Os insetos se destacam como o grupo mais diverso do reino animal, sendo encontrados em virtualmente todos os habitats. Objetiva-se com este projeto, apresentar o mundo dos insetos a alunos de escolas públicas e privadas da educação infantil e do ensino fundamental do município de Unaí. Por meio de exposições itinerantes, esses animais serão usados como modelos biológicos para explorar temas relacionados à biologia, biodiversidade, ecologia, evolução, comportamento e sociabilidade, dentre outros.

Entomologia, feira de ciências, comunicação, conscientização ambiental, educação básica

Os insetos têm há muito interagido com o homem, havendo relatos de chineses explorando-os para a produção de mel e seda há mais de 7.000 anos. Dentre outras finalidades, os insetos são utilizados atualmente na medicina, nas indústrias farmacêutica e alimentícia, em terapias larvais, na produção de corantes, na alimentação humana e de outros animais, na polinização de lavouras e como agentes de controle biológico, principalmente de pragas agrícolas (van Lenteren 2012, Giannini et al. 2015, Meyer 2020). Além disso, o emprego de insetos como ferramenta didática na educação primária e secundária é uma atividade comum em várias partes do mundo, incluindo os Estados Unidos (Mathews et al. 1997, Golik & Heng-Moss 2013), países do Reino Unido (Ernst et al. 2012) e Austrália (Bugwise 2020). Nesses países, muitas exposições e até mesmo disciplinas voltadas para o treinamento de professores da rede de ensino fundamental são oferecidas com o intuito de integrar os insetos às ferramentas pedagógicas. Infelizmente, o emprego desses animais como modelos biológicos para o ensino de ciências, ecologia, física, robótica e diversos outros temas relevantes, ainda é incipiente no Brasil. Por quê? Talvez, as respostas surjam de diversas formas, embora as principais se resumam aos paradigmas errôneos a eles relacionados, quais sejam: são pragas, sujos, nojentos, asquerosos, mordem, são venenosos, transmitem doenças, etc. A perpetuação desse pensamento tem resultado no não aproveitamento de um material biológico riquíssimo, que poderia ser amplamente utilizado no sistema educacional brasileiro, visto que muitas espécies de insetos são benéficas, inofensivas, atrativas, fáceis de serem coletadas e criadas e são tão ou mais limpas que muitos itens que manuseamos diariamente. Introduzi-los a alunos da educação básica, apontando suas características típicas, bem como a distinção entre os grupos benéficos e prejudiciais ao homem, pode contribuir para quebrar esses paradigmas e auxiliar no processo de ensino e aprendizagem. No ano de 2020, o ensino fundamental no município de Unaí contava com 30 estabelecimentos de ensino, 519 docentes e 10.596 matrículas ativas (IBGE 2022). Nenhum desses estabelecimentos contempla, de forma ativa, o uso de insetos como ferramenta didática, logo poderão beneficiar-se da execução do projeto em questão.

De modo geral, os insetos são vistos na sociedade como algo prejudicial, que competem com o homem por recursos (espaço e alimento) e, às vezes, transmitem doenças. Besouros, lagartas, percevejos, formigas cortadeiras e gafanhotos são popularmente conhecidos como pragas por se alimentarem de diversas plantas cultivadas. Baratas, grilos, traças, moscas e cupins não raramente 'invadem' nossas casas, trazendo transtornos e mesmo prejuízos econômicos. A lista de doenças transmitidas por insetos, por sua vez, inclui a dengue, chikungunya, zica, malária, febre amarela, leishmaniose e chagas. Em que pesem esses pontos negativos, muitos insetos desempenham importantes 'serviços' à humanidade, destacando-se a produção de mel, própolis, laca, seda e corantes; a polinização de espécies nativas e cultivadas; a ciclagem de nutrientes à medida que se alimentam de resíduos animais ou vegetais; a atuação como fonte de alimento para diversos animais das cadeias tróficas nos mais variados ecossistemas; e o seu papel como agente de controle biológico de pragas agrícolas, em última instância contribuindo para a produção de alimentos. Introduzir os insetos a alunos da educação infantil e do ensino fundamental, apontando suas peculiaridades e as características que distinguem os grupos benéficos dos prejudiciais, ressaltando práticas que reduzam a população dos últimos, pode contribuir para desmistificá-los, ainda que a longo prazo. Além disso, a utilização dos insetos como ferramenta pedagógica, prática até então ausente nos estabelecimentos de educação básica do município de Unaí, permitirá uma abordagem lúdica e dinâmica de temas relevantes à ciência, à ecologia e ao convívio social. Ao difundir a entomologia, a execução deste projeto permitirá, ainda, que graduandos da UFVJM - Campus Unaí, sobretudo do curso de Agronomia, interajam com a comunidade local, aprimorando habilidades de pesquisa, oratória, argumentação e escolha de linguagem apropriada para divulgação de conhecimento para o público em geral.

