Visitante
Capoeira Angola e Tiririca: resgatando a ancestralidade, transformando o futuro
Sobre a Ação
202203000128
032022 - Ações
Projeto
RECOMENDADA
:
CONCLUÍDA - ARQUIVADA
08/07/2022
15/08/2023
Dados do Coordenador
janaína elisa patti de faria
Caracterização da Ação
Outros
Cultura
Direitos Humanos e Justiça
Artes integradas
Local
Não
Não
Não
Dentro do campus
Tarde
Não
Membros
O projeto visa transmitir os conhecimentos e vivenciar em grupo as práticas socioculturais e históricas relacionadas à Capoeira Angola e Tiririca, ambas de matriz afrobrasileira. As atividades ocorrem semanalmente no ginásio poliesportivo do campus do Mucuri-UFVJM e são abertas à participação de toda comunidade acadêmica e da comunidade externa, especialmente os moradores do entorno do campus, promovendo maior interação dialógica universidade-sociedade.
capoeira angola; tiririca; cultura afrobrasileira; formação humana; saúde física e mental
A capoeira é uma expressão artística e cultural brasileira com raízes no continente africano. Escravizados de diversas regiões da África trouxeram consigo o arcabouço cultural, que no Brasil acabou desenvolvendo-se na prática da capoeira como ela é entendida hoje. A prática da capoeira tem como elementos mais visíveis a música, a dança, o jogo e a luta. No entanto, outros elementos tão importantes como estes fazem parte do universo dessa prática, como por exemplo: o respeito, não só com relação aos praticantes quanto também aos antepassados que desenvolveram a arte; a valorização do coletivo em relação ao individual, uma vez que os participantes passam a se identificar com um grupo e trabalhar para o desenvolvimento desse coletivo; a valorização da história, através de músicas que são cantadas desde tempos antigos e músicas mais recentes, mas fundamentadas em estudos dos tempos da escravidão e pós-escravidão no Brasil. No entanto, o resgate cultural não se dá simplesmente através da música, mas toda a prática da capoeira está permeada pela história afro-brasileira como, por exemplo: a disposição dos participantes em roda; a reverência aos instrumentos; o respeito aos ancestrais e à história, que muitas vezes é transmitida de forma oral, não só cantada como também contada; etc. Todos esses elementos estão sempre presentes no cotidiano dos capoeiristas. A transmissão dos fundamentos socioculturais e históricos tem em geral como referência o Mestre de Capoeira, reconhecido pela comunidade de capoeiristas como detentor dos saberes e práticas que envolvem a capoeira. É geralmente um capoeirista mais velho com vasta experiência na arte e na vida. Nesse sentido, a figura do Mestre de Capoeira difere assim da figura do Mestre Acadêmico. Segundo Eusébio Lôbo da Silva (2008) - Mestre de capoeira e Professor Livre Docente do curso de dança da Unicamp – a capoeira nasce da hibridação de vários processos miméticos, que vão além de uma “cópia servil” da realidade. Essa característica presente na capoeira reside na ideia de que, de vários repertórios de “saberes corporais”, produzidos pelo processo de conhecimento da natureza, trazidos pelas diversas etnias africanas, conjugados aos da cultura portuguesa e indígena, se gera uma nova linguagem, caracterizada por ser híbrida. Nesse sentido, a capoeira é um fenômeno que se desenvolve em território brasileiro, e provavelmente, a primeira forma genuína de dança-luta-jogo brasileira. Como luta simulada, ela era originalmente praticada para divertimento, reconhecimento, aquisição de força para enfrentar o cotidiano. Dançava-se, também, para preparar para a luta, lançando mão apenas do potencial do corpo (SILVA, 2008, p. 65). A origem da Capoeira remonta os tempos da escravidão no Brasil e a forma como era praticada pelos escravizados ainda é tema de muitos estudos e controvérsias. No início do século XX, tem-se o processo de institucionalização