Diferentes processos geodinâmicos podem ser deflagrados, devido às diferentes características das rochas, causando danos às adjacências. Nos últimos tempos, observou-se a necessidade de avaliações geotécnicas em atrativos turísticos naturais, para elaboração de medidas de prevenção e mitigação de desastres naturais. Diamantina é caracterizada por grande riqueza natural, atraindo inúmeras pessoas em busca de ecoturismo. A ação visa avaliar o grau de riscos geológicos nos balneários da cidade.

Risco geológico, balneários, turismo sustentável

Rochas e solos apresentam características e comportamentos geotécnicos muito variados. Quando associados a agentes, naturais ou não, podem deflagrar processos geodinâmicos, submetendo as adjacências a riscos geológicos. Sobreira (1991) ressalta que a estabilidade destes materiais é muito influenciada por aspectos regionais, como geomorfologia e clima. Macedo & Bressani (2013) salientam a importância de documentos adequados e atualizados que descrevam as características geomecânicas e considerações no tocante a suscetibilidade e aos perigos a riscos geológicos no uso dos solos. Nos últimos tempos nunca se consumiu tanto turismo em áreas naturais, como praias, trilhas, cachoeiras, entre outros. Estas estão inseridas, muitas vezes, em Unidades de Conservação, parques nacionais, estaduais e municipais. Entretanto, várias dessas áreas não detêm planos de manejo ou ainda o possuem de maneira incompleta. O acidente ocorrido em Capitólio – Minas Gerais, no início de 2022, alertou sobre a necessidade da realização de estudos geológico-geotécnicos nos atrativos turísticos naturais. Neste contexto diversas ações emergenciais para o reconhecimento, identificação e avaliação de riscos geológico nesses lugares foram realizadas, destacando-se as campanhas do Serviço Geológico do Brasil – CPRM, como Pedrazzi et al. (2022), Barros, et al. (2022), Oliveira et al. (2022) e Silva et al. (2022). O município de Diamantina, em Minas Gerais, tem grande importância histórica, sendo considera patrimônio mundial pela UNESCO, em 1999. A cidade também apresenta um grande patrimônio natural, caracterizado por belas serras, trilhas e cachoeiras, consistindo em um grande atrativo turístico. Nesse sentindo a Secretaria de Turismo de Diamantina propôs um projeto para estudo de risco e qualificação turística dos balneários de Diamantina, visando a identificação e avaliação de diferentes naturezas e graus de risco aos frequentadores dos principais balneários do município. A análise geotécnica desses atrativos naturais comporá os diversos outros estudos, que incluem riscos pluviais, fluviais, entre outros.

Macedo & Marindola (2018) comentam sobre o reconhecimento da importância da gestão de riscos geológicos, embasando-se nas ações da Organização das Nações Unidas (ONU), a partir de 19994, com iniciativas visando prevenção e redução de desastres naturais. A avaliação geológico-geotécnica das áreas ocupadas ou utilizadas pelo homem é de grande relevância, subsidiando a prevenção e mitigação de riscos naturais. Tal procedimento abrange aquisição de informações que objetivam a determinação da probabilidade de determinados eventos, magnitude e as potenciais consequências (UNO 2004). Tominaga (2007) ressalta que a necessidade de adotar ações adequadas de prevenção e gestão de risco para mapeamento de perigos geoambientais na esfera municipal é urgente. Com a intensa atividade turística em atrativos naturais, como cachoeiras e poços, no município de Diamantina se torna muito importante a realização de estudos dos riscos geológicos nessas áreas, para que além de gestão desses espaços, também haja a devida sinalização e indicação das potencialidades do atrativo natural visitado.

A ação visa o reconhecimento, identificação e avaliação de riscos geológicos dos principais atrativos turísticos naturais no município de Diamantina. Além de subsidiar as autoridades na prevenção e mitigação de risco geológico nesses atrativos e fomentar outros projetos como a sinalização de balneários do município. Como objetivos específicos têm-se: 1. Caracterização de maciços rochosos e terrosos associados aos balneários; 2. Identificação de feições de processos geodinâmicos pretéritos; 3. Localização de deflagradores de movimentos de massa; 4. Estabelecimento de hierarquização e classificação de riscos/perigos geológicos para os atrativos.

A ação tem como meta a investigação de características geológicas e geotécnicas de atrativos turísticos naturais no município, de modo a indicar as potencialidades e limitações dessas áreas, visando a deflagração de processos geodinâmicos que possam submeter frequentadores a situações de perigo. Neste sentido, espera-se que com base nessas informações medidas para a melhoria das condições de segurança nesses locais sejam implementadas.

Para a elaboração da avaliação geotécnica dos principais balneários de Diamantina serão realizadas as seguintes etapas de trabalho: Revisão bibliográfica: será realizado levantamento de dados nos acervos bibliográficos disponíveis para a região de Diamantina. Em primeiro momento a análise se dará nas bases cartográficas, regional e local. Posteriormente, a consulta buscará informações sobre o meio físico, como geologia, geomorfologia, pedologia, hidrografia e histórico de ocorrência de processos geodinâmicos e acidentes geológicos. Trabalho de campo: a campanha de campo realizada terá como finalidade a caracterização das da área, por meio do reconhecimento e descrição das rochas e solos, identificação de estruturas geológicas pertinentes na ocorrência de processos geodinâmicos (tombamento e queda de blocos, deslizamentos) e levantamento de indícios de processos superficiais, como erosão laminar, ravinamentos e movimentos de massa. Elaboração do relatório final: confecção do relatório apontando as potencialidades identificadas em cada um dos balneários, bem como a quantificação do grau de risco para os frequentadores.