Utilizar os insetos como modelos pedagógicos na educação básica de escolas públicas e privadas de Unaí; Desmistificar os insetos, por vezes vistos apenas como nocivos e prejudiciais; Propiciar a integração dos discentes e servidores da UFVJM à comunidade local.

Explorar o potencial pedagógico dos insetos na educação básica, abordando temas relacionados à bioecologia desse grupo de animais; Aguçar o interesse e curiosidade das crianças quanto à necessidade de preservação da biodiversidade; Trabalhar, na tenra idade, a conscientização quanto às medidas preventivas contra insetos transmissores de doenças; Integrar os discentes e servidores da UFVJM à comunidade local, propiciando o compartilhamento de conhecimentos.

A Mostra Itinerante de Insetos será realizada através da comunicação direta com o público, em especial o infantil. Para tanto, serão utilizados insetos vivos e mortos (preparados em coleções entomológicas) e material audiovisual (vídeos e links abertos da internet). Os insetos vivos que apresentarem algum risco (ex. moscas, formigas, abelhas, etc.), serão contidos em recipientes apropriados que garantam a segurança do público, ao passo que os inofensivos (lagartas diversas, larvas de Tenebrio molitor, gafanhotos, joaninhas, etc.) serão expostos ao contato direto. É possível que a mostra integre alguma atividade já prevista pela escola participante, como feira de ciências, data comemorativa, etc. Em todos os casos, o grupo de execução organizará alguns dos temas abaixo (dependendo da disponibilidade de material e do espaço cedido pela escola) em estações de exposição: - Insetos como modelos para o desenvolvimento industrial (design e mecânica, robótica, alimentícia, etc.): exemplares da tecnologia x insetos montados em coleções, iogurtes e outros produtos com corantes de insetos, roupas e filmes; - Insetos como modelos para ensino das ciências (diversidade genética, evolução, biodiversidade, desenvolvimento, reprodução, movimento, etc.): caixa entomológica demonstrando a diversidade de espécies e banner demonstrando a relação entre as espécies; - Insetos sinantrópicos (produtos armazenados em casa, baratas, formigas, cupins, moscas, mosquitos, etc.): recipientes contendo alimentos e insetos vivos associados e alimentos danificados por insetos; -Insetos como vetores de doenças para animais (homem e animais domésticos): insetos montados em coleções e recipientes de criação contendo larvas e adultos de mosquitos vetores; -Insetos polinizadores: caixa entomológica mostrando a diversidade de abelhas e banner mostrando a coevolução de insetos e flores, bem como gaiolas de acrílico contendo plantas floridas, borboletas e abelhas (preferencialmente sem ferrão); - Insetos benéficos para a agricultura (agentes de controle biológico, decompositores em geral): gaiolas com plantas, espécies fitófagas e inimigos naturais (joaninhas, percevejjos predadores, parasitoides, etc.) e terrários com insetos decompositores; -Insetos como pragas agrícolas: frutos e alimentos in natura atacados por insetos; -Inseticidas: necessidade, uso correto, equipametnos de proteção individual e banner mostrando os riscos e como minimizar os problemas; -Audiovisuais: exibição de vídeos de desenho animado e filmes como o 'Vida de Inseto', 'Inseturminha' e 'A formiguinha'. A depender do número de alunos em cada turma, esta será subdividida em grupos que passarão em rodízio pelas estações, o que permitirá agilizar o atendimento e a consequente participação de mais turmas. A avaliação será realizada pela equipe de execução do projeto mediante formulário de satisfação enviado aos professores responsáveis pelas turmas participantes, os quais poderão acessar/discutir junto aos alunos o impacto do evento no seu interesse e conhecimento sobre os insetos.