da capoeira, em suas duas vertentes principais: A Capoeira Regional e a Capoeira Angola. A Capoeira Regional foi elaborada por Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba, na primeira metade do século XX. Mestre Bimba acreditava que a capoeira vinha se folclorizando muito; dessa forma, ele incorpora golpes de outras lutas e procura dar um caráter mais marcial à capoeira (IPHAN, 2007). A Capoeira Angola por sua vez tem como seu maior representante Vicente Ferreira Pastinha, o Mestre Pastinha, que busca resgatar os elementos tradicionais da capoeira, ao passo que incorpora aspectos da organização da capoeira em “escola” ou “academia”, forjando os fundamentos próprios da Capoeira Angola. Quando, em 1941, Mestre Pastinha funda o Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA), ele codifica aquela que ele mesmo se refere como “capoeira mãe”. E referenciado pela ancestralidade africana ajuda de modo marcante a definir os fundamentos desta prática de capoeira até os dias de hoje. Na rotina diária do Centro, Mestre Pastinha enfatiza o lado lúdico e artístico da capoeira, destacando os treinos de cantos e toques de instrumentos; destaca a importância dos toques e cantos na condução dos ritmos do jogo. Conforme o Dossiê de Salvaguarda da Capoeira elaborado pelo IPHAN: "[Mestre Pastinha] Enfatiza a necessidade de desmistificar a capoeira como a arte dos valentões, mostrando que aquela não deveria ser exercida pela valentia, mas pela busca da integridade física e espiritual. Se necessário, a capoeira seria uma excelente arte de defesa e ataque, mas seus fins principais não podiam ser estes. Destaca a necessidade dos valores éticos e políticos da capoeira, como a lealdade aos companheiros e à capoeira, a obediência às regras principais do jogo, e a construção coletiva e social destas" (IPHAN, 2007, p. 63-64). Segundo o que os proponentes desse projeto puderam encontrar, há atualmente em Teófilo Otoni quatro grupos de Capoeira que desenvolvem trabalho na cidade, sendo eles: Grupo Ginga, Grupo Brasil das Gerais, Grupo Capoeira Gerais e Grupo de Capoeira Angola Crispim Menino Levado. Os três primeiros grupos desenvolvem o jogo da Capoeira Regional. Apenas o Grupo de Capoeira Angola Crispim Menino Levado, com trabalho na cidade desde 2013 (com períodos de interrupções dos trabalhos), tem como objetivo principal ensinar os fundamentos da Capoeira Angola a seus alunos. O Centro Cultural Crispim Menino Levado, localizado atualmente na Estação Cultura, em Campinas-SP, é a sede do grupo fundado e coordenado pelo Mestre Marquinhos Simplício. O grupo foi criado em 1978 e desde então vem se dedicando ao ensino da Capoeira Angola, da cultura popular de tradição oral nos mais diferentes espaços de formação, e, também, em garantir os direitos das crianças, dos adolescentes e da comunidade negra. Mestre Marquinhos é reconhecido como Mestre Griô pela Ação Griô Nacional, que é uma rede que integra 130 pontos de cultura e 600 instituições de ensino com a missão de instituir uma política nacional de transmissão dos saberes e fazeres de tradição oral, em diálogo com a educação formal, para promover o fortalecimento da identidade e ancestralidade do povo brasileiro através da Pedagogia Griô. Mestre Marquinhos Simplício foi um dos fundadores do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Campinas (CEDECAMP). Por dois anos, foi membro do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescentes de Campinas (CMDCA). Na Conferência Municipal e Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, foi eleito delegado, o que o levou à Brasília como representante de Campinas. Entre outras atividades, desenvolve no Centro Promocional Tia Ileide (CPTI) um trabalho de Capoeira Angola, Cultura Popular, Percussão e Confecção de Bonecos com crianças e adolescentes (AMPUDIA, 2008). É atualmente