contexto da integralidade, onde o cuidado para com as pessoas, grupos e coletividade tem o usuário como sujeito histórico, social e político, articulado ao seu contexto familiar, ao meio ambiente e a sociedade na qual se insere. Neste cenário as ações de educação em saúde são percebidas como estratégia integradora de um saber coletivo que traduz no indivíduo sua autonomia e emancipação, por meio de uma educação problematizadora. Para Paulo Freire, os educandos para além de receptores de informações, fazem parte de um estágio crítico da educação deles. Por meio da educação problematizadora de Paulo Freire a população torna-se consciente do papel que exerce na sociedade e busca, por meio de ferramentas próprias, autonomia frente à resolução dos problemas que enfrenta (Germani et al, 2018; Machado et al. 2007). Além de intimamente relacionada ao conceito de integralidade, a educação em saúde está diretamente relacionada a promoção da saúde e abrange a participação de toda a população em sua vida cotidiana, e não apenas àquelas sobre o risco de adoecer/adoecidas, partindo de uma compreensão da saúde como um estado positivo e dinâmico de busca de bem-estar, que integra os aspectos físicos e mentais (ausência de doença), ambiental, pessoal e social (Machado et al. 2007). Enquanto estratégia de promoção da saúde, a Educação em saúde propõe a realização da conscientização individual e coletiva de responsabilidades e de direitos á saúde que atendam aos princípios do Sistema único de saúde (SUS), elegendo, a partir dessa perspectiva, estratégias didáticas que conduzam a “uma transformação dos indivíduos socialmente inseridos no mundo, ampliando sua capacidade de compreensão da complexidade dos determinantes de ser saudável” (Machado et al. 2007). Esses espaços fundamentados em saberes técnico científicos e populares, culturalmente significativos torna-se capazes de promover mudanças individuais, na família e comunidade, contribuindo para uma transformação social e para a implementações das políticas públicas (Machado et al. 2007). Por envolver o encontro entre os sujeitos, a educação em saúde não requer um único espaço para sua realização, e pode acontecer em todos os lugares. Na Atenção primária a saúde, as Estratégias de Saúde da Família (ESF) representam um espaço singular para aprofundar as ações que envolvem essa prática por trabalhar cotidianamente as relações de afeto e de cuidados necessárias à população, além de estar fortemente atrelada ao conceito de promoção da saúde, a aprendizagem sobre as doenças e como preveni-las, bem como seus efeitos sobre a saúde e ao empoderamento da população em relação a esses aspectos (Palácio et al. 2020). Muitas são as mudanças que têm marcado a saúde pública brasileira nos últimos anos, além da evolução das práticas de educação em saúde é de valia ressaltar a evolução das práticas de formação médica. A superação do antigo paradigma biologicista, intervencionista e tecnocrata de medicina em curso visa a construção de melhores condições de vida e saúde para a maioria da população, em que estejam garantidos os princípios da universalidade, da equidade e da integralidade e que prezem pela promoção, prevenção e recuperação de saúde entendidas na forma interdisciplinar.

Diante do exposto, e considerando a Educação em saúde da comunidade como uma forma de capacitá-la para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde justifica-se a execução esse projeto para que a população tenha acesso a informações necessárias para que possa se prevenir, cuidar da família, do ambiente, da sua comunidade e alcançar a saúde e a qualidade de vida. Além disso, o desempenho dessas atividades permitirá valer-se desse espaço como momento de aprendizado na trajetória de formação médica.

O objetivo geral desta atividade é realizar atividades de Educação em saúde para/com a população adscrita a Estratégia de saúde da Família da Matinha, abordando os principais problemas de verificados durante as Práticas de Integração Ensino, Serviço e Comunidade -PIESC II. Os objetivos específicos, são: - Incentivar o autocuidado e o conhecimento de práticas relacionadas ao aleitamento materno, entre gestantes, considerando as características sociais e culturais nas quais a gestantes estão inseridas. - Incentivar e esclarecer dúvidas relacionadas a adoção de hábitos alimentares saudáveis entre pacientes hipertensos e diabéticos que relataram dificuldade e/ou desconhecimento sobre práticas saudáveis de alimentação. - Informar e Conscientizar a população quanto aos serviços e ações, ofertados pelas equipes de Saúde da Família, para que o usuário saiba como funcionam os serviços da atenção primária.