Bugwise, 2020. Bugwise - The Australian Musium. Disponível em <https://australian.museum/learn/teachers/learning/bugwise/>, acessado em 30/10/2020. Ernst, C., K. Vinke, D. Giberson & C. Buddle. 2012. Insects in education. In: R. Lamelin (ed.), The management of insects in recreation and tourism. Cambridge, Cambridge University Press, p. 289-305. Giannini, T.C., G.D. Cordeiro, B.M. Freitas, A.M. Saraiva & V.L. Imperatriz-Fonseca. 2015. The dependence of crops for pollinators and the economic value of pollination in Brazil. J. Econ. Entomol. 108: 1-9. Golick, D. A. & T.M. Heng-Moss, 2013. Insects as educational tools: an online course teaching the use of insects as instructional tools. Am. Entomol. 58: 183-187. IBGE, 2022. IBGE Cidades. Disponível em <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/unai/panorama>, acessado em 25/05/2022. Matthews, R.W., R.L. Flage & J.R. Matthews. 1997. Insects as teaching tools in primary and secondary education. Annu. Rev. Entomol. 42: 269-289. Meyer, J.R. 2020. General entomology: impacts of insects. Disponível em <https://projects.ncsu.edu/cals/course/ent425/library/tutorials/importance_of_insects/impact_of_insects.html>, acessado em 31/10/2020. van Lenteren, J.C.. 2012. The state of commercial augmentative biological control: plenty of natural enemies, but a frustrating lack of uptake. BioControl 57:1-20.

À medida que os graduandos da UFVJM serão os principais responsáveis pelas estações de exposição, eles poderão repassar às crianças parte dos conhecimentos adquiridos ao longo dos seus respectivos cursos.

Para se fazerem entender, os representantes da UFVJM envolvidos deverão se atualizar sobre os temas abordados e adequar a linguagem ao público alvo. Assim, poderão desenvolver habilidades de comunicação para repassarem informações complexas (ex., bioecologia, evolução, comportamento animal, controle de pragas e prevenção de epidemias) de forma simples e objetiva.

Todas as atividades estarão sob supervisão do proponente deste projeto, o qual instruirá previamente os graduandos envolvidos. Por meio deste, resultados de pesquisas contidos em artigos científicos serão debatidos junto aos graduandos envolvidos no projeto a fim de dar-lhes a fundamentação e treinamento adequados para levar tais informações ao público alvo.

Como já mencionado, os graduandos da UFVJM serão os principais responsáveis pelas estações de exposição. Até que as escolas sejam visitadas, serão preparados materiais didáticos e decorativos que despertem a atenção e curiosidade das crianças, como banners, cartazes e réplicas de insetos em isopor ou outro material de fácil manuseio. Também serão confeccionadas gaiolas de plástico ou acrílico transparentes que permitam a exposição segura de espécimes vivos, os quais poderão ser obtidos de criações próprias ou coletados a campo. As coleções entomológicas, acondicionadas em caixas de madeira com anticontaminantes e fechadas com vidro transparente, passarão por manutenção periódica para preservação dos exemplares. No dia anterior à exposição, membros da equipe executora irão preparar o espaço cedido pela escola participante, decorando-o de forma lúdica e dispondo as estações temáticas de forma a permitir um bom fluxo do público alvo.

A introdução dos insetos como ferramenta didática nas escolas atendidas permitirá aos professores do ensino básico explorar diversos temas junto aos alunos. A desmistificação dos insetos apenas como seres prejudiciais ao homem pode despertar nas crianças o senso de preservação da biodiversidade, bem como da conscientização quanto às boas práticas para prevenção de surtos de insetos vetores de doenças. Em ambos os casos, toda a sociedade se beneficia.

As ações serão divulgadas por meio de cartazes, redes sociais, imprensa e na página oficial do ICA.