membro do Conselho Municipal de Cultura de Campinas - Câmara Setorial de Culturas Populares. Em 20 de novembro de 2021, foi agraciado com a honraria 'Diploma de Mérito Zumbi dos Palmares' pela Câmara Municipal de Campinas. Na última década, tem se tornado referência nacional no resgate da prática da Tiririca, também conhecida como a capoeira paulista, a qual mistura elementos tanto do samba como das pernadas. Insere-se num esforço mais amplo do movimento negro de São Paulo de resgatar e fortalecer as expressões paulistas da cultura afrobrasileira, como o samba rural paulista. Integrantes do Grupo de Capoeira Angola Crispim Menino Levado há mais de 10 anos, o amplo histórico de vivências dos proponentes deste projeto representa uma bagagem cultural a ser aproveitada para a disseminação dos fundamentos da capoeira Angola e Tiririca junto à comunidade interna e externa à UFVJM-campus Mucuri, contribuindo, portanto, para manter viva essa manifestação cultural afrobrasileira, formalmente reconhecida como patrimônio histórico imaterial do país. Como ilustração desta bagagem, destacam-se as seguintes atividades: - O proponente deste projeto desenvolveu do início de 2011 ao final de 2012 trabalho com crianças especiais na Associação Pestalozzi de Campinas, em que aulas de Capoeira Angola eram ministradas a alunos com diferentes necessidades físicas e psicológicas. O objetivo das aulas era, a partir da prática da Capoeira Angola, possibilitar o desenvolvimento das capacidades motoras e cognitivas dos alunos de forma lúdica. - Os proponentes participaram da bateria e coro na produção do último CD do Grupo de Capoeira Angola Crispim Menino, intitulado "Encanto e Magia" (2011), que contém apenas músicas autorais do Mestre Marquinhos Simplício. - Articularam, em parceria com o Educarte, a visita do Mestre Marquinhos Simplício a Teófilo Otoni em julho de 2013 para participar do evento de extensão intitulado 'Vivência de Pedagogia Griô: Batucada no Vale', em que o Mestre ministrou uma oficinas de ritmos afrobrasileiros e realizou uma intervenção cultural de samba de roda durante o intervalo das aulas do período noturno no campus Mucuri da UFVJM. A visita do Mestre Marquinhos também proporcionou o encontro com Mestres de Capoeira Regional da cidade, ampliando o contato e as trocas de saberes e experiências da capoeira em sua diversidade regional brasileira. - Mobilizaram em 2015 a Oficina Cultural de Capoeira Angola, Samba de Roda e Tiririca (Capoeira Paulista), ministrada pelo Mestre Marquinhos durante o IV SINTEGRA- UFVJM, em Diamantina, ocasião na qual houve uma interação com os capoeiristas da cidade e da universidade. - Entre 2018 e 2019, participaram de encontros e oficinas de capoeira angola e samba de roda em Londres, vivenciando de perto a situação contemporânea da internacionalização desta manifestação cultural afrobrasileira. - Ministraram, a convite de um capoeirista originário de Timóteo-MG, uma oficina de capoeira angola e tiririca em um bairro periférico de Paris em 2018. - Participaram da apresentação de Tiririca junto ao Mestre Marquinhos e demais membros do Grupo, na ocasião da inauguração da estátua do sambista Geraldo Filme, na Barra Funda em São Paulo, em abril de 2022 - evento organizado pela prefeitura da cidade como uma resposta a demandas do movimento negro por reconhecimento a personalidades negras de referência da região. Por fim, ressalta-se que entre 2015 e 2016, foi desenvolvido o Projeto Procarte-UFVJM de Capoeira Angola com crianças e Adolescentes junto à ONG Cantinho da Solidariedade, localizada em bairro periférico e próximo ao campus Mucuri. Nesse sentido, este projeto representa uma retomada do trabalho com a capoeira angola em Teófilo Otoni, desta vez a ser desenvolvido no interior do campus Mucuri da UFVJM, buscando aprofundar a interação universidade-sociedade.