• Motivar mudanças individuais, na família e comunidade em busca de hábitos de vida saudável. • Incentivar o autocuidado e a doação de hábitos de vida saudáveis • Informar e Conscientizar a população quanto aos serviços e ações, ofertados pelas equipes de Saúde da Família.

Em um primeiro momento os alunos foram estimulados a conversar com profissionais de saúde da Estratégia de Saúde da Família com o intuito de mapear as principais demandas percebidas por esses profissionais. A conversa com moradores da localidade da Matinha também foi estimulada e ocorreram durante as vistas domiciliares realizadas nas aulas práticas do PIESC II. Em um segundo momento as principais informações coletadas pelos alunos foram discutidas com a professora responsável pela a disciplina, que pactuou com os alunos e com a Enfermeira responsável pela unidade quais seriam os temas abordados durante as atividades de Educação em saúde. Nesse momento foram definidos os seguintes temas/objetivos das atividades: • Incentivar o autocuidado e o conhecimento de práticas relacionadas ao aleitamento materno, entre gestantes, considerando as características sociais e culturais nas quais a gestantes estão inseridas. • Incentivar e esclarecer dúvidas relacionadas a adoção de hábitos alimentares saudáveis entre pacientes hipertensos e diabéticos que relataram dificuldade e/ou desconhecimento sobre práticas saudáveis de alimentação. • Informar e Conscientizar a população quanto aos serviços e ações, ofertados pelas equipes de Saúde da Família, para que o usuário saiba como funcionam os serviços da atenção primária. Foi definido o número de aproximadamente de 15 participantes, em virtude do espaço físico existente na unidade para realização dessa atividade, dentro dos padrões de segurança de distanciamento de pessoas em ambientes abertos. A partir da expertise dos Agentes Comunitários de Saúde e da Enfermeira da unidade, foram selecionados os participantes mais vulneráveis considerando características sociais e econômicas. Além disso, foram convidas 5 pessoas, além das 15, considerando a realidade da unidade, onde a adesão dessas atividades não é 100%. As atividades de educação em saúde serão divulgadas por meio de convites confeccionados pelos alunos e distribuídos pelos agentes Comunitários de Saúde ao público alvo das ações. As mesmas serão planejadas pelos acadêmicos e executadas nos dias de 23, 24 e 26 de novembro de 2021. Os 30 alunos foram divididos em grupo, sendo cada grupo responsável por uma temática. O conteúdo das atividades de educação em saúde é abordado fazendo uso de técnicas dialogadas e de metodologias ativas, priorizando a educação problematizadora de Paulo Freire. Serão utilizados recursos como: rodas de conversa, dinâmicas, banners e vídeos educativos. Todas as atividades serão supervisionadas pela professora responsável pela disciplina PIESC II. A enfermeira da ESF da Matinha participará das atividades como mediadora das ações. Ressalta-se que as atividades de identificação das principais necessidades e organização da atividade foram executadas dentro do conteúdo programático da disciplina, porém, a execução das atividades, com duração média de duas horas, será realizada de forma extra e não representa duplicidade de carga horária com as horas de ensino programadas para o período letivo.

Palácio, MAV; et al. Em tempos de pandemia pela COVID-19: o desafio para a educação em saúde. Vigil. sanit. Debate.2020. Disponível em: https://visaemdebate.incqs.fiocruz.br/index.php/visaemdebate/article/view/1530/1147 Germani, ARM; et al. Roda de conversa sobre as práticas de educação em saúde com um grupo de acadêmicos do curso de medicina. Rev. Docência Ens. Sup., Belo Horizonte, v. 8, n. 1, p. 166-178, jan./jun. 2018. Disponível em: periodicos.ufmg.br/index.php/rdes/article/view/2393/1451 Machado, MFAS; et al. Integralidade, formação de saúde, educação em saúde e as propostas do SUS: uma revisão conceitual. Ciência & Saúde Coletiva [online]. v. 12, n. 2. 2007.Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1413-81232007000200009>. Epub 09 Maio 2007. ISSN 1678-4561. https://doi.org/10.1590/S1413-81232007000200009