• Barros, José Sidiney; Oliveira Filho, De J.S; Oliveira Filho, De I.B; Fernandes, R.J.A.R; Nascimento, J. R.S. 2022. Relatório técnico Cânion do rio Poti – Buriti dos Montes, Piauí. Relatório, no prelo. Teresina. Serviço Geológico do Brasil-CPRM. 64p. • Macedo, E.S. & Bressani L. A. (orgs). 2013. Diretrizes para o zoneamento da suscetibilidade, perigo e risco de deslizamentos para planejamento do uso do solo. São Paulo, Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental e Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, 88p. Relatório. Rio de Janeiro. Serviço Geológico do Brasil-CPRM. 48p. • Macedo, E.S. & Mirandola, F.A. 2018. Capítulo 37 - Gestão de riscos geológicos. In: Oliveira, A.M.S & Monticeli, J. J. (editores). 2018. Geologia de Engenharia e Ambiente, volume 3. São Paulo: ABGE, 279-300pp. • Oliveira, M. A. de, Andretta, E. R. Filho, I. B. O., Marmos, J. L. & Souza, A. G. H. de (Org.) 2022. Avaliação geotécnica nos atrativos geoturísticos de Presidente Figueiredo, AM. Relatório. Rio de Janeiro. Serviço Geológico do Brasil-CPRM. • Pedrazzi, A. C., Cunha, F.L.B; Dias, R. (org). 2022. Avaliação geotécnica da região dos cânions do Xingó. Relatório. Rio de Janeiro. Serviço Geológico do Brasil-CPRM. 98p. • Silva, L. F. M., Kuhlmann, L. G. & Ribeiro, L. M. A. L. (Org). 2022. Avaliação geotécnica nos atrativos turísticos no Paruqe Nacional da Serra da Canastra: São Roque de Minas e Delfinópolis, MG. Relatório. Rio de Janeiro. Serviço Geológico do Brasil-CPRM. 39p. • Sobreira F. G. 1991. Riscos geológicos: definição de pontos críticos em Ouro Preto. Revista da Escola de Minas, Ouro Preto, 44:213-223. • Tominaga, L. K. 2007. Avaliação de metodologias de análises de risco a escorregamentos: aplicação de um ensaio em Ubatuba, SP. FFLCH/USP: São Paulo, 240 p. (Tese de doutoramento). • United National Organization. 2004. Living with risk. A global review of desaster reducing (ISRD). Geneva, Switzerland. 152p.

A UFVJM foi criada para atuar como ferramenta de transformação social no norte de Minas Gerais, em especial nos vales do Jequitinhonha, Mucuri e São Francisco. A ação apresentada está inserida diretamente neste contexto, uma vez que visa colocar a serviço da sociedade conhecimentos geológicos presentes no âmbito do Instituto de Ciência e Tecnologia. A avaliação geotécnica que será desenvolvida neste trabalho é um item fundamental para o projeto desenvolvido pela Secretaria de Turismo de Diamantina intitulado "Estudo de risco e qualificação turística dos balneários de Diamantina".

As atividades relacionadas à geotecnia têm caráter interdisciplinar e interprofissional, conjugando conhecimentos e competências relacionadas à engenharia, meio ambiente e geologia. Essa pluralidade se expressará na avaliação geotécnica, objeto desta ação de extensão, uma vez que serão analisados em campo aspectos litológicos, pedológicos, geomorfológicos, estruturais e ambientais dos balneários do município, visando a identificação de riscos geológicos nestes atrativos turísticos naturais.

A Geotecnia é uma das principais sub-áreas da assim chamada Geologia Aplicada, em que os conhecimentos teóricos da geologia são aplicados, na prática, à resolução de problemas da sociedade humana. Como tal, a geotecnia é um excelente exemplo da interconexão entre ensino, pesquisa e extensão. Em relação à ação de extensão aqui descrita, menciona-se, por exemplo, que os dados levantados durante a ação serão utilizados em pesquisa de doutorado do proponente, atualmente em execução. Da mesma forma, os conhecimentos adquiridos na ação e subsequente tese retroalimentarão as reflexões apresentadas na disciplina Geologia de Engenharia, do curso de Engenharia Geológica da UFVJM.

Dentre as várias áreas que compõem o percurso pedagógico do curso de Engenharia Geológica, a Geotecnia se destaca por seu caráter aplicado, e por sua íntima associação com outras áreas de atuação, como a Engenharia Civil e Ambiental. A participação de graduandos na ação será extremamente benéfica, por demonstrar na prática a utilização de conhecimentos teóricos da Geologia na resolução e prevenção de problemas da sociedade.

O conhecimento sobre processos geodinâmicos e riscos naturais em atrativos turísticos naturais servirá como subsídio na organização de medidas de prevenção, mitigação e emergenciais frente a desastres naturais, evitando acidentes geológicos como o ocorrido em Capitólio - MG no início de 2022. Dessa maneira, o produto gerado terá aplicação visando a segurança dos frequentadores dos balneários de Diamantina, o que é de interesse público, conforme manifestado pela prefeitura do município.

O relatório da avaliação geotécnica será entregue à SECTUR e integrará o Relatório final do projeto Estudos de risco e qualificação turística dos balneários de Diamantina. O documento final será publicizado em evento público e ficará disponível para download no site da prefeitura Municipal de Diamantina. Posteriormente, este documento será expresso na forma de sinalização sobre os diferentes riscos aos frequentadores dos balneários do município.