Em 2008, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e o Ministério da Cultura aprovaram o registro da capoeira como patrimônio cultural imaterial brasileiro, o que possibilita a elaboração de projetos e políticas públicas que envolvam ações necessárias à preservação e continuidade da manifestação. No entanto, o caráter imanentemente imaterial da capoeira requer para sua preservação e continuidade, a sua prática entre os capoeiristas e o ensinamento constante a novas gerações: "A capoeira vem se mantendo até os nossos dias devido, sobretudo, à transmissão dos ensinamentos do mestre para o aluno, de geração para geração, por meio de suas práticas e rituais. Nestas transmissões, destaca-se a importância do aprendizado da capoeira, já que é através de práticas de iniciação e desenvolvimento que esta cultura tem se mantido viva" (IPHAN, 2007, p. 51). Portanto, não há outra forma de preservar e fomentar o desenvolvimento desse patrimônio cultural imaterial brasileiro que é a capoeira senão pela sua prática e transmissão de saberes inter-geracional através de seus próprios fundamentos, como a convivência em grupo e fortalecimento da coletividade, respeito aos conhecimentos ancestrais, exercício da escuta ativa para apreensão de conhecimentos pela oralidade (Pedagogia Griô), treinos dos movimentos corporais, observação atenta do papel de cada instrumento musical na roda de capoeira, bem como de seus rituais. É nesse sentido que este Projeto, ao propor sua prática da capoeira angola e tiririca no campus do Mucuri, busca contribuir para preservação deste patrimônio cultural brasileiro. Cumpre ressaltar que não há outros grupos que praticam a vertente da capoeira Angola, nem tampouco a tiririca, em Teófilo Otoni. Ademais, a prática regular da capoeira angola contribui de sobremaneira para o cuidado com a saúde física e mental de seus praticantes. O oferecimento dessa atividade no campus Mucuri, além de promover a interação entre discentes-docentes-técnicos-comunidade externa, também viabiliza a promoção da saúde do servidor público federal, em consonância com a Resolução Consu nº09, de 26 de abril de 2019, que autoriza os servidores da UFVJM "a participar, dentro da carga horária semanal, de programas e ações voltados ao cuidado integral em saúde e prática corporal e atividade física regularmente instituídos no âmbito desta IFE" (Art. 1º). Além disso, o projeto contribui com a utilização regular do novo ginásio poliesportivo do campus do Mucuri, aproveitando melhor o potencial desse espaço de convivência, especialmente no momento de retorno às atividades presenciais na UFVJM após longo período de reclusão e isolamento social em decorrência da pandemia de covid-19.
O objetivo geral deste Projeto é promover, através da prática da Capoeira Angola, a disseminação de conhecimentos e expressões culturais populares e tradicionais, utilizando essa manifestação cultural-artística como forma de fortalecer a integração entre a universidade e a comunidade externa de seu entorno, garantindo maior envolvimento dos participantes do Projeto na busca do desenvolvimento psicossocial e afetivo e unindo novos atores, práticas e conhecimento na vivência entre membros da universidade-comunidade externa. Para que o objetivo geral deste projeto seja alcançado, o mesmo procurará ainda atender aos seguintes objetivos específicos: a) Desenvolver atividades regulares de capoeira angola e tiririca no ginásio poliesportivo do campus Mucuri-UFVJM; b) Estimular a prática de exercício físico capaz de desenvolver as potencialidades de forma lúdica e integrada às expressões histórico-culturais brasileiras; c) Desenvolver as habilidades artísticas vinculadas à Capoeira Angola entre os participantes, como a música, canto, dança, luta, jogo e confecção de instrumentos musicais; d) Aprofundar o conhecimento dos praticantes acerca da história brasileira e regional, através das reflexões sobre a escravidão e a Capoeira Angola e Tiririca; e) Instigar os participantes do Projeto a buscarem conhecimentos e desenvolver-se de forma mais independente; f) Realização de apresentações eventuais (a convite) de capoeira angola; e) Possibilitar ao menos um encontro entre os praticantes com o Mestre Marquinhos Simplício.
As metas a serem alcançadas com o desenvolvimento deste projeto são: - Promoção do envolvimento da comunidade do entorno do campus Mucuri na vivência cotidiana da universidade através da prática coletiva da capoeira; - Estímulo à utilização regular do ginásio poliesportivo do campus do Mucuri, contribuindo para legitimar os investimentos públicos realizados com atividade gratuita e aberta à comunidade interna e externa à UFVJM; - Divulgação das atividades de Ensino-Pesquisa-Extensão desenvolvidas pela UFVJM através da convivência entre a comunidade do entorno, estudantes, professores e técnicos durante a prática da capoeira; - Disseminação dos conhecimentos de matriz afrobrasileira relativos à capoeira e tiririca, contribuindo para a valorização deste patrimônio cultural imaterial; - Acolhimento da maior diversidade étnica, econômica, de gênero, idade e escolaridade na prática da capoeira; - Promoção da valorização de conhecimentos populares tradicionais e seu diálogo com o conhecimento acadêmico-formal.