A Interação dialógica da comunidade acadêmica com a sociedade está presente nas práticas de educação em saúde, já que a mesma propicia uma relação transformadora entre a sociedade e a comunidade acadêmica por meio dos conhecimentos que a Universidade ( professores e alunos) pode ofertar valorizando os saberes, o conhecimento prévio da população e não somente o conhecimento científico. Desde o início da atividade, ainda na etapa de levantamento das demandas, estabelece-se o diálogo, ora entre os acadêmicos e a população, ora entre acadêmicos e profissionais de saúde da unidade básica de saúde, na busca pelas principais demandas de saúde do território. A partir desse diálogo, toda a atividade de educação em saúde é planejada para propiciar um ambiente de troca de saberes, provocando e estimulando o fazer pedagógico científico no sentido de responder às necessidades locais. Durante a execução da atividade os saberes da população são valorizados e a comunidade deixa de ser passiva no recebimento das informações/conhecimentos transmitidos pela universidade e passa a ser participativa, crítica e construtora dos próprios conhecimentos sobre sua saúde. Por fim, durante a etapa de avaliação, as percepções dos participantes são apreciadas e contribuem para formação dos alunos enquanto futuros profissionais da medicina.

As práticas de educação em saúde favorecem o trabalho em equipe de forma multiprofissional e interdisciplinar, permitem a atuação dos acadêmicos de medicina de forma integrada e colaborativa com os profissionais da unidade de saúde (agentes comunitários de saúde, médicos, enfermeiros, entre outros) em atividades que valorizam a prevenção e promoção da saúde e que buscam a aumentar os conhecimentos e a autonomia nos cuidados , individual e coletivamente, além da integração com os gestores de saúde que apoiam esses profissionais.

Advogando pela valorização do conhecimento prático, situado na (e produzido pela) experiência comunitária adquirida por das aulas Práticas de Integração Ensino, Serviço e Comunidade II, de uma formação que se preocupa com os problemas da sociedade contemporânea e diante do papel social da universidade as atividades de Educação em saúde ora propostas condizem com a compreensão da indissociabilidade entre ensino-pesquisa e extensão. A pesquisa encontra-se presente no início do planejamento dessas atividades onde busca-se o saber a realidade e demandas da localidade de atuação, por meios das conversar com profissionais da unidade de saúde e durante as vistas domiciliares, o ensino está presente na concepção/organização da educação em saúde e por fim, a extensão caracterizada pelo caráter extramuros das ações, assim como pela prestação de “serviços” a comunidade/unidade de saúde.

As atividades de Educação em saúde permitem o desenvolvimento da autonomia, melhoram a capacidade de comunicação dos acadêmicos, além de estimular o conhecimento da realidade profissional, aumentam a proatividade e tomada de decisões do futuro médico. Além disso, constituem um momento de aprendizagem dupla, tanto para os acadêmicos quanto para a população, visto que a execução destas atividades demanda a familiarização com diversas temáticas e necessidade da aprendizagem baseada nos problemas reais.

As atividades de educação em saúde buscam desenvolver a reflexão e a consciência crítica das pessoas sobre as causas de seus problemas de saúde, representando um processo de prover os indivíduos de conhecimentos tornando-os protagonistas de sua própria história. Essas atividades motivam os indivíduos a analisarem criticamente seus hábitos de vida, a se organizarem e a transformarem seu meio social em busca de condições de vida mais saudáveis.

O convite para participação das atividades será realizados pelos Agentes Comunitários de Saúde. Após executas, as atividades serão divulgadas por meio de grupos de whatsapp vinculados a Faculdade de medicina do Mucuri e também na Estratégia de Saúde da Família, por meio de banners afixados no local.

A execução das atividades, com duração média de duas horas, será realizada de forma extra e não representa duplicidade de carga horária com as horas de ensino programadas para o período letivo.