AULAS (inscrições, periodicidade e duração): As aulas são realizadas semanalmente no ginásio poliesportivo do campus do Mucuri-UFVJM e terão duração aproximada de 2h. O presente projeto tem como público-alvo tanto membros da comunidade externa, como da comunidade interna da UFVJM sejam eles discentes, professores e/ou técnicos administrativos. As inscrições para participação são realizadas em fluxo contínuo, até que se atinja aproximadamente 15 participantes ativos, sendo garantida aos membros da comunidade externa metade das vagas para participação no projeto. Durante as aulas, serão trabalhados diversos elementos da capoeira angola e tiririca, como treino dos movimentos corporais, a musicalidade, fundamentos ancestrais, históricos e socioculturais. A ordem e frequência da prática desses elementos em aula não é pré-estabelecida e rígida, mas dependerá da percepção dos coordenadores a respeito das habilidades e apreensão dessa gama de conteúdos pelo grupo, privilegiando, quando possível, a transmissão desses conhecimentos de forma integrada e não fragmentada. MOVIMENTOS CORPORAIS: As atividades físicas são iniciadas com aquecimento articular e muscular, seguidas de jogos e brincadeiras com forte característica histórica, promovendo maior ativação respiratória e cardiovascular e reflexão sobre temas relacionados a aspectos da cultura afro-brasileira. Após o aquecimento, dar-se-á início ao treinamento de habilidades específicas (LIMA E COSTA, 1993). Nesta etapa, serão ensinados movimentos necessários ao desenvolvimento do jogo da capoeira angola ou tiririca. Os movimentos serão trabalhados de forma que os participantes não apenas copiem o movimento que os coordenadores ensinaram, mas que possam expressar-se de forma única, deixando fluir a criatividade, conversando corporalmente consigo mesmos e com seus companheiros. MUSICALIZAÇÃO: Serão ensinados os diferentes toques que conduzem os diferentes estilos de jogos de capoeira (Angola, São Bento Grande de Angola, Idalina, Iúna, Cavalaria, etc.). Os participantes aprenderão os toques nos diferentes instrumentos que compõem a bateria da capoeira angola, a saber: berimbau, pandeiro, reco-reco, agogô e atabaque. Os proponentes deste projeto já possuem os instrumentos que compõem a bateria da capoeira angola e pretendem usá-los para ensinar os toques. Os participantes também poderão aprender a tocar caixa-de-fósforo, lata-de-engraxate, prato e faca - instrumentos que eram utilizados pelos capoeiristas e sambistas (tiririca) quando não tinham os instrumentos que tradicionalmente compõem a bateria da capoeira ou do samba – e serão instigados a “criar” outros instrumentos. Os participantes também serão estimulados a comporem músicas próprias vinculando a temática trabalhada e a realidade em que vivem, desenvolvendo inclusive habilidades de improvisação, recurso bastante explorado em manifestações artísticas afro-brasileiras. RODA DE CONVERSA: O objetivo dessa atividade é que os participantes reflitam sobre a prática da capoeira e aprofundem conhecimentos voltados à história não apenas da capoeira, mas também de outras expressões culturais brasileiras. A Roda de Conversa poderá ser precedida pela leitura de um texto, de letras de músicas de capoeira, com a apresentação de um documentário, contação de uma história ou outra atividade que desencadeie uma reflexão sobre um determinado tema. Em seguida, os participantes, sentados em roda, terão espaço para expressar opiniões, expor dúvidas e discutirem sobre o tema apresentado. FAIXA ETÁRIA: É importante ressaltar que em todas as atividades serão respeitadas as diferentes faixas etárias. Ainda que possa haver diferenças de idade relativamente grandes, os proponentes do presente projeto acreditam ser essa diferença uma vantagem, pois na prática da Capoeira Angola faz-se necessário que crianças, adolescentes, adultos e idosos se façam crianças e com elas interajam. Esse tipo de interação proporcionada pela Capoeira Angola é fundamental, na visão do Grupo de Capoeira Angola Crispim Menino Levado, para o desenvolvimento humano em qualquer faixa etária. Ressalta-se que crianças com 6 anos ou menos devem praticar em conjunto com o/a responsável. As atividades terão um caráter mais lúdico, no sentido expresso por Lima e Costa (1993) no livro Capoeira: do engenho à universidade: "[...] o lúdico é tão importante quanto o sério, o divertimento é tão importante quanto o trabalho, o informal quanto o formal, as regras flexíveis quanto as regras rígidas, e o prazer de participar com vontade e sinceridade (cooperando), mesmo sem poder ganhar, é tão importante quanto competir e vencer" (LIMA E COSTA, 1993, p.48). E é nessa visão de educação que pretende-se desenvolver uma estrutura de aula que enfoque tanto o caráter lúdico quanto o comprometimento, disciplina e seriedade dos alunos em relação à capoeira.
AMPUDIA, R. “Meu Mestre (Marquinhos Simplício)”. Assis Notícias, 2008. Disponível em http://www.assisnoticias.com.br/site/?p=blog&id_colunista=16&id_blog=335. CAPOEIRAGEM DA BAHIA. [s.n.]. 2004. DIA NACIONAL DO CAPOEIRISTA (8a FESTA). Capoeira Acáda. Campinas. [s.n.]. 2010. GRUPO DE CAPOEIRA ANGOLA CRISPIM MENINO LEVADO. Encanto e Magia. Campinas: Estúdio Cajueiro. 2011. 1 disco sonoro. IPHAN. Dossiê: Inventário para registro e salvaguarda da capoeira como patrimônio cultural do Brasil. Brasília. 2007. LIMA, L.A.N. & COSTA, E.T. Os jogos recreativos nas aulas de capoeira In SILVA, G.O. Capoeira: do engenho à universidade. 1993. São Paulo: O Autor, 1993. PASTINHA! Uma vida pela capoeira. Produção de Antônio Carlos Muricy. [s.n.]. 1999. SILVA, E.L. O corpo na capoeira: Breve panorama: estórias e história da capoeira. v.2. Campinas, SP: UNICAMP, 2008.
O presente projeto amplia e fortalece o diálogo entre UFVJM-Campus Mucuri e a sociedade ao possibilitar a convivência e troca de conhecimentos e experiências entre moradores da comunidade externa, discentes, docentes e técnicos da universidade. Apesar de não restringir a participação de pessoas de outras localidades, a divulgação do projeto será focada nos bairros do entorno ao campus do Mucuri, promovendo maior integração entre a universidade e a comunidade local, que é geográfica e economicamente periférica na cidade de Teófilo Otoni. Tal integração valoriza a diversidade entre os participantes, que carregam variadas bagagens culturais e diferentes experiências de vida. Ao compartilharem o interesse pela capoeira e aprenderem em grupo diversos elementos de sua prática, os participantes interagem trazendo múltiplos elementos para o diálogo, podendo, inclusive, propor atividades e temas diversos para discussão, seja em rodas de conversas estruturadas ou mesmo na convivência espontânea durante as aulas (vide metodologia para maior detalhamento sobre a dinâmica das aulas e seu caráter dialógico). Pela própria natureza da capoeira, cuja prática é inerentemente coletiva, a convivência proporcionada pelo projeto contribui para a divulgação para a sociedade das atividades de Ensino-Pesquisa-Extensão desenvolvidas pela UFVJM pelas diferentes perspectivas de seus estudantes, professores e técnicos. Ressalta-se ainda que o desenvolvimento das atividades no ginásio poliesportivo visa acolher os moradores do entorno no seio do campus Mucuri, permitindo que se integrem com organicidade à vivência cotidiana da universidade pública. Por fim, é de suma importância mencionar que a própria capoeira, por suas raízes históricas, suscita reflexões e debates sobre a realidade atual vivida pelos seus praticantes, dentro e fora da universidade, como racismo, desigualdade econômica e social, etc.
O amplo histórico de trabalho do Grupo de Capoeira Angola Crispim Menino Levado ilustra a concepção do Grupo de que a capoeira, pela sua própria natureza, pode se constituir em instrumento de extrema relevância para a formação humana, por permitir trabalhar com os alunos elementos interdisciplinares de música, expressão corporal, luta, dança, história, inclusão social, além de exercício físico capaz de desenvolver as potencialidades dos praticantes de forma lúdica. Essa rica gama de ferramentas socioculturais permite ainda aos praticantes desenvolver habilidades interpessoais fundamentais para o exercício de inúmeras outras atividades, inclusive profissionais.
O projeto tem um potencial catalisador do caráter de indissociabilidade do tripé universitário de Ensino-Pesquisa-Extensão. A proponente é docente da FACSAE e leciona, entre outras disciplinas, Economia Clássica e Economia Política, tendo Mestrado pela Unicamp em Política Científica e Tecnológica e Doutorado em Economia Política Internacional pela KCL, em Londres. O proponente é Técnico em Laboratório de Biologia da FAMMUC, tendo atuado no recém-criado Laboratório Diagnóstico Covid-19 durante a pandemia, com Mestrado e Doutorado em Biologia Vegetal pela Unicamp e pós-doutorado pela Unesp, tendo sido pesquisador visitante no Kew Gardens, em Londres. A atuação em ensino e pesquisa dos proponentes com este projeto de extensão se dá pelo suporte do conhecimento acadêmico-formal ao estímulo constante à articulação entre os aprendizados dos discentes em sala de aula nos diversos cursos oferecidos pela FACSAE, ICET e FAMMUC, em suas pesquisas em nível de graduação e pós, com os ensinamentos e percepção dos benefícios da prática da capoeira angola. Reflexões sobre a relação potencial entre capoeira e saúde (física, mental, coletiva), meio ambiente, sustentabilidade, estrutura social de classes, tecnologia, ciência, diversidade, direitos humanos, etc. são estimulados não apenas do prisma da cultura popular - devidamente reconhecida e respeitada - mas também em seu diálogo com a ciência. Ademais e fundamentalmente, o tripé acadêmico se fortalece ao possibilitar a participação ativa da comunidade externa à universidade neste diálogo, contribuindo para sua democratização.
Capoeira Angola, uma manifestação artístico-cultural brasileira fortemente marcada pela ancestralidade e oralidade, tem o potencial de inserir os estudantes em práticas e metodologias de apreensão de conhecimento distintas daquelas acadêmico-formais, mas que são essenciais para compreender de maneira aprofundada a diversidade e complexidade da formação sócio-político-econômico-cultural do Brasil e refletir sobre as especificidades regionais. Além disso, espera-se que os discentes participem ativa e autonomamente na busca de textos acadêmicos e materiais de diversas naturezas (músicas, notícias de jornais e revistas, documentários, séries) sobre a origem dos variados elementos que compõem a capoeira e suas transformações ao longo da história, como por exemplo o processo de descriminalização da prática nos anos 1930 no Brasil, de internacionalização nos anos 1980, controvérsias contemporâneas sobre a diáspora negra, apropriação cultural, racismo estrutural, participação das mulheres e comunidade LGBTQIA+ na capoeira, etc.
Um dos fundamentos centrais da capoeira é a valorização da coletividade, seja no seio de um grupo (núcleo organizativo da prática e transmissão de saber) ou na interação entre diferentes grupos. Essa valorização emerge da própria natureza desta manifestação cultural, tendo em vista que só é possível praticar a capoeira em grupo, sendo a roda um ritual coletivo por excelência. Muito comumente o praticante se refere ao grupo ao qual pertence como sua família na capoeira e a seus companheiros de grupo como irmãos de capoeira, já que aprendem a capoeira com um mesmo Mestre. A vivência da capoeira promove, assim, em seus praticantes o senso coletivo que é chave para o exercício da cidadania, dentro e fora dos espaços de prática da capoeira. Esse senso coletivo também contribui para o fortalecimento da coesão social, que por sua vez tende a diminuir índices de violência, criminalidade, discriminação, etc., como comumente acontece em áreas carentes onde projetos culturais são desenvolvidos. Vale lembrar que o campus Mucuri localiza-se em uma área geográfica e economicamente periférica de Teófilo Otoni. Além disso, a apreensão dos vínculos da capoeira com suas raízes históricas, bem como sua relação com suas formas contemporâneas, estimulam seus praticantes a refletir sobre sua própria realidade e identidade, bem como a identificar e combater manifestações de racismo e opressão, ainda presentes na sociedade brasileira. Nesse sentido, a vivência dos participantes junto à capoeira colabora para a construção de uma sociedade que respeite e valorize a diversidade e combata ativamente a intolerância, constituindo um instrumento fundamental para a formação humana e cidadã.
A divulgação será feita para a comunidade interna (docentes, discentes e técnicos) ao campus do Mucuri através do email institucional (cartaz digital). A divulgação para a comunidade externa será feita por meio de cartazes impressos afixados nas escolas e entidades localizadas nas proximidades do campus Mucuri - UFVJM, dentre as quais podem ser mencionadas: a Cooperativa Aprender e Produzir Juntos (APJ), o Instituto Cultural In-cena, Creche Cantinho da Solidariedade, Escola Estadual Frei Antelmo Kropman. As inscrições serão feitas por formulário eletrônico ou pessoalmente no horário da aula. Esclarece-se que a divulgação para a comunidade externa por meio de cartazes físicos afixados em instituições públicas e entidades sociais nos bairros próximos ao campus e a possibilidade de se inscrever no projeto pessoalmente durante as aulas visam estimular a participação ativa do público-alvo, tendo em vista as conhecidas dificuldades de acesso à equipamentos eletrônicos e à internet pela população economicamente menos favorecida, que é o caso dos moradores dos bairros próximos ao campus.
Público-alvo
O público-alvo é a comunidade externa e interna à UFVJM. Apesar de não restringir a participação de pessoas de outras localidades, a divulgação do projeto para a comunidade externa será focada nos bairros do entorno ao campus do Mucuri, promovendo maior integração entre a universidade e a comunidade local, que é geográfica e economicamente periférica na cidade de Teófilo Otoni. O desenvolvimento das atividades no ginásio poliesportivo do campus do Mucuri visa acolher os moradores do entorno no seio do campus Mucuri, permitindo que se integrem com organicidade à vivência cotidiana da universidade pública e que sejam desenvolvidas relações dialógicas com os membros da comunidade interna (estudantes, técnicos e professores). Não há um perfil específico para participantes da comunidade externa ou interna: seguindo os próprios preceitos da capoeira, qualquer pessoa interessada na prática da capoeira angola e na cultura de matriz afrobrasileira pode participar, considerando o limite aproximado de 15 participantes ativos para viabilizar o acompanhamento próximo das atividades realizadas, sendo garantida aos membros da comunidade externa metade das vagas para participação no projeto. Não há restrição de idade (crianças de 6 anos ou menos devem participar em conjunto com o/a responsável), gênero ou mesmo condições físicas (um dos proponentes tem experiência em ministrar aulas de capoeira para pessoas com necessidades especiais, como mencionado na introdução deste projeto).
Municípios Atendidos
Teófilo Otoni - MG
Parcerias
Nenhuma parceria inserida.
Cronograma de Atividades
Carga Horária Total: 249 h
- Manhã;
- Tarde;
- Noite;
Incluem as tarefas administrativas e operacionais: elaboração e submissão do projeto, reserva do ginásio, divulgação do projeto, coleta das inscrições e comunicação com os participantes, preparação do espaço para eventual projeção de filmes e documentários, providenciar dispositivos para música durante as aulas, transporte e guarda dos instrumentos musicais, elaboração de relatório, etc. Essa atividade será executada majoritariamente pela Coordenadora do Projeto (1h/semana x 57 semanas = 57h), com auxílio da discente voluntária (0,5h/semana x 57 semanas = 28,5h).
- Tarde;
As aulas compreendem os seguintes elementos: Movimento corporal, musicalização e rodas de conversa (ver metodologia) As aulas serão ministradas pelos coordenadores do projeto aos interessados, com participação da discente voluntária e demais inscritos no projeto. Considerando toda a duração do projeto: 2horas de aula por semana x 57 semanas = total de 114 horas.
- Manhã;
- Tarde;
- Noite;
Por deter os conhecimentos ancestrais da prática da capoeira e de outras manifestações afrobrasileiras, além de experiência de vida na condução de aulas e de grupo de capoeira, a busca de orientações periódicas com o Mestre Marquinhos se faz necessária.
- Manhã;
- Tarde;
- Noite;
Para a continuidade à formação dos coordenadores do projeto no âmbito da capoeira angola e tiririca, faz-se necessária a imersão em vivências junto ao Mestre Marquinhos Simplício e demais membros do Grupo de Capoeira Angola Crispim Menino Levado no evento anual do grupo, que ocorre em sua sede. A programação inclui oficinas, rodas de capoeira angola e tiririca, samba de roda, samba rural paulista e rodas do conhecimento.